Tatiane Fidélis é portadora de necessidades especiais e não faz disso um empecilho. Com talento, confecciona convites temáticos para ajudar no sustento da casa, mas precisa de uma impressora para dar continuidade aos projetos
CARATINGA- Uma mulher que dedicou a sua vida à filha e a mãe. Esta é a história de Maria Aparecida Inês, 46 anos, moradora do Bairro Esplanada. A história é de superação e muita luta.
Elas sempre viveram juntas, porém, no ano passado, a mãe, Efigênia Fidélis faleceu aos 75 anos. Agora, Maria mora somente com a filha Tatiane Aparecida Inês Fidélis, 26 anos. Tatiane é portadora de necessidades especiais e tem auxílio de uma cadeira de rodas para se locomover. Nada disso é empecilho para que ela ajude a mãe e desenvolva um talento nato.
A LUTA
“Sou mãe solteira, criei a Tatiane sozinha e Deus. Quando comecei a cuidar da minha mãe eu estava com 15 anos de idade, ela teve problema de pulmão; quando fez cinco anos que estava cuidado da minha mãe, tive minha filha. Quando a Tatiane fez seis meses adoeceu, tive que passar 24 horas saindo com ela, levando para o médico. Toda a vida era eu, ela e minha mãe, nós três éramos uma família, vivi para as duas”, recorda Maria Aparecida.
Maria Aparecida frisa que cuidou da mãe até o último momento. “Dormíamos ela no meio da cama, eu no cantinho da cama e minha mãe na beirada. Veio a acontecer uns fatos que não quero nem falar, prefiro nem dizer e minha mãe acabou adoecendo, ela e a Tatiane entraram em depressão, continuei cuidando”.
Como sempre se dedicou aos cuidados com as duas, Maria Aparecida não teve condições de trabalhar fora, por isso o sustento da casa era muito difícil. No ano de 2018 as coisas se complicaram, quando ela precisou fazer três mudanças de enderenço no espaço de 24 dias. O apoio da equipe do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) foi fundamental para lidar com o momento difícil que estava enfrentando. “Eu estava lá na roça, onde temos uma chácara. O Dr. Igor, a Dra. Mônica e o Dr. André ficaram sendo a minha família, porque a verdade tem que ser dita, meus irmãos nunca me ajudaram a cuidar da minha mãe. Vim para a rua, porque a equipe do Dr. Igor falou que eu tinha que mudar, não podia ficar mais na roça porque eu poderia vir a perder a minha filha e minha mãe”.
Já em Caratinga, mudou-se para a Rua Juca Lopes e precisou se desfazer de muitos pertences, para custear o aluguel. “Quando estava com poucos dias nessa casa, o Dr. André falou para mim que eu tinha que mudar da casa porque era úmido e por outras coisas, que acho melhor não falar. Fizemos outra mudança, tivemos que pagar mais R$ 550 na outra casa. Fiquei por dias com minha mãe, passando ‘gazinha’ na boca dela, porque ela já falava que não queria viver mais. O Walter da Autoescola levou cadeiras de rodas e de banho para mim, para ajudar com ela. No dia 29 de abril minha mãe faleceu, mas antes disso o Dr. Igor já estava me ajudando, dando maior apoio e atenção; o Emídio é amigo da minha filha desde os três aninhos de idade dela e ajudou muito também”.
De lá para cá, Maria Aparecida e Tatiane tem contado com o apoio de algumas pessoas para sobreviver. Ela cita algumas contribuições que têm sido fundamentais. “Muitas pessoas me ajudaram com as fraldas, pagar o aluguel, todas as despesas. Ficamos naquela situação, eu passei três anos sem dormir cuidando com maior carinho da minha mãe, ela e minha filha sempre foram meu tudo, minha família. Minha tia ajudou no velório, mas meus irmãos não me ajudaram com nada, abandonaram eu e a minha filha. Eles abandonaram, mas os amigos não. As conferências São Vicente de Paulo e Sagrado Coração de Jesus (Córrego do Calixto) estão me ajudando; o Johny vereador com a Casa de Amparo; e o Emídio que está me ajudando a pagar metade do aluguel, porque eu não posso encostar, tenho problema demais de saúde, mas a menina recebe o LOAS (Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social), marquei a perícia, mas como eu não gosto de mentiras, fui no INSS e conversei, me falaram que se eu encostar vão cortar o benefício da minha filha. Então, as pessoas começaram a me apoiar”.
