(Noé Neto)
Devo admitir que novela não é algo que me chama a atenção, mas por uma dessas peças que a vida nos apronta, “Liberdade, liberdade” exibida recentemente na TV aberta brasileira, contando a história de luta dos “rebeldes” contra a coroa portuguesa na busca pela independência do Brasil, foi uma obra que conseguiu me prender diante da tela.
O que mais me chamou atenção é que todos os capítulos dessa novela eram passados no Brasil colônia, mas traziam temas extremamente atuais.
A política do tapinha nas costas e do sorriso estampado no rosto na presença dos súditos fieis, era substituída por tramas nos gabinetes, sempre na tentativa de encontrar formas de arrecadar mais impostos, retirar direitos e de alguma forma se sustentar no poder. O julgamento e a condenação dos homossexuais, retirando-lhes o direito à felicidade, em nome de Deus. A exclusão social dos negros, tratados como seres inferiores, única e exclusivamente pela cor da pele. A violência contra as mulheres, tratando-as como meras serviçais dos desejos masculinos. Todos estes temas e outros mais foram abordados na telenovela.
Contudo, de toda a trama, uma cena específica me chamou muita atenção. Os rebeldes, não sustentando mais os abusos da coroa portuguesa, estavam reunidos, organizados, prontos para lutar contra os dragões da coroa na tomada de Vila Rica. À frente do grupo: um menino, um bandoleiro, uma prostituta e a personagem Joaquina, filha de Tiradentes, juntos em busca da tão sonhada liberdade.
Em meio a famosa política de pão e circo, enquanto alguns vibram com as mortes na forca e algumas migalhas de pão, distribuídos as custas dos impostos exorbitantes pagos pelo povo, outros, descontentes com a situação doam a vida e lutam sem medo, em função da libertação. Aqueles que viviam às margens da sociedade, cansados de não terem vida, no sentido concreto da palavra, passavam a ser personagens de uma grande história, de uma luta por independência.
Forçada, quase imposta pelos rebeldes, a independência veio, mas veio carregada de aspas, pois não há independência sem qualidade na saúde, sem acesso a educação, sem segurança, sem liberdade. O pior é que paralelo a chegada da independência muito se foi, pois daqueles personagens pouco restou, quase nada resistiu aos embates da atualidade.
Pouco existe do menino Caju, um jovem cheio de desejos de garra e desprovido do medo de lutar. Ainda se encontram muitos bandoleiros, mas poucos com a palavra do mão de luva, que arriscava perder a mão sã para não deixar um inocente ser condenado injustamente. Estão faltando pessoas com o extinto protetor da prostituta Virgínia, que se desdobrava para dar uma vida com o mínimo de dignidade possível àquelas de quem todos os direitos foram retirados e que são julgadas pelos mesmos que as colocaram nessa situação. Precisamos urgente de mais Joaquinas, que mesmo com a corda no pescoço tenham coragem de gritar por liberdade.
Diante da garra e bravura destes personagens só consigo me sentir envergonhado pela inércia que nos consome impedindo que lutemos com todas as armas para alcançar a tão sonhada independência e atingir a desejada liberdade.
Prof. Noé Comemorável
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel