Helenice B. Aredes S. Santana
Constituindo o maior grupo de problemas de saúde mental durante a infância, os transtornos de ansiedade são os quadros mais comuns em crianças e jovens com uma prevalência entre 4% e 20%, principalmente no sexo feminino, em idade pré-pubertária, sendo que a Ansiedade Generalizada ocorre mais frequentemente em adolescentes. Manifestação de tais transtornos na infância tem sido preditor de transtornos de ansiedade na vida adulta e pode criar impacto na trajetória do desenvolvimento e interferir na capacidade de aprendizagem, causar efeitos significativos no funcionamento diário, assim como no desenvolvimento de amizades e nas relações familiares.
Fatores constitucionais (genéticos) e sócio familiares podem estar implicados no desenvolvimento dos transtornos de ansiedade. Autores relatam maior probabilidade do desenvolvimento de tais transtornos em filhos de pais que também recebam o diagnóstico, crianças com o temperamento inibido e tímido, acontecimentos de vida adversos, funcionamento familiar que modele aprendizagens ansiogênicas, assim como a inabilidade de cuidadores em reduzir reações de medo. Pais excessivamente exigentes ou demasiadamente flexíveis ou permissivos também constituem um fator de risco, principalmente para o TAG.
Qual a diferença entre medo e ansiedade?
Tanto o medo, quanto a ansiedade podem constituir reações normais a situações adversas ou de perigo. O medo permite ao indivíduo afastar-se de um risco real; a ansiedade assume o mesmo papel protetor, ainda que surja na ausência de um estímulo ameaçador, colocando-se no campo da antecipação.
Podemos compreender a ansiedade como uma sensação de medo, incômodo atado a uma aflição, resultada de uma antecipação de algo desconhecido que está por vir. É uma resposta normativa concebida para facilitar a autoproteção, com o foco particular do medo e da preocupação, variando de acordo com o desenvolvimento da criança e suas experiências anteriores
Quando passam a ser patológicos?
Tanto a ansiedade quanto o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma, naquela faixa etária, e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo.
Como se caracterizam os Transtornos de Ansiedade na Infância?
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM–5 (APA, 2014), os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados.
Ainda segundo o DSM-5 (APA, 2014), os transtornos de ansiedade diferem-se nos tipos de objetos ou situações que induzem medo, ansiedade, comportamentos e pensamentos relacionados à ansiedade. Dessa forma, são divididos em fobia específica, transtorno de ansiedade social, transtorno de pânico, agorafobia, ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade de separação e mutismo seletivo. Os dois últimos possuem maior incidência na infância, sendo o mutismo seletivo mais comum em crianças menores do que em adolescentes e adultos.
Como o Transtorno de Ansiedade Generalizada se manifesta?
A ansiedade tem sua expressão em quatro dimensões bem definidas: emocional, comportamental, cognitiva e o corporal. O transtorno de Ansiedade Generalizada, pode se manifestar através de preocupações excessivas, incontroláveis e múltiplas, habitualmente relacionando-se com competência, acontecimentos futuros e desconhecidos, aprovação, catástrofes e pontualidade.
As preocupações excessivas e incontroláveis podem estar relacionadas a diversos aspectos da vida e que, quando patológica, a ansiedade, leva o paciente ao desenvolvimento de estratégias compensatórias para evitar o contato com aquilo que lhe causa temor. Com frequência, os indivíduos afetados engajam-se em estratégias de enfrentamento mal-adaptativos (p. ex., esquiva) com o objetivo de reduzir sua ansiedade e evitar os resultados temidos.
As crianças com o transtorno tendem ainda a se preocupar excessivamente com a qualidade de seu desempenho, competência na escola ou eventos esportivos, mesmo quando não estão sendo avaliadas sendo que os diálogos internos de crianças ansiosas são pontuados por previsões e expectativas catastróficas de enfrentamento malsucedido. Podem ser excessivamente conformistas, perfeccionistas e inseguras, apresentando tendência a refazer tarefas em razão da excessiva insatisfação com um desempenho menos que perfeito. Durante o curso do transtorno, o foco da preocupação pode mudar de uma preocupação a outra.
Os sintomas podem incluir hipervigilância em relação a detalhes antes de iniciar tarefas, evitação ou procrastinação em atividades que desencadeiam ansiedade, assim como busca excessiva por reasseguramento. Diante dos prejuízos cognitivos, comportamentais e sociais ocasionados pelo TAG, à criança que não se estabelecer o tratamento adequado, os transtornos de ansiedade podem persistir e piorar durante a adolescência e início da idade adulta, exibindo um curso crônico.
Tem percebido alguma dessas características nas crianças com as quais você convive? Procure ajuda especializada. Quanto antes a ansiedade for tratada, maior qualidade de vida nossas crianças apresentarão.
*Psicóloga pelo UNEC, Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental com ênfase em Infância e Adolescência pela UNIFIA, Especializanda em Neuropsicologia Clínica pela CENSUPEG, Formação Avançada em Análise do Comportamento Aplicada, curso de Formação em Terapia de Reciclagem Infantil (TRI) e introdução a Terapia do Esquema.