*Eugênio Maria Gomes
Próximos do aniversário de 30 anos da COP – a reunião anual de signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) -, percebemos que não houve avanços significativos, se quisermos, de fato, melhorar as condições da nossa Casa Comum.
Se tomarmos por base apenas um dos inúmeros pontos que precisam ser cuidados na questão ambiental, como por exemplo, as condições sanitárias do Brasil, cujas metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento prevê que todas as localidades brasileiras devem atender 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgoto até 2033, o último senso apontou que cerca de 40% dos brasileiros ainda não têm acesso ao serviço de esgotamento sanitário.
E a COP30 será realizada no Estado do Pará, onde apenas 10% da população tem acesso a condições sanitárias ideais. Não que o estado não possa receber este evento – talvez isso até o ajude a resolver este tipo de problema, mas apenas para mostrar o quanto estamos atrasados. Uma questão que não é privilégio dos paraenses, mas de boa parte da população brasileira, com menor incidência nas regiões Sul e Sudeste, mas ainda assim com muitos problemas, a exemplo do estado do Rio de janeiro, o terceiro mais populoso e um dos mais ricos do país, onde 89,1% da população é atendida com água potável e 65% com coleta de esgoto, enquanto apenas 54,8% desse esgoto é tratado.
E o descuido em relação à água é, apenas, um dos grandes problemas que afligem o Brasil e o planeta… A sustentabilidade tem passado ao largo das reais preocupações de seus inquilinos, focados há décadas na economia e nos produtos que ela consegue produzir para o seu bem-estar, cada vez mais exigentes e menos preocupados com os reflexos que a produção desordenada desses bens causam ao meio ambiente.
Os que são da minha geração – cuja juventude passou-se no final dos anos sessenta, início dos anos setenta -, sabem o significado dos tais “milagres econômicos” e de como as suas consequências foram e continuam sendo danosas ao meio em que vivemos. Uma geração que acreditava no futuro e que via no Século XXI, ainda distante, um período cheio de possibilidades. O crescimento econômico acelerado proporcionou uma rápida mudança na estrutura do país e, finalmente, deixávamos de ser um país agrário e dávamos passos largos para a industrialização. Naquele tempo, ter o título de país industrializado significava pertencer ao primeiro mundo, e usufruir de todas as maravilhas da civilização moderna…
Carro, casa, geladeira, televisão a cores, telefone… Crescemos cultuando o ter, o possuir, o gastar e o consumir. Um mundo onde a Natureza estava a serviço do Homem. Ali, ao lado. Pronta para ser usada. Pronta para ser transformada. Rochas e terra se transformando em ferro e aço. Árvores e campos, dando lugar a estradas, cidades, fazendas. Gado, muito Gado. Fábricas. Muitas Fábricas. Petróleo. Muito Petróleo. Sim, o amanhã seria próspero. Seríamos ricos. Possuiríamos muitas coisas. Uma pena que não levamos em conta algo fundamental: o conceito de desenvolvimento sustentável.
O Brasil e o Mundo de hoje são muito diferentes daquilo que pensávamos. Minha geração, as que a antecederam e algumas que vieram depois, esqueceram-se de que as necessidades da geração presente não podem impedir que as gerações futuras supram as suas. Embora esse conceito tenha sido paradoxalmente delineado em Estocolmo, no ano de 1972, na primeira conferência da Organização das Nações Unidas sobre o meio ambiente, primeira grande reunião internacional para discutir as atividades humanas em relação ao meio ambiente, só o estamos discutindo, verdadeiramente, agora, obrigados que somos por conta das respostas dadas pela natureza ao nosso descaso com o uso dos recursos naturais.
Sim, passamos a discutir o conceito de desenvolvimento sustentável, entendido como o desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de atenderem às suas próprias necessidades, buscando conciliar as reivindicações dos defensores do desenvolvimento econômico com as preocupações de setores interessados na conservação dos ecossistemas e da biodiversidade. Uma tentativa de conciliar dois grandes interesses, aparentemente antagônicos, já que toda atividade econômica humana impacta negativamente no sutil equilíbrio natural. Um impacto que pode ser atenuado se a utilização dos recursos naturais for feita de forma inteligente e eticamente comprometida com o bem-estar da Humanidade como um todo, desta e das futuras gerações.
É necessário que todos nós desenvolvamos ações relacionadas à sustentabilidade. E isso é possível, sem termos que voltar a morar em cavernas ou a banhar-nos em rios. Mas o preço é alto, pois significa uma mudança radical nos hábitos. Precisamos aprender a utilizar os recursos vegetais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio sempre que necessário. Garantir a preservação total de áreas verdes não destinadas à exploração econômica.
Precisamos implementar ações que visem ao incentivo à produção e o consumo de alimentos orgânicos, pois estes não agridem a natureza, além de serem benéficos à saúde dos seres humanos, combatendo o agronegócio destrutivo. Precisamos iniciar, imediatamente, o uso de fontes de energia limpas e renováveis e diminuir o consumo de combustíveis fósseis. Esta ação, além de preservar as reservas de recursos minerais, visa diminuir a poluição do ar. Precisamos desenvolver atitudes voltadas para o consumo controlado de água, evitando, ao máximo, o desperdício. Precisamos, também, adotar medidas que visem à não poluição dos recursos hídricos, assim como a despoluição daqueles que se encontram poluídos ou contaminados.
Tudo isso é possível. A Tecnologia necessária já existe. São medidas praticadas em muitos lugares, mas ainda em escala insuficiente para reverter o desastre que se aproxima. Com certeza, a questão ambiental é, hoje, o maior desafio já enfrentado pela espécie humana. Para vencermos esse desafio, precisaremos vencer primeiro as maiores tentações da nossa espécie: a Cobiça, a Soberba, a Inveja, a Luxúria e a Gula. Não é à toa serem estas alguns dos nossos pecados capitais!
Que a COP30 sirva para obrigar os responsáveis a prover a infraestrutura mínima necessária para a sustentabilidade do planeta e que leve a população do país a refletir sobre o bom uso da Casa Comum, a partir da utilização responsável dos recursos naturais, dos quais ela é a guardiã.