Escolhido destaque da imprensa pelo DIÁRIO, ele compartilha sua trajetória e produção do programa que conquistou o universo adolescente
CARATINGA- Thiago Prudêncio, apresentador do programa Tá Ligado!?, exibido pela Doctum TV, foi o escolhido pelo DIÁRIO DE CARATINGA como destaque da imprensa 2017. Parar falar um pouco sobre sua trajetória e o processo de produção do programa, ele concedeu uma entrevista à repórter Nohemy Peixoto.
Você é de São Paulo. Qual foi sua profissão antes do jornalismo?
Minha vida sempre foi muito dinâmica, corrida. Desde os 14 anos eu já tinha carteira de trabalho registrada, trabalhava em um supermercado. Fiquei lá por nove anos e foi como consegui ingressar na faculdade de Comunicação. Eu trabalhava das 7h até às 17h, ia para a faculdade às 18h. Saí desse trabalho em meados de 2006, já no último ano de Comunicação. Trabalhei na área comercial, de vendas, sempre argumentando demais, usando muito a arte das palavras. Mas, além do trabalho formal, sempre trabalhei desde cedo, de criança, ajudando meu pai numa lanternagem que ele tinha e os vizinhos que precisavam fazer um aterro ou desaterro, por exemplo.
Como você decidiu se fixar em Caratinga?
Estou em Caratinga desde 2013, inicialmente minha ideia era morar em Santa Catarina. Mas, tenho minha família por parte de mãe que é aqui da cidade e já com planejamento pronto decidi visitar meu avô. Percebi que depois para sair de Santa Catarina e visitá-lo ficaria mais longe do que de São Paulo a Caratinga. Acabei fazendo amizades e decidi ficar aqui. Comecei a distribuir currículos, mas a sacada de ter ficado em Caratinga foi tão espontânea que saí de São Paulo e não tinha trago minha carteira de trabalho. Quando estava prestes a conseguir meu primeiro emprego, como vendedor de consórcio numa agência de carros, me solicitaram e como demandava tempo não consegui. Solicitei pelos Correios e consegui trabalho em uma loja de insumos agrícolas.
E quando decidiu retomar o caminho do jornalismo?
Conheci uma pessoa que me apresentou a Doctum, já fiquei maravilhado: ‘É isso que eu quero’. Comecei a ver a estrutura que ela tem, o Casarão das Artes que para a cidade cheira a cultura e me ligo muito nesse aspecto. Então toda semana estava deixando um currículo lá. E após toda semana batendo na porta da Doctum, consegui uma oportunidade, onde não pretendo sair tão cedo.
Sair de São Paulo foi uma decisão fácil?
Eu já tinha desencanado do jornal, da comunicação, da publicidade. Como minha faculdade tem ênfase na publicidade e propaganda sempre me liguei muito em comerciais, fui muito criativo quando era mais novo, tinha umas sacadas rápidas. Mas, quando você vive em uma cidade de capital requer grana, então você precisa escolher caminhos, várias vezes abrir mão de curtir algo. Então, meu reencontro em Caratinga com o que aprendi na faculdade demorou alguns anos. Mas, primeiro trabalhei em áreas que não tinham nada a ver com a minha profissão, justamente porque saí de São Paulo para realmente viver. A capital te suga muito, exige muito da saúde, de seu tempo.
Você está há um ano à frente do ‘Tá ligado!?’. Como surgiu essa oportunidade?
Em agosto do ano passado trabalhei na produção do aniversário de sete anos da Doctum, uma festa que foi na Praça Cesário Alvim. Tive a ideia de colocar cada programa dentro dessa festa, teve o Doctum Entrevista, o Tá Ligado!?, Sonora, Saúde pra Você. Fui dando ideias para que a gente pudesse trazer o público fora dos estúdios, para dentro da praça de uma maneira mais interativa. Com o ‘Tá Ligado!?’ fiz um projeto para ser apresentado como se fosse uma gincana interescolar. Consegui um aparelho que emitia um sinal sonoro e com luz, elaborei umas perguntas para as escolas levarem um time e fazerem uma disputa. Foram oito escolas para essa batalha e eu acabei sendo o apresentador dessa gincana, porque a apresentadora que antecedeu a mim teria que fazer reportagens nesse momento, então eu topei. Recebi dezenas de elogios de apresentadores, participantes, do público. Um pouco depois recebi a proposta para fazer um piloto do ‘Tá Ligado!?’, o Nathan Vieira me acompanhou, que é um dinossauro da TV, radialista, jornalista, músico; para ver se eu conseguia dominar o programa. Mas, nunca tinha almejado isso, foi acontecendo e fui abraçando todas aquelas oportunidades.
