Há oito anos, quando estava prestando vestibular para Ciências Biológicas e Recursos Naturais na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) foi o mesmo ano em que o Painel Intergovernamental de Mudanças no Clima (IPCC) lançou seu quarto relatório sobre os impactos dos seres humanos no clima.
Neste relatório havia projeções para o futuro da sociedade e nele descrevia muito bem tudo aquilo que estamos vivenciando atualmente, somente oito anos após sua publicação.
A partir deste momento a minha percepção de mundo e da nossa responsabilidade mudou. Os anos se passaram e atualmente faço parte de um grupo minoritário que detém informações sobre como será nosso futuro frente as atuais mudanças que estamos passando no clima.
Desta forma, é minha responsabilidade buscar formas de informar o máximo de pessoas possíveis sobre o que está por vir.
A cada semana temos uma nova confirmação de projeções que nos leva a um futuro muito difícil. No mês passado foi divulgado, através de uma reunião com os representantes do IPCC no Lawrence National Berkeley Lab. (LNBL), em Berkeley, a questão dos impactos das mudanças do clima em cidades em todo o mundo. Sendo mais específico a questão de dias e noites mais quentes.
Esse aumento de temperaturas pode ocorrer de forma mais rápida, através das ondas de calor que podem ocorrer no verão de um hemisfério, e de forma lenta pelo aquecimento da atmosfera e da superfície.
Os especialistas descreveram algo que vem se desenvolvendo e tem se mostrado ser bem sério e que vidas estão sendo perdidas.
Na última grande onda de calor que percorreu a Europa, acredita-se que a mesma foi responsável pela morte de 700 mil pessoas nesta região. Especialistas fizeram esse trabalho com apoio de hospitais em diversos países através da coleta de dados sobre as causas das mortes durante este período anômalo.
Desta forma chegaram a uma conclusão não muito boa para todos. Tem-se que com o aumento da temperatura durante o dia, afeta o conforto térmico do indivíduo, que passa por um estresse durante todo o dia. Caso o mesmo indivíduo passe por noites quentes o estresse corporal continua. Posteriormente, o estresse térmico por seguidos dias pode reduzir a capacidade de defesa do organismo e este estará mais susceptível a diversas doenças.
Acredita-se que o aumento de 1°C durante o dia e a manutenção durante a noite pode dobrar as chances de adoecer e, devido à gravidade, falecer.
Ao cumprir com a minha responsabilidade ao informá-los sobre a realidade que nos atormenta e o futuro com tantas incertezas que teremos, é minha responsabilidade sugerir quais caminhos a seguir. No entanto, não tenho tanta certeza disso.
No mesmo momento em que cada vez mais pessoas tem conhecimento do tema, a parcela das que buscam mudar suas rotinas para preservar nosso futuro só tem diminuído.
A esperança vai ao chão quando confrontamos a realidade, em que todos que estão crescendo têm sonhos e outras só querem aproveitar mais um pouco.
A verdade é que ninguém, ou a maioria de nós, abriria a mão de dinheiro e conforto por outras pessoas que nem mesmo conhecemos e que vivem no outro lado do mundo, mas que já estão sofrendo com essas terríveis mudanças na sua vida.
Hoje admito, não podemos mais retornar para o clima que tínhamos há apenas algumas décadas atrás. Enquanto não abrirmos mão de estarmos numa zona de conforto ou esta estiver ameaçada, como através da crise da hídrica, nós não mudaremos nossas concepções. Mesmo se mudarmos seria tarde demais.
A partir de hoje começa uma nova etapa. Em que poderemos viver e saborear os frutos da nossa derrota, irresponsabilidade e incoerência que o clima tratará de nos proporcionar.