* Eugênio Maria Gomes
Ontem, dia 30 de maio de 2015, tomei posse como membro da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni -, juntamente com a nossa excepcional escritora, expressão maior da nossa Literatura, Marilene Godinho.
Uma comitiva de amigos, de Caratinga, se fez presente na belíssima e concorrida solenidade: Alfredo Pena, Almério Pereira, Ângela Lage, Ângelo Rodrigues, Daniel de Souza Arcanjo, Eduardo Gomes, Francisco Bomfim Pereira, Hélio Nonato Júnior, Hélio Amaral, Heloisa Chálabi Freitas, Humberto Luiz Salustiano Costa, Geralda Maria Gomes, Geraldo Elísio Fontoura, João Victor Gomes, José Henrique Lage, Indiara Imaculada Gonçalves, Laurizete Rodrigues, Lígia Reis Matos, Marcos Inácio, Maria Eugênia Gomes, Maria de Lourdes Pereira, Marília Chálabi, Mário Soares, Morena Gomes, Neyde Rihan, Norma da Conceição Silva, Odiel de Souza, Patrícia Costa Freitas, Sandra Ramalho, Sebastião Fausto, Silvia Moreira, Sônia Araújo, Vanda Leles, Vilma do Rosário Quirino, Wanderlei Dornelas, Wanderlei Otoni e Willian Ribeiro.
A solenidade também contou com a agradável presença de amigos residentes naquelas bandas, como o Padre Joel Ferreira da Silva e o Coronel Petrônio Dantas Vieira.
São misteriosos os ventos do destino e as trilhas da vida. Como saberia, um menino, ainda a aprender as primeiras vogais, a banhar-se sorrateiramente no Rio Matipó, na pequena cidade onde nasceu, que, em certa noite de alegria, estaria na companhia de tão ilustres pessoas, de tão queridos amigos, em ocasião ímpar como aquela?
Sim. São misteriosos os ventos do destino. Mas eles não agiram sozinhos… Tiveram a participação do querido amigo, colega das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, Jornalista, Presidente do Sistema Caratinga de Comunicação, Presidente Honorário do MAC – Movimento Amigos de Caratinga e membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, Humberto Luiz Salustiano Costa, cuja indicação – aprovada pelos diletos Acadêmicos daquela augusta instituição – tornou possível minha presença naquele momento, na concorrida solenidade acontecida na Câmara Municipal da cidade.
“Tenho apenas duas mãos, mas com elas, tento traduzir o sentimento do mundo.” Assim, parafraseando Drummond, aproveito este momento para definir o que é ser um Escritor. Como todas as definições, porém, essa também é falha, incompleta. As palavras nem sempre são capazes de expressar com exatidão, todo o contexto não verbal da comunicação. Talvez aqui, no entanto, resida toda a beleza da Literatura: ela se completa, se aglutina à imaginação e aos sentimentos do leitor, e forma um todo novo, diferente do que pensou e sentiu o escritor, diferente a cada leitor! Uma obra nova, a cada olhar, e, às vezes, uma obra nova, lida pelo mesmo leitor, mas num momento diferente.
O mundo que o Escritor tenta traduzir nem sempre é colorido. Nem sempre é róseo ou dourado. Às vezes é cinzento como a dor; às vezes é turvo como o preconceito; às vezes é púrpura, como o sangue.
O mundo que ele tenta traduzir em palavras passa por momentos difíceis.
Homens perdem suas vidas, numa travessia desesperada em busca da sobrevivência. Sucumbem no Mare Nostrum, lembrando que ainda hoje, tristemente, há espaço para “as tétricas figuras”, vistas por Castro Alves, no Navio Negreiro!
Homens perdem sua liberdade diante da ganância de outros homens. Perdem sua dignidade diante do preconceito, perdem sua identidade, diante de intolerância às múltiplas diversidades de credo, de gênero, de etnia, de classe…
Mas, não é só com maldade e com perfídia que se comporta o Homem. Perfeito na criação, perdido na rebeldia, o Homem caminha em sua jornada, ainda como uma obra inacabada. Nele há rabiscos, há rascunhos. Mas nele também há uma profunda capacidade de reinventar-se, de reescrever-se, de alterar rumos, de rever ideias, de recompor perdas, de evitar sua aniquilação.
E nesse contexto de idas e vindas, esgueirando-se nas entrelinhas da “Divina Comédia” vivida pelo Homem, o Escritor tem a difícil missão de retratar em palavras, em versos ou em prosa, os incomensuráveis matizes da psiquè humana!
Essa Arte, o manuseio dessa expertise, requer mais do que o domínio da Gramática e do Léxico. Essa Arte requer, antes de tudo, o conhecimento das entranhas da alma humana. Saber o que nelas há, seus anseios, suas dúvidas, suas dores, suas alegrias…
Sabendo-as, ele consegue, com disciplina, audácia e destemor, traduzi-las em palavras. Ora duras. Ora suaves. Ora belas e doces. Ora amargas. O Escritor não lida apenas com palavras, com rimas, com letras. O Escritor lida com emoções. O que escreve é capaz de provocar no leitor os mais diversos sentimentos. Ele é capaz de conduzir os leitores à reflexão, à saudade, à alegria, à esperança e, até, ao pranto.
O Escritor, de posse da pena e do papel, ou agora, do teclado e da tela que são os instrumentos de seu ofício, também é agente de transformação da realidade, pois denuncia, expõe as mazelas sociais, critica comportamentos, instiga mudanças.
Um escritor – assim como você – é um Ser em construção! Ao primeiro Tijolo assentado vão se somando outros, milhares, postos por todos que fizeram ou fazem parte da sua história…
* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.