Dia 1º de maio, depois de um dia sem trabalhar, mas de muito movimento, sentei na cadeira de balanço, liguei a TV, fechei os olhos e procurei descansar, enquanto aguardava o pronunciamento da nossa presidenta. ATENÇÃO: ABRE-SE NESTE MOMENTO A REDE NACIONAL DE RÁDIO E TELEVISÃO PARA O PRONUNCIAMENTO OFICIAL DA PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF.
Brasileiros e brasileiras, boa noite. Hoje, comemoramos o importante “Dia do Trabalhador”. Mais uma vez, dirijo-me a vocês, em rede nacional, através do rádio e da televisão. Mas, desta vez, quero abrir o meu coração com vocês, fazendo um balanço real das ações do meu governo, assim como da minha postura pessoal à frente do mais alto cargo público do país. Que as minhas palavras encontrem solo fértil em cada um de vocês.
A situação econômica do nosso Brasil não está boa. A inflação persiste em seu percurso… Lento, mas de crescimento. Sei do tanto que é desnecessário apresentar números, já que cada um dos brasileiros e cada uma das brasileiras percebem que a coisa não anda muito boa, que o descontrole da inflação é real, cada vez que vai ao supermercado, à padaria ou à farmácia, para citar alguns exemplos.
Gastamos mais do que devíamos. Muito mais. Passamos por um período em que foi necessário gastar muito com alguns compromissos assumidos, tais como a Copa do Mundo e as eleições.
Em relação a este fundamental esporte para a vida do brasileiro (aqui eu abro um parêntese: já pensou se o meu governo não aceitasse realizar a Copa do Mundo? Eu estaria perdida!) consumimos milhões e milhões de dólares. Reformamos, desnecessariamente, alguns estádios e, também, construímos outros “elefantes brancos”. Inventamos viadutos, construímos algumas avenidas e deixamos muitos metrôs no papel. Infelizmente, não tem como tomar conta de tudo, sozinha (você mulher há de me entender, pois além do meu trabalho como presidenta, tenho que passar horas no salão, ir às compras, me depilar – e como tenho pelos! -, visitar políticos doentes, ir a velórios, dar ordens na cozinha, receber esses colegas chatos dos países vizinhos etc e, além de tudo, aguentar as críticas do Manhattan Connection…) e alguns assessores andaram fazendo coisas erradas… Com você, trabalhador, gente como eu, vou falar às claras o que eles fizeram: meteram a mão na bufunfa!
Depois, vieram as eleições. Não tive como proibir algumas empresas, mesmo sendo públicas, de disponibilizar recursos financeiros para facilitar a nossa vitória. Já pensou se eu perdesse esse pleito para o meu conterrâneo? Não, não podia deixar que milhões de brasileiros e brasileiras – empregados pelo governo e pelas empresas comandadas por ele -, fossem despedidos e ficassem sem auferir os necessários rendimentos para a sua subsistência. Mais uma vez, falarei abertamente para você, trabalhador como eu, o que isso significaria: a turma perderia a sua boquinha!
Também gostaria de me dirigir a vocês, brasileiros e brasileiras, para falar sobre a corrupção que assola o nosso país, de maneira especial, o governo, em todas as suas esferas. O primeiro caso mais famoso foi denominado de “Mensalão”. Sim, a turma exagerou. Meteu a mão com força. Não preciso repetir aqui que é impossível fazer tantas coisas como as que cabem a uma presidenta (me lembrei que, também, gosto de pregar, eu mesma, os botões nas minhas roupas e, infelizmente, não tenho dedal. Cheguei a furar o meu dedo com a agulha diversas vezes) e conseguir tomar conta de tudo. O Dirceu, o Genoíno, o Delúbio, o João Paulo Cunha, a Kátia Rabelo, apenas para citar alguns, me decepcionaram também, por isso, entendo o desapontamento de vocês, a sua descrença com a Política, com os que lidam com a coisa pública. Muitos, eu sei, chegam a pensar que a honestidade não vale a pena.
O segundo e mais atual caso de corrupção, envolve a nossa maior empresa, a Petrobrás. Não, eu não vou justificar que o problema todo teve inicio no governo FHC. Governamos por doze anos e, mesmo que a corrupção fosse crônica naquele momento, tivemos tempo para corrigir, para fazer bem feito, para manter a nossa empresa no patamar do qual ela, jamais, deveria ter saído. Sim, nós quebramos a Petrobrás. A turma exagerou nas retiradas e eu, infelizmente, mesmo trabalhando diretamente na administração da empresa (lembro-me que naquela época aprendi a fazer alguns pratos especiais estava lendo um livro com mais de três mil receitas), não pude fazer nada. Depois, já na presidência… Não preciso repetir, mais uma vez, que é impossível fazer tantas coisas como as que cabem a uma presidenta (Há quatro anos que passei a fazer Yoga… Toma um tempo doido da gente) e conseguir tomar conta de tudo.
Mas, hoje é o seu dia trabalhador e trabalhadora do Brasil. Por isso, os meus parabéns. Eu sei que não temos muito que comemorar. A taxa de desemprego aumentou, o acesso a alguns benefícios sociais ficou mais complicado, a saúde não anda boa das pernas e até a inscrição no FIES ficou mais difícil. Reconheço, também, que andei omitindo algumas coisas na campanha e, confesso, cheguei até a falar algumas mentirinhas…
Porém, neste dia, quero desejar a cada trabalhador, a cada trabalhadora deste nosso querido Brasil…
– Vovô, vovô, acorda! A “Gilda Nousest” vai falar…
ATENÇÃO: ABRE-SE NESTE MOMENTO A REDE NACIONAL DE RÁDIO E TELEVISÃO PARA O PRONUNCIAMENTO OFICIAL DA PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF.
Brasileiros e brasileiras, boa noite. Hoje, comemoramos o importante “Dia do Trabalhador”. Temos muito a comemorar. O Brasil melhorou. blá, blá, blá, blá…
Êta cochilo porreta!!!
* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.