Thaíse Lannes fala como o jiu-jitsu a levou aos Emirados Árabes Unidos
DA REDAÇÃO – Na edição da última terça-feira (22), o DIÁRIO publicou a matéria ‘Atleta caratinguense de jiu-jitsu brilha nos Emirados Árabes Unidos’. A notícia foi muito acessada nas nossas mídias sociais e os leitores tiveram a curiosidade de saber mais sobre a caratinguense que está tendo reconhecimento em terras tão distantes. O texto dizia que Thaíse Lannes Tiola, 24 anos, foi medalha de ouro no Fujairah International Pró Jiu-jitsu Championship, campeonato promovido pela Federação de Jiu-jitsu dos Emirados Árabes Unidos (UAEJJF).
Thaíse foi para os Emirados Árabes Unidos em 2016 acompanhando o esposo Vitor. O casal tem o filho Ahyan e eles vivem em Abu Dhabi. Hoje ela treina e luta profissionalmente pela equipe Dhafra Club Jiu-jitsu e é um destaque da ‘arte suave’, levando ao mais alto patamar o nome de Caratinga. Pois como Thaíse Lannes costuma dizer, “a excelência não é um ato, e sim um hábito”.
Quando o jiu-jitsu entrou em sua vida?
Em 2012, no Movimento de Vida, em um projeto social da 2ª Igreja Presbiteriana de Caratinga.
Como surgiu a chance de ir para os Emirados Árabes Unidos?
Através de uma firma que tem em sua finalidade, atrair e gerenciar atletas de jiu-jitsu nos UAE. Após várias entrevistas, meu noivo (Vitor J. Teixeira), foi selecionado e chamado para trabalhar, eu ainda em processo seletivo vim logo em seguida.
Porque o jiu-jitsu brasileiro é tão respeitado nos Emirados Árabes Unidos?
Em um lugar repleto de mesquitas e forte presença religiosa, o jiu-jítsu é tratado como sagrado. Obrigatório nas escolas e nas Forças Armadas, a “arte suave”, agora, é praticada pela Polícia. A demanda, que vem crescendo nos últimos anos, virou salvação para os atletas brasileiros, que têm um novo eldorado, capaz de dar estabilidade financeira e reconhecimento profissional.
Se mudar para uma país com hábitos tão diferentes pode ter sido um pouco difícil. Como foi seu processo de adaptação?
No início foi bem difícil, muito calor e ainda me arrastando no inglês, ainda sem saber o que podia e o que não podia se fazer em relação aos costumes daqui, confesso que demorei certo tempo para me adaptar. Mas com muito trabalho e dedicação fui aos poucos conhecendo a cultura e me interagindo, hoje sei que a cultura é diferente, mas ao mesmo tempo é receptiva e respeitosa.
Como é sua rotina de treinamentos e o seu dia a dia?
Faço dois treinos por dia basicamente todos os dias, treino de força que é muitíssimo necessário, cardiorrespiratório para conseguir manter o ritmo nas competições e por fim, o jiu-jitsu com muitas repetições.
A impressão que temos é que cidades como Dubai e Abu Dhabi representam algo glamoroso, alto padrão de vida. É assim mesmo?
Em Dubai e Abu Dhabi, tudo tem seu charme. O povo árabe de fato é um povo muitíssimo rico, mas a vida dos trabalhadores aqui tem seus extremos. A maioria dos moradores são os trabalhadores que vieram de outros países. Altos salários e boas condições de trabalho trazem enormes fluxos de pessoas para trabalhar, principalmente no setor de serviços.
O jiu-jitsu não é somente uma arte marcial, existem questões filosóficas também. O que aprendeu com o jiu-jitsu que você usa no seu cotidiano?
O jiu-jitsu nos ensina acima de tudo a disciplina e o respeito ao próximo. Na filosofia do jiu-jitsu, há uma dimensão grandiosa na espiritualidade, associada ao samurai, que representa força de ir pra guerra sem medo, coragem, honra, disciplina e acima de tudo: respeito, humildade e lealdade. Um verdadeiro samurai reconhece em si mesmo as suas fortalezas, mas reconhece prioritariamente as suas fraquezas, porque só assim ele é capaz de evoluir.
