O segredo da confissão
Sendo bem realista, sempre há algo que fazemos que não é tão correto assim. Reconhecer que agimos mal – é algo muito difícil. Contudo, tais AÇÕES, de reconhecer o erro e confessar, podem significar um novo começo, uma nova oportunidade.
Estou me aprofundando na leitura de um livro com um título muito sugestivo: Livro da História Alemã para Intercessores. O segundo título expressa melhor o assunto: A culpa da Alemanha – a vocação da Alemanha.
É uma leitura pesada (além de estar escrito em alemão), mas muito elucidante sobre aquele país.
Os autores – três doutores e pessoas de renome em sua pátria – decidiram olhar para o passado do seu país não aceitando desculpas ou explicações que quase sempre são esfarrapadas, seja da parte do vencedor ou do vencido.
Um dos autores, psiquiatra e teólogo, destaca a figura paterna alemã – de onde é que ela veio. As características que ele menciona – e que definem a imagem do homem alemão – são de dureza, autocontrole, e uma disciplina de ferro. (Algo excelente para ser jogador de futebol, não é!)
Essa imagem masculina é definida, segundo o autor, por aquilo ou aquele que ele presta culto ou adoração. Assim, essas características brutais, desumanas, de força, poder, que provocavam medo e que exigiam obediência absoluta – essa influência vem de sua imagem paterna. Mas, a Alemanha não era um país cristão?
Antes das tribos germânicas, foram os celtas que – vindos da Escócia e Irlanda – dominaram a Europa continental após atravessar o canal da Mancha. Os germanos só vieram depois. Os celtas, porém, não desistiram. Enviaram “missionários”, os druidas, seus sacerdotes que continuaram a propagação do culto a seus deuses, que – por fim, acabaram integrados nas próprias crenças e religiões germânicas. Sim, os seus deuses eram cruéis, brutais…
Houve, obviamente, a falha na missão cristã, pois a “cristianização” realizada era, sobretudo, de rótulo – isto é, um acordo de lideranças, uma sujeição externa, nominal. No coração, porém, os deuses e suas exigências continuavam sendo cultivados e influenciando. Isso tudo, apesar de todas as reações importantes, como a Reforma, os grandes filósofos e teólogos, os grandes músicos e poetas. Falava-se da Alemanha como o país “dos pensadores e poetas”!
Foi, porém, apenas no século XIX que se formou uma Alemanha como se conhece hoje. (Mas geograficamente não completamente definida, incluindo a Suíça, Áustria e outros territórios). Com a vitória sobre a França (1870/71), é que nasceu “Das deutsche Reich”, o ‘reino/império alemão’. Contudo, a consciência bem como o orgulho nacional de “ser alemão” – ainda não existiam per se.
O livro que estou examinando tem um aspecto muito interessante. Eles decidiram pesquisar com toda a honestidade sua história. Sabe para que? Para poder apresenta-la a Deus, segundo o ensino claro de 2 Crônicas 7.14:
Se meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar e buscar a minha face e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei o seu pecado, e SARAREI A SUA TERRA.
Crendo na promessa deste versículo bíblico, que Deus poderia SARAR A TERRA DELES, eles foram fundo nas raízes de todos os males e até publicaram como é que o povo alemão deveria orar e confessar a Deus as mazelas de seu povo. Vou dar apenas um exemplo dessas “CONFISSÕES” que a igreja alemã está sendo convocada a fazer, sob o título: Motivos para Intercessões:
- Nós, um povo que se tornou uma nação estabelecida mais tarde do que todos os outros povos europeus – exceto a Polônia, pôde finalmente terminar sua fragmentação territorial, superando seu atraso no desenvolvimento, e compensando o déficit de consciência nacional. Desenvolveu, porém, imediatamente uma consciência nacional doentia e excessiva pela sede de poder e de uma arrogância racista, um entendimento errado de vocação e de eleição como povo neste mundo. Isso também foi alimentado por fontes doentias do germanismo neopagão e outras forças esotéricas reavivadas (religião celta, etc.). Olhamos para trás para essas conexões com tremor e nos identificamos com esse mal e pecado nacional, mesmo que pareça estar quase completamente ausente hoje. Mas ele trouxe os resultados mais horríveis do século 20, a sedução e a cegueira de uma nação inteira, redundando em duas guerras mundiais que jogaram o mundo no abismo, e grande matança, entre elas, o holocausto dos judeus e outros povos. Reconhecemos o conceito de nação, a existência das nações em geral, como um dom e posição desejada por Deus, que cada povo precisa de um mínimo para garantir sua identidade, e a esse respeito vemos que após séculos de uma consciência nacional saudável, ela se revelou grotescamente patológica e destrutiva. Todas as boas e más qualidades que residem em nós foram postas a serviço desta consciência nacional, para provocar no mundo desastres sem precedentes. Tudo isso nós confessamos e nos arrependemos, e pedimos perdão por nossa culpa a Deus e aos nossos vizinhos. Pedimos a graça de Deus sobre nós apesar de nossas ofensas tão graves, e oramos para que a Alemanha nunca mais se associe a tais objetivos, mas, em vez disso, se torne uma nação que traga bênçãos ao mundo. (pp. 112-113)
São 168 páginas nesta sequência: busca das raízes dos problemas, identificação com eles, confissão, pedindo perdão, crendo na Palavra de Deus:
Se meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e
orar e buscar a minha face e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei o seu pecado, e SARAREI A SUA TERRA. (2 Cr 7.14)
Existe esperança para qualquer um, para qualquer cidade, para qualquer nação e povo, se ele seguir este pequeno manual de sanidade espiritual:
– humilhar-se
– orar
– buscar a face de Deus
– desviar-se dos caminhos maus
Arrependimento e confissão, e mudança no estilo de vida! É mais uma das ideias próprias de Deus! E que funciona, mesmo para o crime mais hediondo, como o holocausto, e as guerras mundiais!!!!!
Com sinceridade, creio que há esperança para o Brasil. Mas o caminho não é fácil. A questão política ou a social – não são os principais problemas. O problema é espiritual. Para resolve-lo, é necessário honestidade conosco mesmo, e com o próximo. E sobretudo com Deus.
A igreja tem uma função fundamental – desde que realmente entenda porque está aí: isto é, não para a preservação de “tesouros” históricos (inclusive, alguns, questionáveis), mas para levar o homem ao encontro com o Deus Criador, que tem tudo sob Seu controle – e que perdoa nossos erros e falhas, mesmo os mais horríveis.
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]