APolítica e a Religião estão entre os assuntos que mais geram discussão no Brasil, imaginem, então, quantas polêmicas surgiriam se esses dois assuntos se juntassem. E é justamente o que temos visto em nosso país: inúmeras polêmicas que tem como epicentro a má compreensão sobre a relação entre esses dois assuntos.
Religião e Política, em nosso país, são dois assuntos que, no fundo, as pessoas pouco sabem de seus fundamentos teóricos, tendo como base para avaliação, tanto de uma como de outra, a sua própria experiência e as manifestações destas em nosso dia-a-dia, onde toda a sua importância se perde em meio às concepções de senso comum, onde muitos são levados puramente pelos sentimentos que os dois assuntos despertam. Vividas assim, as experiências políticas e religiosas em nosso país passam longe de ter a eficácia que poderiam ter, deixando de trazer bons resultados para toda a sociedade.
Se, separados, os dois assuntos encontram nas manifestações, expressões, e ações comuns, uma realidade muito distante daquilo que deveriam ser, não passando de uma péssima caricatura daquilo que todos esperam, juntos, esses dois assuntos se tornam um grande poço de confusão e manobras ment
ais, que vêm se destacando bastante diante de todo o caos no qual o nosso país se encontra.
Essa mistura de uma caricatura política com uma caricatura da religião alcançou um de seus clímax na última eleição para presidente, onde muitos líderes religiosos se aliaram a alguns candidatos e, juntos, fizeram dessa união a força motriz para muitos atos durante toda a campanha.
Na última campanha eleitoral, muitos políticos se uniram a muitos líderes religiosos, principalmente cristãos, e juntos, pareciam querer implantar uma espécie capenga de “teocracia”, completamente construída por meios e caminhos humanos. Jair Bolsonaro foi o que mais se destacou ao fazer uso dessa mistura, mistura essa e teria o presidente como o seu personagem principal, sendo visto por seus apoiadores como um “enviado” de Deus.
E, a partir dessa ideia de “enviado de Deus”, aliada a uma ideia ainda mais vaga sobre os princípios do cristianismo, somadas ao desejo de poder demonstrado por muitos desses “líderes” religiosos, muitos começaram a imaginar que, a partir da “eleição” de um líder que era apresentado como o “enviado” de Deus, esse líder começaria a reger o país segundo os princípios e preceitos cristãos, instaurando o que, aos seus olhos, lhes pareciam uma espécie de “teocracia”, mas uma teocracia “alcançada” inteiramente por meios humanos que, na realidade, somente refletiria as ideologias, maneiras de pensar, e os desejos dessas pessoas.
Não é difícil de perceber que essa espécie de “governo teocrático”, completamente gerado e formado mediante a ambição humana, consequentemente trará mais problemas do que soluções, e isso decorre dos erros e da corrupção humana, sendo esse estilo de governo nada mais que uma espécie capenga de uma “teocracia humanizada”, que traz em si todos os problemas e defeitos do ser humano, que busca, por meio desse engodo, alcançar a realização de seus mais sórdidos desejos e, de quebra, jogam na lama o nome de Deus e do verdadeiro cristianismo, ao utilizá-los como um meio de validar todas as suas artimanhas e estratagemas, buscando enganar o maior número de pessoas possível, mesmo que suas ideias e palavras entre em choque com as palavras do próprio Cristo, quando diz que o seu reino “não é deste mundo”.
Wanderson R. Monteiro
Formado em Teologia, coautor de 4 livros e vencedor de três prémios literários.
(São Sebastião do Anta – MG)