Eugênio Maria Gomes
Esta foi uma das piores semanas da vida pública brasileira, em todos os tempos. Os tais “irmãos caipiras” – Joesley e Wesley –, que de bobos nada têm, fizeram um estrago na Política e na Economia, e aplicaram à nossa paciência um dos mais severos testes de todos os tempos. Enquanto isso, os dois malandros e seus respectivos familiares desfrutam das maravilhas do primeiro mundo, gastando uma ínfima parte do que arrecadaram com especulações e com as benesses de uma administração corrupta, desde que a toda poderosa JBS abriu o seu capital e passou a negociar as suas ações na Bolsa de Valores, no governo Lula. A empresa cresceu, segundo seu atual presidente, mediante o aporte de recursos públicos, sempre liberados pelo governo em troca de propina.
Estamos, há muitos meses, assistindo aos absurdos levantados pela Operação Lava-Jato, com delações e mais delações, expondo toda a podridão da nossa Política e a perfídia da maior parte dos políticos brasileiros. Quando achávamos que nada mais poderia ser mais prejudicial para a nação do que as informações dos delatores da empresa Odebrecht, eis que surgem os daquela que leva no nome as iniciais de seu fundador – José Batista Sobrinho -, também apelidado de “Zé Mineiro” -, deixando-nos estupefatos. Em seus depoimentos, os filhos de José delataram sobre propinas pagas a dois ex-presidentes, ao atual presidente e a um dos políticos mais cotados para uma eventual candidatura ao cargo.
O desenrolar da delação dos irmãos Batista, no que tange às características pessoais dos participantes, em nada foi diferente daquelas feitas pelos demais delatores: todos, com a mesma cara de pau, falando de milhões de reais como se fossem centavos, com aquele sorrisinho no canto dos lábios, como se estivessem dizendo “Pronto, falei. Receberei uma multazinha, mas nada que comprometa tudo o que tirei de vocês”. Diferente, mesmo, foram as benesses conseguidas com a deleção: não serão presos um dia sequer, não usarão tornozeleiras eletrônicas e poderão viajar, livremente, para qualquer lugar do mundo.
Até o momento em que escrevia este texto, o presidente Michel Temer havia feito dois pronunciamentos, firmes, porém completamente inconsistentes e, aparentemente, inócuos. Não faz sentido ter recebido, à noite, reservadamente, aquele que ele chama de “falastrão”, de mentiroso. Depois, está claro que a farra da propina continua a acontecer, mesmo com toda a devassidão levantada pela Lava-Jato e com as prisões de empresários, governadores, senadores e ministros de estado. Em relação ao senador Aécio Neves, sua participação trouxe um ingrediente a mais do que os milhões recebidos: as gravações mostraram um homem frio, calculista, excedendo-se nos palavrões e insinuando ter disposição de matar um eventual delator. Os ex-presidentes Dilma e Lula limitaram-se a dizer, mais uma vez, que nada sabem, que nada viram, que nunca receberam os 150 milhões “doados” pelos delatores, para suas campanhas, depositados em contas no exterior.
E assim, passamos os dias, desde sexta-feira, dia 19 de maio de 2017, ouvindo cada coisa mais absurda que a outra, acerca de desvios de dinheiro, de apropriação indébita, de gente sem vergonha e de usuários de óleo de peroba. E só! Parece que ficamos sem energia… É tanto tempo ouvindo essas barbáries que, de repente, é como se nada importasse mais. Talvez seja porque o fim de tudo isso pareça estar distante demais ou, quem sabe, porque não vejamos nenhuma possibilidade plausível para uma solução rápida. Tirar o Temer? Sim, mas eleger quem para o seu lugar?
Está tudo muito calmo, diante do tamanho do estrago feito por essa turma, em nossas vidas. Estaremos cansados? Entorpecidos diante de tanta perversão de caráter? Inebriados diante de tanta malversação? Envergonhados, diante de tanta depravação!
- Eugênio Maria Gomes é professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga -, membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC – Movimento Amigos de Caratinga e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É diretor da Unec TV, apresentador de programas nas TVs Unec, Super Canal, Sistec e Três Fronteiras, colunista do jornal Diário de Caratinga e Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.