Dentre os esportes que mais ganham adeptos no Brasil está o jiu-jitsu. Por que as pessoas estão procurando tanto essa arte marcial?
Pra questão física o jiu-jitsu é ótimo porque tem os treinos funcionais, nas lutas a gente queima uma quantidade enorme de calorias. Falando fisicamente isto é ótimo para as mulheres, sem contar com a questão da defesa pessoal que é muito importante e para a mente é uma excelente forma de se livrar do stress.
Apesar desse crescimento, o jiu-jitsu ainda não é um esporte olímpico. O que está faltando para vermos o jiu-jitsu nas Olímpiadas?
Encontrar uma resposta para a pergunta “por que o Jiu-Jitsu não é olímpico?” requer muita pesquisa e convicção para não falar qualquer coisa. Em minha opinião, elevar o esporte a este patamar, ainda é uma tarefa muitíssima árdua, apesar de comprovada eficácia da arte marcial, ainda sofremos muito com relação a vários leigos no assunto, que nos difamam como um esporte violento, sem saber sequer quais os nossos fundamentos. Pensar em algo tão grandioso como ter o nosso Jiu-Jitsu Brasileiro fazendo parte dos Jogos Olímpicos pode ser algo como passar a guarda do mestre num treino de rotina na academia, difícil e nem sempre possível, mas não há nada de errado em querer isto. Não há nada de errado em sonhar com coisas boas para o nosso esporte.
Qual seria a orientação para uma pessoa que quer começar a praticar o jiu-jitsu?
Treinar o jiu-jitsu como iniciante pode ser uma tarefa desafiadora. Para muitos, apenas entrar em uma academia pela primeira vez para treinar pode ser intimidante. Deixar um estranho segurar você para aplicar uma chave não é algo que a maioria das pessoas faz diariamente. No entanto, quando você começa a treinar, isso é exatamente o que você está fazendo. Para iniciantes, o treinamento também pode ser frustrante às vezes. Pode ser difícil começar sempre levando a pior no combate. Mas infelizmente, não há uma fórmula mágica que possa dizer-lhe como eliminar completamente esses desafios iniciais. É parte do processo de aprendizagem. No entanto, existem algumas dicas que podem fazer com que esses desafios se sintam um pouco menos pesados e que podem ajudá-lo a avançar para o próximo nível um pouco mais rápido. Ter atenção, paciência e respeito são pontos chaves para quem quer começar. Se você está iniciando no jiu-jitsu ou mesmo recomeçando em uma nova academia, esqueça o que viu, ouviu e assistiu antes sobre jiu-jitsu. Dê um “reset” momentâneo em sua memória e se concentre nos ensinamentos de seu professor nesta primeira etapa. Somente depois desta primeira introdução acrescente a seus estudos outras fontes de aprendizado.
Obrigado pela entrevista, quais são suas considerações finais?
Bom, gostaria de agradecer pela oportunidade de estar podendo divulgar um pouco mais este esporte que tanto amo e que me abriu as portas para o mundo.
Em Caratinga, quando comecei tive muitas dificuldades em praticar jiu-jitsu. A modalidade em questão era muito difícil para mulheres, devido ao baixo número de adeptas. No início era apenas eu e minha irmã mais nova (Duda Lannes), treinando. Depois quando começou a aparecer resultados que até aquele momento pareciam ser inimagináveis, foram surgindo mais alunas, mas mesmo assim creio que o número de atletas no feminino ainda é muito baixo.
E para finalizar gostaria de enfatizar que o que caracteriza o atleta não é a medalha, e sim a prova. A constante batalha de encarar desafios e vencer adversidades com determinação, dia após semana, após mês, após ano. A excelência não é um ato, e sim um hábito. Por isto, o verdadeiro atleta não ruge apenas na arena, ele vive como um.