De volta à escola, de volta a faculdade numa mesma semana. Ouvi alunos secundaristas e alunos do curso de graduação em Pedagogia. Falamos de cenários. Falamos de “ocupação”. Ocupar um lugar. O lugar do estudante, o lugar do professor, o lugar do médico. Sempre brinco dizendo que ninguém vai sentar em seu lugar se você ocupá-lo com sabedoria e dedicação. Apenas cadeiras vazias são ocupadas.
Num desses encontros estávamos em formato de equipe multidisciplinar, numa aula de Educação e Saúde. Aliás, abro parênteses para parabenizar a universidade por essa disciplina no projeto curricular do curso de Pedagogia. Eu não tive a benção de tê-la na minha graduação. Naquela roda estavam ocupadas as cadeiras da Hebiatria, Psicologia, Psicopedagogia e Pedagogia. O assunto em debate era a adolescência, os transtornos que envolvem o processo de aprendizagem, (especialmente o TDAH e suas comorbidades), os caminhos para o tratamento e o processo educacional desses garotos e garotas.
A cadeira da pedagogia, lindamente ocupada por aquelas estudantes, começou a borbulhar de questões: medicalização? A quem encaminhar? Quais as melhorias visíveis no tratamento? Qual é o trabalho no Centro de Atenção Psicossocial da Infância e da Adolescência (CAPSI)? Choveram perguntas e choveram respostas. Por um tempo saúde e educação debatiam em cadeiras separadas. Como se a missão fosse entregar o indivíduo tratado para a escola e a mesma exercer seu papel de educar e ensinar. Até que nos permitimos experimentar a arte da interação. A educação se interessou pela saúde e a saúde levantou olhos brilhantes para a educação.
E se nós pensássemos sobre o tratamento desses garotos perpassando também por um manejo profissional especializado dentro do espaço escolar? E se questionássemos a formação do professor para lidar com desenvolvimentos diferentes dentro da sala de aula? Será que a ideia da padronização não anda “boicotando” o tratamento dos nossos meninos com dificuldades ou transtornos? Não devíamos repensar a frase “Joãozinho não consegue acompanhar a turma”? Nossa escola é um ambiente que promove saúde?
Lembrei-me do livro que atualmente é um dos meus alvos de estudo – Tratado de Neuropsiquiatria – onde o autor afirma que o ambiente pode influenciar positiva ou negativamente no tratamento de crianças ou adolescentes com TDAH. Já não eram mais cadeiras isoladas! A ideia de meninos e meninas “consertadas” pela saúde para se adequarem ao padrão da escola, parecia cair por terra.
Mexíamos e remexíamos em nossas cadeiras. Estávamos todos dentro de um quadro de “hiperatividade do bem”! Olhávamos uns aos outros com cumplicidade dizendo: “meu trabalho precisa de você e eu posso ser útil ao seu trabalho. Juntos, podemos fazer uma sociedade melhor!”
Saímos daquela universidade com esperança, borbulhando de ideias, amando ainda mais as cadeiras que escolhemos pela vida afora e compreendendo um pouco mais que nossa ocupação responsável e investida de conhecimento faz muita diferença.
Para mim, o famoso #ocupatudo nunca fez tanto sentido como naquela noite!
Profª Zilanda Souza – Neuropsicopedagoga
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