UM BOM DIA COMEÇA COM UMA BOA NOITE DE SONO
Dra. Juliana Carvalho Reis ressalta que dormir bem é imprescindível ao nosso bem-estar físico e mental
CARATINGA – “Você sabe, o dia destrói a noite/ A noite divide o dia/Tentei fugir, tentei me esconder…”, cantava Jim Morrison à frente do The Doors em “Break On Through (To The Other Side)”. Na poesia tem sua beleza, mas no dia a dia é algo muito conflitante. Tem que haver comunhão entre dia e noite. Ou seja, um bom dia começa com um boa noite de sono, como nos explica a Dra. Juliana Carvalho Reis, que é fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Respiratória e em Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica, Mestre em Ciências da Reabilitação e doutora em Geografia da Saúde.
Na Grécia Antiga surgiram os primeiros estudos sobre o sono. Obviamente, que determinadas teorias da época já tenham sido provadas equivocadas, mas mesmo assim, esse foi um passo importante. Pela primeira vez as mentes mais brilhantes de uma era estavam tentando explicar como e por que dormimos.
Por volta de 450 a.C., o médico e filósofo grego Alcmeão de Crotona, que hoje pertence à comuna de mesmo nome na região da Calábria, na Itália, postulou que o sono era como um assomo de falta de consciência produzido pela drenagem de sangue da superfície do corpo. Mas, 50 anos depois, Aristóteles já entendia que o sono era vital. Ele achava, porém, que dormir vinha de um repouso do coração e tinha associação com o sistema digestório.
Independentemente de onde os gregos acreditavam que vinha o sono, uma coisa é certa: eles entendiam a sua importância talvez como nenhuma outra civilização antiga. Prova disso é a existência dos Templos do Sono de Esculápio (ou Asclépio, em grego). Eles funcionavam como hospitais para que os doentes se curassem de suas doenças por meio do isolamento, introspecção e meditação. Dormir era visto como uma maneira de atingir estados de consciência mais elevados e de conexão com o divino, fazendo com que a enfermidade diminuísse em importância.
Na mitologia grega, Esculápio era educado na arte das ervas medicinais e das cirurgias e, portanto, o deus mais apropriado no panteão para os doentes e desesperados. Ainda hoje ele é considerado o Deus da Medicina. Seu Bastião é o símbolo para médicos do mundo todo, aparecendo inclusive no centro da bandeira da OMS – Organização Mundial da Saúde.
Passados todos esses séculos, hoje a ciência provou que ter um sono de qualidade impacta diretamente na qualidade de vida e na saúde física e mental de qualquer pessoa. Segundo a Academia Brasileira de Neurologia, a insônia ou o sono ruim resultam em sintomas como fadiga, redução da imunidade, déficit de atenção e distúrbios do humor. Sendo assim, a doutora Juliana Carvalho Reis ressalta que dormir bem é imprescindível ao nosso bem-estar físico e mental. E como canta Beto Guedes em “Amor de Índio”: “Lembra que o sono é sagrado/ E alimenta de horizontes o tempo acordado de viver”.
Algumas pessoas dormem cedo, outras mais tarde. Isso interfere na qualidade do sono?
O horário de dormir interfere muito na qualidade do sono. A maioria das pessoas se beneficiam em acordar cedo e dormir cedo, por exemplo: acordar as 6h e dormir as 22h. Isto porque nós temos um ritmo cronobiológico que segue o ritmo dia e noite, definido pela presença e ausência da luz solar.
É muito importante entender qual o seu ritmo biológico, horário de dormir e de acordar que te faz ter uma noite de sono reparador e acordar bem disposto para o dia seguinte.
Pessoas que dormem tarde e acordam cedo, assim como aquelas que dormem tarde e acordam tarde podem ter problemas com a qualidade do sono.
Dormir e ter um sono reparador são situações distintas?
Sim. Por exemplo, as pessoas que tem apneia do sono dormem com muita facilidade. É só encostar, que apagam, mas não tem o sono reparador. Passam uma noite inteira dormindo e acordam com sinais de privação do sono como sonolência diurna, dor de cabeça, irritabilidade, dificuldade para se concentrar…
Para saber se o sono é reparador é importante observar o nosso dia. Quem tem um sono de boa qualidade, acorda com disposição, animação e concentração para as atividades do dia e consegue cumpri-las tranquilamente.
E a questão da insônia, como tratá-la?
Quando nos deparamos com a insônia precisamos investigar a causa para tratá-la adequadamente. Muitas vezes ela acontece em virtude de ansiedade e depressão, de forma que, em muitos casos, se faz necessário o tratamento medicamentoso. Contudo, uma vez iniciada a medicação para insônia, devem ser implementados tratamentos complementares que irão auxiliar a adequação dos hábitos de vida e comportamentais para de fato intervir no que, de fato, causa a ansiedade e depressão, como por exemplo: psicoterapia, prática de atividades físicas, dieta, shiatsu, acupuntura…
Quando não fazemos dessa forma, corremos o risco de ter um paciente dependente da medicação para dormir para o resto da vida e exposto aos efeitos adversos destas medicações que passam a ter que ser utilizadas em doses cada vez mais altas.
