Romperam-se duas barragens em Minas Gerais. Não, não foram duas barragens de água, mesmo porque a maior parte do nosso estado está sem água, até, para as atividades mais simples. A ocorrência foi bem pior: romperam-se duas barragens de lama tóxica!
Episódio triste e vergonhoso! Só Minas mesmo! O estado líder em desmatamentos, que não se preocupa com a qualidade e quantidade dos resíduos que são lançados nos rios que abastecem as suas casas, que deixa secar as suas nascentes, para ter em seu território barragens de lama… Lama Tóxica!
Alguns corpos foram encontrados e outros, inclusive de crianças, provavelmente jamais serão encontrados, soterrados que estão pela irresponsabilidade de governos, de políticos, de empresários e, também, de certa forma, se não pela conivência, pela omissão de cada um de nós, cada vez mais preocupados em ganhar, ganhar e ganhar dinheiro, mesmo que, para isto, o planeta exploda e a raça humana pereça, pois, afinal, “quando este dia chegar, eu já não estarei mais aqui mesmo”.
A primeira informação de que a lama não era tóxica foi divulgada à exaustão pela mídia, especialmente pelas redes de televisão que recebem gordas quantias da empresa a título de “publicidade”. Durou pouco: por onde a lama foi passando, o rastro de sua destruidora toxidade ficou evidente através da assustadora mortandade de peixes e de animais que viviam em função dos rios por onde ela correu.
Também, imediatamente após o rompimento das barragens, empresários, veículos de comunicação e órgãos ligados ao meio ambiente e à defesa civil, colocaram-se a postos para informar todo o cuidado da empresa com a segurança das barragens, apresentando laudos, relatórios de vistorias e outras parafernálias, procurando amenizar culpas e transferir a responsabilidade ao acaso, ao sobrenatural. Não colou. Por último, chegaram informações da Rede Sismográfica Brasileira – que monitora abalos terrestres no país -, dando conta da ocorrência de vários tremores na região de Mariana, durante o rompimento das barragens.
Ora, ora… Tanto faz se todos os procedimentos de segurança foram tomados, se a empresa é cumpridora de seus deveres, se é grande empregadora, se gera divisas para o país, se os laudos estavam em dia… Não faz a menor diferença se ocorreram ou não tremores de terra, se caíram raios, se um disco voador bombardeou as barragens… O que importa é que pessoas morreram sim, que uma comunidade inteira estava abaixo e no caminho daquela lama, que foram ouvidas preces de dor, que o homem abriu um buraco na terra para guardar resíduos tóxicos, em uma quantidade que jamais poderíamos imaginar existir, não fossem as imagens aterrorizantes da lama percorrendo cidades, transpondo estados e destruindo o que foi encontrando pela frente.
Quantas barragens de lixo terão que se romper para que Minas Gerais mude a sua maneira de lidar com o meio ambiente? Em 2001, os rejeitos da Mineração Rio Verde, em Nova Lima, mataram cinco pessoas e assorearam seis quilômetros de um córrego; em 2007, os rejeitos da barragem da Mineradora Rio Pomba, em Cataguases, atingiram mais de 1200 casas, nos estados de Minas e Rio de Janeiro, desalojando cerca de 4 mil pessoas, além de provocarem graves consequências ao meio ambiente; ano passado, em Itabirito, o rompimento de uma barragem soterrou e matou trabalhadores e causou grandes danos ambientais e, agora, as barragens de Mariana se rompem e causam esta tragédia de consequências, ainda, totalmente desconhecidas, mas sabidamente prejudiciais à vida. O pior: das 750 barragens de rejeitos existentes em Minas – isso mesmo, 750 BARRAGENS DE RESÍDUO TÓXICO -, 35 encontram-se, segundo levantamentos da Fundação Estadual de Meio Ambiente, operando em condições inseguras.
Este triste, irresponsável e catastrófico incidente ocorrido em Minas reflete o ambiente que vivemos, hoje, no Brasil: um mar de lama! Roubos, mau uso da Coisa Pública, negociatas, bravatas, mentiras sucessivas ao povo brasileiro. Quebraram o país em benefício próprio e estão quebrando as empresas por conta do pífio resultado de seus desmandos, de seus desgovernos.
E nós, assim como fazemos em relação ao episódio das barragens, nos entristecemos sim, rezamos e, até, reclamamos de vez em quando. Só isso! Infelizmente, parece, aprendemos a viver na lama… Parece até que gostamos de viver assim…
A República sucumbiu às ambições mais sórdidas de políticos e empresários os quais, em busca de poder e de dinheiro, submetem o país a tudo e a todos, sem a menor preocupação com as gerações futuras que pagarão um preço altíssimo pelas mazelas que hoje eles provocam… “Pois a ambição dos homens é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensam no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”.
Hoje, dia 15 de novembro de 2015, quando comemoramos 126 anos do brado de Deodoro da Fonseca, é triste dizer, mas, todos os sinais indicam que a nossa República está atolada, até o pescoço, em um mar de lama!
- Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da UNEC – Centro Universitário de Caratinga. Secretário de Cultura do Grande Oriente do Brasil – Minas Gerais (GOB-MG) e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.