Terapias Integrativas e Constelação Familiar
Saiba mais sobre esses temas com Marinalva Soares. “Seres humanos são relacionáveis, não há como escapar das várias formas de relacionar. E esse é talvez o nosso maior desafio”, explica
CARATINGA – Somos conflituosos. Esses conflitos acontecem no lar, trabalho ou vida social. Mas, procuramos recursos para resolvê-los. Esses recursos estão à nossa mão, como Terapias Integrativas e Constelação Familiar. São termos novos. E para entender os seus significados, conversamos com Marinalva Soares, psicóloga, terapeuta integrativa, consteladora familiar, advogada e presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/Caratinga, pós-graduanda em Direito Sistêmico. “Seres humanos são relacionáveis, não há como escapar das várias formas de relacionar. E esse é talvez o nosso maior desafio”, pondera Marinalva Soares.
Fale um pouco sobre as formas terapêuticas que podem ajudar a trazer bem-estar para as pessoas.
Hoje existem várias formas terapêuticas de autoconhecimento. Eu acredito que elas se complementam. As terapias integrativas em poucas sessões e as Constelações Familiares em apenas uma sessão por exemplo, podem chegar em um nível muito profundo e mostrar para a pessoa a causa de grandes emaranhamentos nas suas relações. A psicoterapia vejo como outra grande forma de trabalho terapêutico, podendo ser de forma breve ou a longo prazo.
Seres humanos são relacionáveis, não há como escapar das várias formas de relacionar. E esse é talvez o nosso maior desafio. Em um universo de pensamentos, crenças e culturas diferentes precisamos ceder ou nos impor a todo momento e achar o equilíbrio nas relações afetivas, de trabalho, de amizade, religiosas dentre outras. E é comum em algum momento, em alguma área da nossa vida precisarmos de ajuda profissional para nos mostrar uma “saída”.
A senhora poderia nos explicar o que são terapias integrativas?
Existem muitas técnicas terapêuticas. Hoje em dia, pelo menos 29 práticas integrativas são reconhecidas pelo Ministério da Saúde, que são as PICS – práticas integrativas e complementares.
Elas podem ajudar desde o nível energético e emocional até o físico. São também ferramentas de autoconhecimento.
O Brasil é referência mundial na área de práticas integrativas e complementares na atenção básica. São modalidades que investem em prevenção e promoção à saúde com o objetivo de evitar que as pessoas fiquem doentes ou que as doenças progridam.
Quais são os principais efeitos benéficos e como é sua aplicação no nosso cotidiano?
A gente costuma falar que uma sessão dessas pode recarregar a pessoa ajudando a ter mais energia, foco e coragem, ajudando na tomada de decisão, por exemplo.
Às vezes um determinado órgão pode sofrer muito com uma descarga emocional de raiva ou um sentimento reprimido por exemplo. Uma terapia integrativa pode ajudar a limpar a energia negativa ali acumulada fortalecendo o corpo.
Outro trabalho desenvolvido pela senhora diz respeito à Constelação Familiar. Do que se trata?
Trata-se de uma filosofia sistêmica trazida pelo alemão Bert Hellinger que observou que muitos dos nossos comportamentos são tomados de outros membros da família e acabamos por nos envolvermos e nos emaranharmos, tornando as nossas relações afetivas, de trabalho e familiares muito mais difíceis.
As constelações familiares trazem à luz algo que estava oculto e para quem está disposto a mudar sua postura pode ajudar e muito a resolver algo que não está sabendo como lidar.
Então o que é a Constelação Familiar?
A Constelação familiar é uma filosofia de vida, uma forma de terapia breve. Em uma sessão de constelação é possível ver o que está por trás dos emaranhamentos ou travas que estão te impedindo de seguir com a vida e ter relacionamentos mais saudáveis. A partir desse novo olhar são apresentados caminhos mais leves, mais saudáveis. É uma forma diferente de ver as coisas. A Constelação Familiar, tem previsão legal na portaria n° 702, de 21 de março de 2018.
Constelação Familiar tem alguma relação com religião?
Não tem nada a ver com nenhuma religião. Também não é uma corrente mística. Não é milagre. É uma filosofia de vida que ajuda a resolver questões de vida.
Quais os princípios da Constelação Familiar?
A base das Constelação Familiar são as 3 leis naturais que Bert Hellinger chamou de ordens do amor. Elas trazem equilíbrio, colocam em ordem um sistema e não aceitam que ninguém seja excluído. São elas: Equilíbrio, Hierarquia e Pertencimento.
Fale-nos um pouco mais sobre essas 3 leis do amor.
As leis sistêmicas como Hierarquia, Pertencimento e Equilíbrio, são leis naturais que, independentemente da nossa vontade atuam em nossas vidas. Muitas dinâmicas doentias, emaranhamentos ou conflitos que vivemos em nossas vidas, são resultados dessa desordem, ou seja: quando desobedecemos essas leis. Muitas vezes assumimos ou repetimos comportamentos de uma forma doentia em nossos relacionamentos por pertencimento, sendo que é possível pertencermos de uma forma mais saudável quando conhecemos as leis. Às vezes saímos fora do nosso lugar, até com “boa intenção” para ajudar o pai, a mãe ou até um irmão. Mas se essa ajuda não for do nosso lugar, de filho ou de irmão, essa ajuda pode comprometer todo o sistema.
