*Claudia Silveira Domiciano
No início, muitas vezes passa despercebido, depois, o nomeamos como “mania”, mas, com o tempo, o que era tolerável e comum, passa a incomodar o outro e a si mesmo. Em casa, na escola, no trabalho, no convívio social, não existe lugar.
Usando como ponto de partida os estudos de CORDIOLI (2017), é possível compreender que o TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo era uma doença pouco conhecida até à década passada e que, citando o autor, “o TOC era uma doença rara que atingia em torno de 0,05% da população, ou seja, uma em cada 200 pessoas” CORDIOLI (2017). A partir do desenvolvimento de novas pesquisas, a ideia que a comunidade científica e que a população leiga tinha sobre o TOC foi mudando progressivamente. Hoje é possível saber que o transtorno é, de fato, muito comum na população, seguindo novamente Cordioli, “afetando cerca de 2,3% das pessoas ao longo da vida”. CORDIOLI (2017). Baseado nesse cálculo, feito em estudo, é possível inferir que o transtorno afeta cerca de 3 milhões de pessoas, hoje, no Brasil. O problema torna-se grave visto que muitas pessoas que desenvolvem a doença ao longo da vida, não conseguem identificar a presença do transtorno, ou seja, comportam-se habitualmente de determinada maneira por longos períodos de tempo, desconhecendo serem portadores do transtorno. Sendo assim, quando procuram ajuda já se foram longos anos convivendo diariamente com os rituais obsessivos e com pensamentos repugnantes e indesejáveis.
A preocupação obsessiva com a limpeza de objetos e partes da casa ou locais de convivência, higiene pessoal como a lavagem obsessiva das mãos ou o uso de produtos desinfetantes, a conferência exagerada de, por exemplo, trancas de janelas e portas, localização de objetos e a simetria são apenas algumas das ações consideradas sintomas do TOC e que podem facilmente ser confundidas com hábitos, que na realidade não são saudáveis.
O TOC é um transtorno de ansiedade, no qual os aspectos principais são a ocorrência repetida de obsessões e/ou compulsões de gravidade suficiente a ponto de consumir tempo, (mais de uma hora por dia) e/ou causar sofrimento acentuado ou prejuízo funcional. (DSM-IV-TR; APA, 2000).
Sua característica principal é a presença de pensamentos, imagens recorrentes e persistentes seguidos de atos repetitivos que são realizados como forma de proporcionar o alívio. É considerado um transtorno mental grave e sua prevalência habitualmente inicia-se no final da adolescência. Se não identificado e tratado corretamente, o TOC segue por toda a vida até que voltemos para uma percepção sobre até que ponto é pertinente considerar as ações como mania, e quando podemos ter o olhar mais assertivo de que se trata da doença e requer tratamento para melhoria da qualidade de vida do indivíduo e seus familiares.
O TOC é um transtorno que apresenta obsessões que, na realidade, são alterações no pensamento ou evitações, que são configuradas como mudanças no comportamento e podem ser de ordem emocional como, por exemplo, a ansiedade e o medo.
Portanto, são muitas as situações em que temos de distinguir o transtorno de um estado de mania, porque o TOC apresenta-se de maneira silenciosa, desenvolve-se com os anos e manifesta-se de fato mais à frente quando os sintomas passam a incomodar não somente o próprio indivíduo, mas também as pessoas mais próximas como familiares e os amigos. Os sintomas tornam-se graves quando começam a interferir na rotina do paciente e, automaticamente, passa a ficar perceptível às pessoas do seu convívio, pois os comportamentos passam a ficar observáveis dentro de cada contexto.
Mas por que uma pessoa manifesta esse transtorno? Quais as causas do TOC? Não temos ainda respostas para essas perguntas, pois as causas ainda são de certa forma desconhecidas e se não conhecemos as causas, então temos dificuldade em promover a cura. Dessa maneira, quando o paciente entra em um equilíbrio, é necessário trabalhar com a prevenção de recaídas, pois os sintomas podem voltar a se manifestar em algum momento da vida.
Além da medicação que é indicada e ministrada pela ala da psiquiatria, a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), um ramo de estudos da Psicologia, tem mostrado uma série de resultados considerados positivos no avanço do tratamento da doença. Na TCC são utilizados exercícios de prevenção e exposição para serem feitos pelo paciente como tarefa de casa com o objetivo de apontar, diagnosticar e tratar as distorções comportamentais e psicológicas do paciente, principalmente de conteúdos catastróficos encontrados nos portadores do distúrbio.
Claudia Silveira Domiciano, Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade Integrada de Caratinga – FIC (1991), e Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC (2016)
Especialista em Neurociências Aplicada (2016) e Administração Hospitalar (2008) pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC, Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pela UNIFIA (2018) – Centro Universitário Amparense – São Paulo. Possui estudos complementares sobre Constelação Familiar pelo Centro de Estudos Avançados em Psicologia – CEAP-MG e Psicopatologia Infantil pela UFMG.
Psicóloga Clínica na Clínica de Psicologia Espaço Saúde, funcionária da Fundação Educacional de Caratinga – FUNEC – Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão. Membro do Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos – CEP/UNEC. CV:http://lattes.cnpq.br/8535778968015189