- Eugênio Maria Gomes
Recentemente, o jornalista Roberto Dias publicou um artigo na Folha de São Paulo com o título “Nossa Elite é nossa Tragédia”. No artigo, o jornalista constata, através de pequenos exemplos, quase cômicos, que a maior mazela brasileira é sua Elite. Para ele essa seria a explicação de o Brasil – um país abençoado, livre da fúria de terremotos e furacões, dono de uma natureza exuberante, de um povo alegre e inovador, sem guerras e sem conflitos étnicos internos -, ainda se arrastar no subdesenvolvimento e permanecer longe de oferecer ao seu povo condições de vida dignas, como ocorre nos países avançados.
A palavra Elite tem muitos significados na Política e na Sociologia. Aqui, a utilizamos, principalmente, no sentido que lhe foi dado por Robert Dahl, o conceituado cientista político da Universidade de Yale, como “grupo minoritário que exerce dominação política sobre a maioria, dentro de um sistema de poder democrático”. Mas, o termo também significa uma referência genérica a determinados grupos, que ocupam elevadas posições hierárquicas, em diferentes instituições públicas, partidos ou organizações de classe, ou seja, pode ser entendido simplesmente como aqueles que têm capacidade de tomar decisões, influenciar e implementar políticas ou estabelecer determinadas ações econômicas.
Pode ainda se referir às pessoas ou grupos capazes de formar ou difundir opiniões que servirão como referência para os demais atores sociais, exercendo uma espécie de liderança natural. Porém, qualquer que seja o significado que adotemos, lamentavelmente, chegaremos à mesma conclusão que o colega jornalista da Folha: a Elite brasileira é uma tragédia.
Nossa Elite política só nos envergonha. Encastelada em seus gabinetes de aço e vidro, ou reunidas em seus plenários impregnados de conchavos e acordos espúrios, protagonizam episódios de puro horror. Em todos os países onde o Parlamento é bicameral, o Senado – denominado Câmara Alta, costuma reunir o que se tem de melhor da classe política de um País. O Senado Brasileiro, por anos a fio, foi composto por políticos ilustres, acadêmicos reconhecidos, grandes juristas, enfim, personagens dos quais podíamos nos orgulhar. Rui Barbosa, Juscelino Kubitschek, Duque de Caxias, Afonso Arinos, Teotônio Vilela, Mário Covas. Hoje, o que vemos? Um Senado repleto de senadores acusados dos mais variados crimes. O episódio recente onde o Senado reintegrou Aécio Neves, depois de o Supremo Tribunal tê-lo afastado diante de inequívoca prova material na qual o Senador é gravado praticando crime de corrupção, fala por si só.
Nossa Elite econômica é retrógrada, rentista, racista. Pratica um capitalismo antiquado, dependente do Estado, o qual subverte e do qual se apropriou. Nossa elite é avessa à competição, embriagada com práticas comerciais vexatórias. Parte dela é quase escravocrata, como se constata pela edição da recente Portaria Ministerial, onde praticamente se esvaziou qualquer possibilidade de coibir-se a pratica do trabalho escravo do Brasil. Um retrocesso absurdo. Não é por acaso, aliás, que muitos senadores são latifundiários, representando Estados onde essa prática medieval de vassalagem ainda persiste.
Nossa Elite universitária é apática. Incapaz de impedir a degradação e o desmantelamento das Instituições de Ensino Superior públicas. Parte dessa Elite dedica-se a idolatrar ideologias políticas superadas e ainda, utopicamente, gastam energia na tentativa de implementar uma sociedade igualitária pela via revolucionária, como se ainda estivéssemos no século XIX.
Nossa Elite cultural é pobre de criatividade, de inovação. Estagnou-se na mediocridade musical, na mediocridade literária. Na lista de Best Sellers a maioria dos livros é de autoajuda; nas rádios, a maioria das músicas é uma afronta à inteligência ou aos ouvidos. Chegamos ao cúmulo de vermos o Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, a mais conhecida cidade do País, símbolo do Brasil no Mundo, negar-se a receber, nos museus da cidade, uma exposição de pintura que, segundo ele, seria “um estímulo às práticas sexuais degradantes”. Até acho que a tal exposição é de mau gosto, mas não se proíbe a exposição de arte em ambientes fechados, até porque somente entra em um recinto para ver uma mostra aquele que quer fazê-lo, ninguém é obrigado a visitar qualquer exposição de arte que seja. Isso tudo aconteceu no Rio, sem que a nossa elite cultural saísse às ruas para denunciar esse ato de ignorância atroz. Ao ler essa notícia, lembrei-me dos Talibãs, que demoliram estátuas milenares no Afeganistão por não representarem o Deus que eles achavam ser o único. Só falta esse Prefeito proibir a circulação do Kama Sutra por achá-lo pornográfico…
Sim, infelizmente, estamos mal servidos de Elite. Por todos os lados, estamos cercados do que há de pior exemplo a seguir. Precisamos nos reinventar, derrubar essas estruturas arcaicas, carcomidas, corrompidas e antiquadas que nos cercam, e reconstruir nossos valores, nossos ideais e, principalmente, os exemplos a seguir.
Enquanto essa mudança de rumo não acontece, temos que dar razão a Demétrio Sena: “Elite é uma minissociedade de pessoas educadamente mal educadas… gentilmente grosseiras… civilizadamente selvagens.”
Eugênio Maria Gomes é professor e Pró-reitor de Administração da Unec. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni e presidente da AMLM- Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas. É membro do Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG, Colunista do Jornal Diário de Caratinga, diretor da Unec TV e apresentador de programas de televisão nas emissoras Super Canal TV, TV Sistec, Unec TV e TV Três Fronteiras, no Vale do Mucuri.