Como é o processo de escolha de pauta do programa?
A cabeça de um adolescente é um ventilador, não para nunca, está sempre pensante. Então, quando estou fazendo a produção do programa tento trazer assuntos que com certeza eles terão uma opinião formada ou em processo de formação. Pode ser algo do momento, uma matéria jornalística, uma tragédia ou algo insano que aconteça. Posso usar como exemplo, uma pessoa em situação de rua que foi agredida em São Paulo por guardas civis metropolitanos. A escolha da pauta é sempre algo que os jovens têm que estar acompanhando, hoje a internet está muito dinâmica ou algo que está acontecendo dentro da cidade de Caratinga. Além de assuntos como Enem, reforma do Ensino Médio, algo que está no cotidiano deles e vai causar querendo ou não algum impacto pra eles.
Você é como um mediador no programa. Já teve algum tema mais polêmico, que a divergência de opinião entre os participantes foi mais acalorada e você teve que acalmar os ânimos?
Sempre tem. Esse tema mesmo do morador de rua que foi agredido pelos policiais em um metrô de São Paulo. Me marcou muito justamente pela opinião da galera, será que pode, será que não pode. A cabeça dessa molecada não para, está sempre a mil, então sempre visito jovens que estão a um passo da faculdade, pega aquela galera que é encantada pelo Direito, que já sabe de normas e leis. E eles já falam: ‘Ele é um ser humano, merece respeito’. Então, nesse dia eu vi que é isso que eu quero, que eles entendam que o ‘Tá Ligado!?’ é um debate entre eles. Mas, tive que falar: ‘Espera aí, vamos dar um tempinho. É isso que eu quero, mas vamos pegar leve, respeita a opinião do seu amigo’. A pessoa não precisa ser a favor da sua opinião, precisa respeitar.
E geralmente o assunto rende…
Sim. O programa tem 26 minutos, com os intervalos. E às vezes chego com o material bruto, entrego para a redação e eles ficam bravos: ‘Você trouxe 40 minutos de programa’. Eu explico que a gente se empolgou, a molecada foi falando e foi ficando massa o assunto, deixamos rolar. Nós como jornalistas, comunicadores, temos aquela regra, mas sabemos que temos que ter aquele jogo de cintura para saber lidar com esta situação de tempo.
É um desafio fazer esse formato dar certo?
O ‘Tá Ligado!?’ tem uma produção muito difícil de ser concretizada. Quando elaboro a pauta, as perguntas, estudo o que vai ser dialogado naquele determinado grupo ou escola, sabemos que adolescente quando damos REC na câmera eles travam. Então tem que ter um jogo de cintura que justamente acho que a minha comunicação, o meu jeito de ser mais descolado, é o que faz o programa dar certo. É justamente porque acho que o mundo hoje está muito chato. Acho que quem é da esquerda é da esquerda e quem é da direita demais, está muito chato de se viver, muito politicamente correto, então tento trazer esse programa pra dar uma quebrada nisso tudo. O mundo a gente sabe que está fofo pra se viver, então vamos tentar com esse programa, onde testamos as opiniões dos jovens, mas numa forma mais dinâmica, radical, sem aquela coisa metódica e conservadora.
Certa vez um assistido da Apae disse que tinha o sonho de te conhecer e Doctum TV promoveu esse encontro entre vocês. Como foi esse momento?
É o Elias Jaime. Nós tornamos amigos. E acabei conhecendo a instituição que faz um trabalho bacana. Foi uma surpresa, estava viajando, em Mantena e a professora de Educação Física de lá, Cristiane Peron, me mandou um vídeo do Elias simulando ser eu. Ele estava em sala de aula com os amigos dele falando: ‘Aqui é o Thiago Prudêncio, apresentador do ‘Tá Ligado!?’’, com um boné pra trás, fazendo a minha marca do programa e ali eu me encantei. Neste mesmo momento enviei esse vídeo pra Regiane Pires, que é chefe de redação, falei: ‘Olha que bonito’. Ela falou: ‘Isso é o reconhecimento. É o mérito seu’. Depois ela sugeriu de dar uma surpresa pra ele, mas quem sou eu, tem gente que quer conhecer Ratinho, outro quer conhecer jogador de futebol, me sinto um cidadão comum. Mas, ali na Apae eles são anjos, pessoas que não têm maldade com ninguém, são totalmente sinceros, amorosos e quando recebi essa notícia quis ir na hora. Recebi todo o carinho, amor, simpatia verdadeira dessas pessoas que têm seu mundo peculiar, mas totalmente sincero. Foi assim que acabei realizando o sonho de um jovem. E hoje sempre que preciso fazer uma matéria da Apae, sou muito bem recebido. Até hoje eles fazem a marca do programa, sabem quem eu sou, pedem selfie, que também é outra situação do programa, aquele T e o L que fazemos com o braço; me conhecem literalmente. Quando entro lá parece que o meu espírito, por mais estressado que eu esteja, saio de alma lavada, com uma respiração melhor, uma sensação inexplicável.
