Ildecir A.Lessa
Advogado
Tem sido constantemente observado que, as teorias sem fundamento ameaçam a segurança e a democracia. Isso é apontado em estudos que mostram que certas emoções predispõem as pessoas a essas ideias. Tudo isso gravita em torno de ataques, na velocidade das redes sociais, da mais alta gravidade. As consequências perigosas da perspectiva conspiratória, a ideia de que pessoas ou grupos estão conspirando de formas ocultas para produzir um determinado resultado, se tornaram dolorosamente claras.
Nos EUA os dados apontam que os americanos sentem mais ansiosos, sobretudo em relação à saúde, segurança, finanças, política e relacionamentos. Esses sentimentos estão vinculados e abrangem o espectro político, gerando uma crise. E essa crise existencial pode promover pensamentos conspiratórios. Quando a pessoa se sente alienada ou indesejada, parece tornar o pensamento conspiratório mais atraente. Quando sentimentos de ansiedade ou alienação pessoal se combinam com uma sensação de que a sociedade está em risco, as pessoas experimentam um tipo de duplo golpe conspiratório. E não somente as crises pessoais que estimulam as pessoas a formarem suspeitas conspiratórias, reveses sociais coletivos também fazem isso. Embora os humanos busquem consolo em teorias da conspiração, raramente eles o encontram.
O pensamento conspiratório pode incitar pessoas a se comportarem de uma forma que aumenta sua sensação de impotência. No Brasil, as teorias conspiratórias estão no fato de que, a polarização política atingiu um nível elevado de intolerância que supera a média internacional de 27 países, segundo observadores. Tema perceptível no cotidiano do brasileiro nos últimos anos, o radicalismo que envolve as discussões político-partidárias foi o aspecto com mais destaque, em algumas pesquisas realizadas.
As pesquisas demonstraram que, os entrevistados no Brasil estão menos propensos a aceitar as diferenças. Para o cientista político e professor da FGV Marco Antonio Teixeira, a polarização no Brasil está ligada a diferenças de valores, e acabou sendo absorvida pelas disputas políticas. “Nos anos anteriores, as eleições traziam projetos políticos diferentes, não valores, do ponto de vista moral. Não se discutia moralidade em termos de religião, de ser a favor de cotas. Em 2018, foi quase uma luta do bem contra o mal. De conservadores e não conservadores“, observou.
Não temos cultura de dialogar ideias. Isso se reflete na família, no contexto educacional, na hierarquia das empresas. Uma conjunção de fatores institucionais que desestimula o diálogo. Essa talvez seja a origem. É um futuro incerto, dúbio. É preocupante. Valores morais têm sido apontados entre os principais motivos do acirramento político na sociedade brasileira, por vezes à frente dos embates diretamente políticos ou partidários. Vem de carona, o protagonismo das pautas morais que gera uma discussão em que argumentos são deixados em segundo plano, prevalecendo o radicalismo.
Dentro desse contexto de teorias da conspiração, observa-se que algumas estruturas políticas estimulam este tipo de enfrentamento a partir de uma técnica de propaganda que existe desde sempre e que foi explorada por regimes totalitários, que é a simplificação de discursos. Indicando um inimigo comum. Essas teorias da conspiração são uma reação humana a tempos confusos, porque estão todos tentando entender o mundo e o que que está acontecendo nele. Mas essas teorias conspiratórias podem causar dano real, especialmente quando são movidas por acirramentos de lideranças.
Fica o alerta de que ao tomar cuidado com essas teorias conspiratórias, muitas claramente suspeitas, vai se formando um muro de segurança. Devem-se fazer perguntas criteriosas nesse quadro de conspiração que vivemos, separando as verdades das mentiras. Talvez nem sempre seja uma tarefa fácil, mas será crucial para todos nós.