* Caio César de Farias Gomes
Parafraseando Foucault, só poderemos compreender a loucura, se vivenciarmos o processo denominado de empatia.
Além de ter vivenciado o desenvolvimento da diabetes tipo I em crianças e adolescentes no processo psicoterapêutico, trabalho este que tenho grande orgulho, tive também uma grande missão aos 23 anos de idade, quando fui diagnosticado como dependente insulínico.
Minha história com a diabetes se inicia assim, primeiramente “senti na pele”, e posteriormente me interessei no campo da pesquisa e aprofundamento da doença.
Os primeiros momentos após o diagnóstico foram desafiantes, sofridos e muitas vezes rebeldes, sendo vivenciada a negação, a sublimação e por fim o luto.
A experiência na clínica proporcionou a compreensão e as descrições das fases muito comuns nos portadores de diabetes, que tem grande influência no desenvolvimento da doença.
Ser diferente, possuir necessidades especiais, disciplinar-se, aceitar-se e ter responsabilidades, não é tarefa fácil para ninguém, quanto mais para uma criança ou adolescente, e é nesse processo que se faz essencial o acompanhamento psicológico, para o portador de diabetes e principalmente a família, que possui um papel importantíssimo no tratamento.
Sabemos de todo processo orgânico que ocasiona a diabetes tipo I, também do tratamento insulínico e até mesmo de mecanismos modernos como os chips, para auxiliar e proporcionar uma vida saudável.
O que muitas vezes não sabemos é a importância dos aspectos emocionais, hábitos saudáveis e rotinas esportivas no tratamento da diabetes tipo I. Não é raro conhecermos pessoas que aos 80 anos vivem perfeitamente bem, até mais saudáveis do que outras que não possuem a diabetes, e infelizmente, não é difícil vermos também, pessoas jovens que por ter tido uma vida desregrada e confusa, tão cedo apresentam complicações que podem levar à morte.
Ser diabético é sim diferente, porém, ser diferente é um desafio, e desafio são para poucos. A grande missão que recebi, é sem dúvidas criar novas possibilidades de tratamento para o diabético tipo I, sendo o trabalho interdisciplinar essencial, onde não somente o medicamento é importante, mas principalmente a acessibilidade, as oportunidades e novos padrões de comportamentos para uma vida saudável.
Alguns paradigmas precisam ser quebrados, é possível viver bem com diabetes tipo I, é possível viver sem compulsão, e quando se percebe, estará mais saudável do que muitas pessoas que nunca preocupou em se cuidar.
Quando descobri meu diagnóstico tive medo, achei que tudo seria diferente, que me tornaria mais fraco e até que não poderia ter convívio com outras pessoas, uma vez que não poderia me alimentar como os outros.
E sabem o que descobri? Minha vida mudou sim, voltei a frequentar a academia, aumentei minha massa magra, meu percentual de gordura foi a 8%, conquistei o torneio universitário de Futsal pelo curso de Engenharia Ambiental, com direito a gol na final, tive sucesso profissional, iniciei novos cursos os bons e velhos amigos ainda são os mesmos, e moderadamente, posso até tomar minha cervejinha rs… Enfim, me tornei uma pessoa melhor, perdi algumas e com certeza ganhei outras pessoas importantes em minha vida, e hoje, ninguém pergunta se tenho diabetes, mas sempre que possível, tenho orgulho de dizer que sim, eu tenho.
* Caio César de Farias Gomes é Psicólogo com Especialização em Saúde Mental, Especialista em Psicologia do Trânsito, é Professor e coordenador do Curso de Segurança do Trânsito do Centro Universitário de Caratinga.