Constelação Familiar resolve conflitos geracionais?
Todos nós pertencemos a um sistema familiar. Se engana quem pensa estar sozinho ou que pode deixar tudo para trás, como se pudesse excluir algo e seguir sozinho a sua vida. Isso só irá trazer mais dificuldades no seu caminhar. Aliás, muito dos nossos emaranhamentos são por tentar fazer isso julgar o nosso passado e os nossos ancestrais. Essa não compreensão e elaboração pode nos custar muito caro.
E todas essas sensações e formas de compensação é percebida através do campo morfogenético (que é o campo que une os semelhantes, que une os membros de um grupo ou família). O campo que rege um determinado sistema. As informações desse campo como pessoas excluídas, prejuízos, mortes precoces, assassinatos, destinos difíceis ou pessoas que não foram vistas de um grupo são trazidas nesse campo, e as leis que citamos antes vão entrar em ação compensando ou colocando em ordem toda a “desordem” apresentadas nesse sistema e assume essa conta é quem vem depois, as pessoas fazem isso de uma forma inconsciente. As constelações trazem à luz o que estava oculto nesse sistema. E quando a nossa alma tem acesso a essa informação ela pode seguir um outro caminho.
Como funciona?
A Constelação Familiar pode acontecer de duas formas: individual com bonecos ou com representantes em grupo. Eu trabalho de forma individual e com bonecos.
A pessoa traz um tema, algo que seja um dilema, um conflito na sua vida e a partir daí são escolhidos representantes. E a história vai se mostrando.
A Constelação Familiar é indicada para todas as idades, sem qualquer vínculo ou abordagem religiosa, podendo ser indicada para qualquer um. As crianças podem ser consteladas através dos pais.
Qual ou quais problemas eu posso constelar?
Todo problema que já vem persistindo ou se repetindo e que você de uma forma consciente não consegue entender e não consegue resolver, tipo: brigas no relacionamento, bloqueios no trabalho, dificuldades de se relacionar com os pais, com filhos, dificuldades ou bloqueios em se relacionar afetivamente, dor na alma, angústia, ansiedade, síndrome do pânico, depressão, problemas de saúde e tudo que te dificulta em seguir com a vida.
Hoje procurarmos bem-estar. Como os workshops ministrados pela senhora nos proporcionam isso?
Nos workshops trabalho com um pouco de teoria e muitas dinâmicas. Com o tema relacionamento afetivo por exemplo mostramos com exercícios como funciona um relacionamento saudável e porque as pessoas vivem relacionamentos difíceis. O que está por trás dos emaranhamentos. Ou seja, onde uma das 3 leis que falamos anteriormente não foi respeitada. E com uma nova forma de olhar as pessoas podem decidir se querem trilhar por outro caminho.
Para muitas pessoas, até por comodidade, bem-estar é ficar sempre na ‘zona de conforto’. A senhora sempre foi conhecida por ser da área do Direito e da Comunicação, hoje tem seu instituto. A senhora também saiu de sua comodidade ou passou a fazer aquilo que pretendia há muito tempo?
Eu sempre falo que de zona de conforto não tem nada. Às vezes temos dificuldades sair de um sofrimento porque estamos emaranhados nele. Ou seja: não temos acesso a crenças inconscientes, o que na filosofia sistêmica chamamos de amor cego. Eu também tive que olhar para muitas questões pessoais para fazer essa transição profissional. E não foi fácil. Aliás essa questão de autoconhecimento é para o resto da vida, não para não, porque estamos em evolução. Hoje vejo que posso integrar toda minha experiência profissional na solução de conflitos. No Direito eu já trabalhava com isso, com olhar diferente, mas trabalhava. Atualmente o meu objetivo profissional é ajudar as pessoas a olhar para o que está por trás dos conflitos, a verdadeira causa do problema e assim colocar fim não a apenas uma demanda, mas, o verdadeiro conflito.
Quais suas dicas, dentro de sua área de trabalho, para que tenhamos o almejado bem-estar?
Eu sempre vou dizer e não conheço outro caminho a não ser o do autoconhecimento e autorresponsabilidade. Somos de alguma forma responsáveis pelo que acontece com a gente e cabe somente a cada um de nós decidir o que fazemos com isso. Ficamos onde estamos, do jeito que estamos ou mudamos algo. Podemos melhorar nossa qualidade de vida desde decidindo o que vamos comer, se seremos sedentários, tempo de sono, até nossas questões internas. Esse lugar de vítima, de colocar sempre a culpa em alguém do que acontece com você mesmo, só tornará a sua vida muito mais pesada.
Essa decisão de mudança não é fácil. Mas depois que decidimos algo ninguém mais segura, as coisas vão acontecendo e a gente começa a perceber o sentido da vida. Só quando entramos nesse fluxo que só corre para frente a vida vai ficando mais leve e mais produtiva pois desta vez estamos agindo com sentido e propósito.

Marinalva Soares, psicóloga, terapeuta integrativa, consteladora familiar, advogada e presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/Caratinga, pós-graduanda em Direito Sistêmico

“Eu sempre vou dizer e não conheço outro caminho a não ser o do autoconhecimento e autorresponsabilidade”, ressalta Marinalva Soares