Motoristas fizeram carreata pela cidade e disseram que enquanto não receberem os cinco meses de salários atrasados não voltam a trabalhar. Prefeitura informa que situação será regularizada na próxima semana
CARATINGA – Ontem, vários motoristas contratados para fazer o transporte escolar, por meio da Cooperativa Minas Brasil, fizeram uma carreata pelas ruas da cidade. O objetivo foi declarar paralisação dos serviços prestados à Prefeitura de Caratinga, a partir de segunda-feira (9), por estar há cinco meses sem receber salário. Motoristas, pais de alunos e alunos se concentraram na Praça da Estação e ficou decidido pela suspensão do transporte até que o pagamento seja efetuado aos trabalhadores.
Com a medida, estima-se que pelo menos 6000 alunos das redes de ensino municipal e estadual da zona rural de Caratinga ficaram desassistidos, o que prejudicará a ida às aulas e, consequentemente, o andamento do ano letivo.
54 veículos e motoristas da educação participaram da carreata. O movimento também contou com a adesão e alguns motoristas da Saúde, que estão há seis meses sem receber.
A incerteza do pagamento tem prejudicado a rotina dos motoristas, que acumulam dívidas, como afirma Lindomar Pereira Cimini, responsável pela rota do distrito de Sapucaia. “Não temos como pagar banco, tratar da família e não tem como viver sem dinheiro, o poder público está acabando com nós. Quando procuramos a Prefeitura, fala que toda semana paga, os dias vão passando e nada. A partir de semana que vem não terá transporte para os alunos, só quando tiver pagamento em conta. Não podemos colocar carros na estrada, os pais estão cientes. Eles dizem aos pais que os motoristas já receberam”.
O colega de profissão, Jorge Luiz Xavier, afirma que a Prefeitura rompeu contrato com a Minas Brasil, mantendo apenas uma secretária, que é a responsável por outra empresa, na qual eles estão locados. Sobre os pagamentos, eles convivem com a falta de informação. “Não nos deu satisfação, apenas alegam que não receberam da Prefeitura, mas foram embora sem fazer qualquer acerto. Tivemos contato com a secretária e ela diz que estão negociando e nunca chegam a uma solução. Tivemos reunião com Marco Antônio há 60 dias, disse que teria uma verba para nos pagar, mas isso não aconteceu e não nos atende mais. Ninguém consegue viver cinco meses sem salário e bancando manutenção de carro. Já fizemos todas as negociações possíveis e não cumpriram. O poder público nos obrigou a fazer esta carreata e paralisação”.
O manifesto teve apoio de pais de alunos, que entendem as dificuldades enfrentadas pelos motoristas e também buscam respostas. É o caso de Simar Garcia, morador do distrito de Sapucaia. “O prefeito teve uma reunião com os pais em maio, queríamos até gravar a conversa, mas ele não permitiu. Ele disse que tinha dinheiro para pagar tudo, só que não sabia por que não estava dando certo, eu queria que ele respondesse isso agora”.
Carina Marciano da Silva, moradora do Córrego Cruz das Almas, distrito de São João do Jacutinga, tem filhos que dependem deste transporte, mas apoia a decisão dos motoristas, apesar de lamentar as consequências. “Estou indignada, sempre os motoristas ficam sem receber e os alunos ficam prejudicados e não tem como ir a pé porque é longe, mas os motoristas têm família para tratar, e não podem ficar sem receber. É a quarta vez que param o transporte por falta de pagamento. Meus filhos ficarão prejudicados por falta na escola”.
Como o fim do ano letivo está se aproximando, a preocupação também se estende aos alunos. Marcela Dornelas de Carvalho, 17 anos, que cursa o 3º ano do Ensino Médio, moradora do Córrego dos Bias, faz uma avaliação dos transtornos para os estudantes. “Em certo ponto os motoristas estão corretos, pois não recebem há cinco meses, qualquer pessoa que não recebe, não tem como sobreviver. Mas, como aluna, é triste não poder completar o ano, pode acarretar repetências, pois muitos não alcançaram a pontuação necessária. Minha casa fica a 8 km da escola, posso até tentar ir à pé, mas uma criança não consegue”.
PREFEITURA CONFIRMA PAGAMENTO PARA SEGUNDA-FEIRA (9)
Na tarde de ontem a Prefeitura de Caratinga emitiu nota a respeito da paralisação anunciada pelos motoristas, que segue na íntegra:
“Sobre a paralisação da prestação do serviço de transporte escolar, a Prefeitura de Caratinga entende que é um ato legítimo e um direito dos motoristas, uma vez que há um atraso de quatro meses no pagamento à Cooperativa.
O Governo do Estado de Minas deve ao Município de Caratinga um repasse de mais de 500 mil reais, fato que obriga o Município a atrasar o pagamento, já que a Prefeitura de Caratinga não tem recursos próprios para arcar com esta dívida. A Prefeitura continua aguardando repasse do recurso.
Mesmo com toda dificuldade e escassez de recursos, o Município tem arcado com as despesas. Porém se esgotaram todas as possibilidades de negociação entre a Prefeitura de Caratinga e o Governo Estadual. Caso o Governo de Minas não solucione o problema imediatamente, a Prefeitura de Caratinga será obrigada a romper o convênio e ‘devolver’ o transporte escolar ao Estado de Minas e assumirá, apenas, o transporte dos alunos da rede municipal de ensino.
A Prefeitura de Caratinga estará efetuando, até nesta segunda-feira (9), o pagamento para a Cooperativa responsável pela contratação dos motoristas, dívida que em parte é do Governo de Minas e outra da Prefeitura de Caratinga. Para quitar tal dívida, a Prefeitura está realocando recursos próprios comprometendo assim outros pagamentos.
A Prefeitura afirma, ainda, que o transporte escolar é uma das prioridades deste governo, tanto é que a prefeitura paga 2/3 dos gastos com a prestação do serviço, enquanto o Governo paga apenas 1/3.
Sobre a carreata, em forma de protesto, a Prefeitura entende se tratar de ato de caráter político, pois já havia uma conversa prévia na qual os motoristas foram informados de que o pagamento seria efetuado nos próximos dias, e houve entendimento entre as partes”.