Resolvi bancar a jornalista e fui entrevistar algumas pessoas. Perguntei alguns pais sobre o que esperam da educação escolar dos filhos. Quando fazem a matrícula, o que eles querem? A grande maioria das respostas perambulou pelo “quero que meu filho aprenda”, “quero que meu filho seja alguém na vida”, “quero que meu filho tenha condições de entrar para a universidade”. Até as mamães da educação infantil vislumbram o futuro adulto que seu filho será e contam com a escola para lhes ajudar. Fui atrás de alguns professores e fiz a mesma pergunta: “o que você espera da educação escolar que oferece aos seus alunos? Encontrei respostas do tipo: “quero que sejam adultos conscientes”, “bons cidadãos”, “que estejam preparados para a vida”, “que estejam prontos para enfrentar o mundo e os desafios”, “quero que eles aprendam”.
Nada de errado com as respostas. Mas percebo que o trabalho de educação escolar, perpassa por expectativas muito subjetivas. Consciência, cidadania, preparação para a vida e para a própria universidade, são expectativas complicadas de acompanhar, monitorar, reavaliar e atribuir responsabilidade. Uma profissão precisa de responsabilidades definidas. Será que falta clareza para os objetivos da educação escolar?
Tratando da educação como trabalho profissional, penso que a subjetividade embora sempre presente, não pode conduzir o barco. Falta-nos objetividade. Clareza de onde queremos, podemos e devemos chegar. Pergunto a um professor do 6º ano, quantas horas/aula por ano ele tem com seus alunos e como ele divide esse tempo de ensino. Isso contando os feriados, semanas de provas (que não contam como ensino). O olhar dele ficou perdido.
Walter Riso, autor do livro O Direito de Dizer Não, escreveu: “Mantenha os pés em terra e busque focar na vida como ela é.” O professor precisa de chão, pé na terra. Estou falando de objetivos claros. Consciência de realidade e meta. Ter clareza de quantas horas por ano terá de ensino e desse tempo levantar hipótese do quanto ele conseguirá de atenção sustentada para o ensino. E ensinar o que? De forma objetiva, organizar o tempo disponível em prioridades, objetivos reais de ensino. Certo de que, algum coordenador ou disciplinário vai interromper aquele grande momento da aula, e colocar o objetivo daquele dia a perder. Faz parte! Engole o choro e caminha!
Quando saberei que estou com os pés em terra e com objetivos claros? Quando eu conseguir responder quanto tempo tive com os meus alunos, como organizei o ensino, que habilidades foram aprendidas, não foram aprendidas e as habilidades que estão sendo consolidadas. Quando eu tiver coragem para provar que ninguém ensina um conteúdo programático extenso com uma aulinha de 50 minutos semanais. Quando eu responder, por exemplo, que a habilidade de levantamento da informação implícita no texto informativo foi consolidada ou não e poder dizer: “Esse objetivo é meu. Estou trabalhando nisso!”
Clareza do caminho traçado, clareza do caminho alcançado. Honestidade para consigo mesmo e paz para continuar.
E a subjetividade? Segue seu caminho, adornando a história. Marcando os alunos em momentos inesperados. Aquela conduta louvável que ninguém sabe direito quem ensinou, mas está lá, coroando a nossa profissão.
Profª Zilanda Souza – Neuropsicopedagoga