Após um dia cheio de atividades, como é possível ter um sono pleno?
Ter um ritual para dormir ajuda muito a ter um sono de qualidade. O cérebro gosta de rotina quando o assunto é sono, por isso a necessidade de fazermos sempre as mesmas coisas antes de dormir, indicando que está chegando a hora de modificar o ritmo de trabalho do cérebro. Tão importante quanto fazer as mesmas coisas é fazer coisas que favoreçam o relaxamento, como: desligar a TV e desconectar de equipamentos eletrônicos, tomar um banho morninho, tomar um chá ou leite quente, diminuir os ruídos e luminosidade do ambiente, fazer uma oração, meditação ou uma leitura que promova o relaxamento.
O que é preciso para atingir o nível de relaxamento ideal para dormir?
É preciso ter disciplina para dormir bem, hábitos de vida saudáveis e ritual para dormir.
Durante o dia, faça atividade física regularmente, de preferência, pela manhã e, pelo menos, três dias de atividades por semana; alimente-se de maneira saudável, evite bebidas estimulantes na parte da tarde, como café, coca-cola e bebidas alcoólicas; organize suas atividades domésticas e de trabalho em uma agenda para impedir que elas te acompanhem para a cama e cuide de sua saúde mental, fazendo coisas que são prazerosas para você.
Durma e acorde sempre no mesmo horário, isso te ajudará a ter um ritmo sono-vigília consistente e isso favorece o sono.
Definir um ritual do sono que te agrade, encaixe bem na sua rotina e implementá-lo diariamente, um dia sim e o outro também.
Como é feito o diagnóstico e tratamento dos problemas do sono?
O diagnóstico dos distúrbios do sono é feito por um profissional de saúde, muitas vezes pelo médico psiquiatra e neurologista que são os profissionais que os pacientes procuram primeiro quando têm dificuldade para dormir. Já o tratamento deve ser feito por uma equipe composta por médico, fisioterapeuta, dentista, fonoaudiólogo, psicólogo e nutricionista a depender da causa e dos fatores associados ao distúrbio do sono apresentado pelo paciente.
E em relação a apneia do sono, como é feito o diagnóstico? O que é apneia do sono?
A apneia do sono é diagnosticada a partir da sintomatologia do paciente e do exame de polissonografia que avalia o sono. A relação entre a sintomatologia e a polissonografia nos permite identificar a apneia do sono, quantificá-la e caracterizá-la quanto a origem e severidade.
Ela ocorre quando há obstrução completa ou parcial ao fluxo de ar pela garganta enquanto a pessoa dorme, impedindo que o ar penetre adequadamente os pulmões e oxigene o corpo.
A apneia que provoca o ronco?
Muitas vezes o ronco tem associação com a apneia. Mas nem todo mundo que ronca tem a apneia, da mesma forma que, nem todo mundo que tem apneia, ronca.
O ronco pode ser um sinal de apneia. Vale a pena investigar a presença de apneia entre as pessoas que roncam sempre.
Qual a importância do sono para o bem-estar das pessoas?
O sono tem um papel fundamental na regulação das nossas funções orgânicas. Embora nem todas as funções do sono estejam esclarecidas até o momento, já sabemos que durante o sono temos a regulação do metabolismo energético, a restauração da atividade celular, o controle da temperatura corporal e consolidação da memória e aprendizado, de tal sorte que dormir bem é imprescindível ao nosso bem estar físico e mental.
VOCÊ SABIA…
R.E.M. é a sigla para Rapid Eye Movement – movimento rápido dos olhos, em tradução livre para o português. Trata-se de uma fase do sono que representa cerca de 25% do tempo que dormimos. Caracterizada por uma intensa atividade cerebral, assim como o rápido movimento dos olhos, é na fase R.E.M. que acontecem os sonhos mais vívidos.
Essa sigla foi usada por uma banda de rock norte-americana. Formada, em 1980, em Athens, na Geórgia, pelo vocalista Michael Stipe, o baixista Mike Mills, o baterista Bill Berry e a guitarra de Peter Buck, o grupo ganhou visibilidade assim que lançou o seu primeiro álbum, o aclamado pela crítica, “Murmur”, em 1983.
Ao longo dos anos, liderados por Stipe, o R.E.M. seguiu construindo uma carreira sólida através de constantes turnês, novos lançamentos e apoio de rádios. Quando alcançaram o mainstream, a banda já apresentava um som maduro, original e preocupado com questões sociais, políticas e ambientais. A música “Losing my Religion”, do álbum “Out of Time” (1991) é o maior sucesso do grupo.
Em setembro de 2011, Peter Buck e Michael Stipe anunciaram o fim oficial da banda através de uma nota no site do grupo.