TATIANE
“Minha filha é um anjo”. Assim, Maria Aparecida define Tatiane Aparecida. Ela conta que a filha foi alfabetizada pela professora Marly de Paula, que se tornou madrinha da jovem. “Quando ela entrou na escola com sete anos, foi rejeitada em Piedade de Caratinga. Ficou uns tempos fora da escola, depois aqui em Caratinga foi rejeitada de novo. Lutei consegui e ela foi até a 4ª série. Eu morava nessa mesma rua, porém lá em baixo, subia esse morro com ela no colo e minha mãe de lado. Levava, chegava na escola, 9h tinha o recreio e eu ia lá, ficava durante um tempo. A Marly tinha o maior carinho para ensinar ela, é como uma mãe para a minha filha”.
Tatiane nunca colocou empecilhos em sua vida. Sempre gostou de música, tem talento para as artes e fez questão de ajudar a mãe. No entanto, de acordo com Maria Aparecida, após o falecimento da avó, ela foi diagnosticada com depressão e sua situação de saúde piorou. “Antes ela sentava sozinha, andava de andador, escrevia muito, ficava ouvindo som e vendo televisão. Agora, ela vai perdendo os movimentos, está com um problema no intestino, sente dor 24 horas na barriguinha dela, não tem sensibilidade mais na perna esquerda e precisa da minha ajuda para tudo, tenho que sentar ela, deitar ela, depende de mim integralmente. Ela mexia com pintura de tela, parou tudo, agora que está voltando de novo, o pessoal está sempre incentivando a gente. Ela está movimentando mais só com a mãozinha direita agora, mas está com a mente boa. E todo médico que eu levo, eles falam que ela está com depressão profunda por causa da avó, foram anos de convivência, foi uma mãe vó que era o xodó. Ela ficava até 1h30 acordada comigo para poder ajudar a avó dela”.
A mãe tem incentivado a filha a se distrair um pouco. No momento, assistir televisão tem sido difícil, pois o equipamento está defeituoso. A música também não era possível já há algum tempo, pois Tatiane decidiu vender seu som e aparelho de DVD para ajudar a custear as despesas com a avó à época. “Quando a comadre Marly veio para fazer a visita para ela, trouxe um dinheiro para ela comprar até um par de roupas de presente de aniversário, porque estamos sem tudo. Mas, ela falou: ‘Mamãe, a madrinha trouxe dinheiro para eu comprar roupa, mas se a senhora puder, compra uma caixa para mim, porque não pode comprar um som né?’. Eu falei que tudo bem, que eu ia comprar, para ela poder ouvir a musiquinha dela”.
Com auxílio de um psicólogo, aos poucos Tatiane vai tentando retomar a rotina e o recomeço de fazer uma das coisas que ela mais gosta: a confecção de convites e elaboração de vídeos especiais, que são comercializados para ajudar no sustento da família. Utilizando apenas a mão direita, da qual tem mobilidade, a ‘menina’ capricha e faz trabalhos impressionantes. “Ela faz convites de aniversário, chá de fralda, casamento; vídeos de aniversário. É só Deus para dar esse talento para ela. Ela faz o vídeo, coloca música, mensagem, fundo. Ela nunca teve um curso, a única coisa que ela teve foi a comadre Marly que ensinou ela a ler e escrever. Mas, curso de pintura, tela, esses convites, ela não teve nada disso. É um dom que ela tem”.
No entanto, para prosseguir com as encomendas, elas têm encontrado uma dificuldade. Tatiane não tem uma impressora. “Ela faz os convites e eu tenho que levar para imprimir, porque não tenho condições de comprar a impressora para ela. Estou vivendo de conferência, graças a Deus, que é fiel, está no controle e não me deixou desamparada em momento nenhum. Ela tem o computador, mas agora deu um defeito e o amigo dela vai consertar, ele não cobra nada. Mas, os convites que ela faz tenho que tirar do salarinho dela para imprimir ou pego a metade do valor com a pessoa. Ela faz sonorização também, ela tem o cliente dela. Esta semana passamos, na loja do amigo dela, do Azenildo da Papelaria São Paulo. Ela comentou com ele que o jornal ia vir aqui e ele disse que vai ajudar a comprar. Ele nos entregou um papel com o nome da impressora”.
O nome da impressora foi entregue ao DIÁRIO. Trata-se do modelo EPSON L3150, multifuncional, com scanner integrado que serve para digitalizar documentos e permite também a realização de fotocópias. Assim, além da impressão dos convites, a família teria outros meios de renda, a partir de serviços adicionais, como xerox e impressão de documentos.
Quem desejar contribuir para a aquisição desta impressora ou outras despesas, pode entrar em contato com pelos telefones (33) 99959-9161 (falar com Maria Aparecida); (33) 99978-3427 (falar com Tatiane).