E os programas passaram a ser gravados lá também…
Sim. Fizemos uma matéria do jornal sobre a minha visita ao Elias e aproveitei o momento para fazer uma gravação e conhecer o que é a Apae, porque já fiz trabalhos voluntários em asilos quando tinha meus 16, 17 anos, mas a uma instituição que cuida de pessoas com necessidades especiais nunca tive o acesso literalmente. Acabei fazendo um primeiro programa lá, cantamos, dançamos, joguei capoeira, conversamos e foi sensacional. Da segunda vez os meninos participaram das Olimpíadas da Apae que acontece em novembro, em Belo Horizonte e eles foram medalhistas. Por ironia, o Elias, que é o cara que me acompanha, trouxe a medalha de terceiro lugar na modalidade de peteca e outros dois, o Marquinhos e o Jair disputaram uma corrida e também foram medalhistas. Mas o programa lá não tem um norte, como a cabeça deles não para, acabamos entrando também no mundo deles, é muito legal. Sabemos que estamos com uma pauta, mas temos que ir preparados porque ela vai fazer uma curva, um quer cantar, outro brincar e vamos adaptando. E agora, inclusive no natal terá gravação com eles também.
Você foi escolhido destaque do DIÁRIO. Como foi receber essa notícia?
Confesso que foi uma surpresa enorme, não esperava. Quando vi a nota pensei: ‘Caramba, que isso!’. Se olhar pra trás aí são muitos que são melhores do que eu. Pensava: ‘Por que eu? Será que é real?’. Fiquei feliz demais, acho que quando a gente se dedica, isso mostra que foi o fruto que eu colhi. Plantei aquela sementinha, reguei, a raiz ficou forte, amadureceu, os frutos apareceram. Foi fantástico o Diário, que é um parceiro da gente de madrugadas, dias e noites em porta de delegacia ou em coletivas, fiquei emocionado. É um dos posts que tenho no Facebook e no Instagram com mais curtidas. Agradeço demais essa moral que vocês me deram, mas confesso que eu não esperava e tentei entender o que estava acontecendo (risos).
Quais são seus projetos para 2018?
Hoje a abrangência do Tá Ligado!? aumentou, nós como TV comunitária temos acesso restrito somente a Caratinga, mas temos parceria com a UFES lá de Vitória e ele está sendo veiculado lá também. O projeto que tenho hoje é fortalecer sempre a marca da Doctum TV junto ao ‘Tá Ligado!?’ e estou fazendo um trabalho muito forte junto com rede social, porque acho que é a mídia do momento, tento ao máximo fazer um trabalho de divulgação, cobrar da edição uma rapidez pra ser postado no YouTube os programas, tentando trazer mais seguidor para o Instagram e mais amigos para o Facebook, mais inscritos para o canal da Doctum TV. E quanto ao programa, acho que não podemos nos manter estagnados, tem uma música do Raul Seixas que ele fala: ‘Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês’. Devia, mas não está porque ele está querendo sempre mais. Então acho que quando a gente se dedica, naquele momento temos que tentar dar nosso melhor. Porque aquele emprego que irá gerar frutos pessoais, hoje me gerou, por exemplo, o reconhecimento. E isso pode abrir portas profissionais. É continuar trabalhando, focado e como o próprio Raulzito disse, sem me manter acomodado.
Quais são suas considerações finais?
Primeiramente quero agradecer a Doctum TV que me deu a oportunidade de ingressar novamente à minha profissão. Sem ela achou que não estaria recebendo essa homenagem do Diário de Caratinga. Ao Nathan, que foi um cara que sempre pegou no meu pé, acreditou no meu trabalho no Tá Ligado!?, no meu potencial, então não poderia deixar de agradecê-lo. A vocês do Diário pela fantástica homenagem. E vem família, Deus, os cinegrafistas, quem está no campo no dia a dia conosco.