* Lucimar Jerônimo do Carmo Stoker
Problemas com dinheiro e dificuldades no planejamento financeiro são comuns na vida de muitos indivíduos, mas alguns portadores de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) podem sofrer esse impacto de maneira um pouco mais acentuada.
Este é apenas um dos possíveis obstáculos que pode permear ou até mesmo dominar a vida de algumas pessoas com TDAH. Sem o devido manejo econômico torna-se fácil descontrolar-se. Mas sair dessa situação é muito difícil! Controlar gastos, talão de cheques, cartões de crédito, pagar contas de água, luz, telefone e cumprir outros compromissos financeiros é uma verdadeira maratona.
Uma parcela dos adultos com TDAH pode às vezes fazer compras por impulso, exceder seus limites de crédito, atrasar ou não efetuar o pagamentos de contas mensais, recorrer a empréstimos, ter os automóveis confiscados com frequência, baixar suas avaliações de crédito, dentre outras ocorrências. Além disso, têm maior probabilidade de não fazerem economia, poupança e até mesmo de não guardar notas e recibos ou documentos para posteriormente utilizá-los como deduções de impostos e, consequentemente, receber devolução do IR (Imposto de renda). Ainda pode sofrer com dificuldades de relacionamento, acabam por perder a confiança neles depositada e até mesmo a amizade, pelo fato de precisarem frequentemente de empréstimos com amigos e parentes.
Para indivíduos que apresentam esse tipo de comportamento qualquer possibilidade de compras é um momento que é visto como uma grande oportunidade, ou talvez a única, e como são realizadas separadamente, aparentemente parecem inofensivas, mesmo que estejam no vermelho. “Não posso perder esta oportunidade!”, “Devo conseguir arrumar o dinheiro depois”, “Só R$100,00 é fácil de pagar depois” são falas e pensamentos típicos. O vendedor muitas das vezes nem tem muito trabalho de convencer, é uma presa fácil. Vale ressaltar a sensação agradável e o prazer imediato. Apesar da satisfação momentânea, é sempre muito angustiante quando a bola de neve está formada, quando os cobradores começam a bater à porta, contas e créditos cortados, pagamentos de muitas taxas de juros. Assim é necessário buscar mais empréstimos, mas como geralmente seu nome já está sujo, a única forma é recorrer a outras pessoas, aquelas que ainda não foram procuradas. E quase sempre conseguem, porque acabam recorrendo a pessoas carismáticas que sentem o desejo de ajudar.
Tal dificuldade, apresentada por alguns desses indivíduos que possuem TDAH pode estar relacionada às funções executivas, “estas, por sua vez, podem ser entendidas como o conjunto de processos cognitivos de alta ordem que permitem o engajamento do indivíduo em comportamentos complexos. Essas habilidades permitem que o indivíduo possa traçar planos, manipular informações mentalmente, selecionar objetivos ou informações específicas, lidar com diversas informações ao mesmo tempo, considerando diferentes aspectos para a tomada de decisão, por exemplo, além de inibir impulsos ou comportamentos inadequados e estão subjacentes à habilidade de responder adaptativamente a situações novas e singulares (Elliott,2003).” “Essas funções possibilitam a uma pessoa se engajar em um comportamento proposital e independente, sendo que qualquer comportamento consciente direcionado exige, em maior ou menor grau, processo executivos (Pliszka,2004) . As funções executivas são relevantes para o funcionamento do indivíduo no seu cotidiano. Alterações nessas habilidades podem levar a desorganização e dificuldades em inibir comportamentos inadequados, problemas de planejamento, entre outras manifestações. Dessa forma, essas habilidades permitem ao indivíduo perceber e responder de modo adaptativo aos estímulos, responder frente a um objetivo complexo e composto, antecipar objetivos e consequências futuras e mudar planos de ações de modo flexível (Strauss,Sherman & Spreen,2006). Tais funções são plenamente desenvolvidas apenas no ser humano e têm como principal base neurológica o córtex pré-frontal(Goldberg,2002).
Você pode estar se perguntando então, o que fazer diante de tal situação? Algumas estratégias podem ser realizadas. Primeiro deve-se assumir que realmente você tem dificuldades em seu planejamento financeiro, estabelecer metas e controlar impulsos para compras, manter o foco em algum objetivo em longo prazo, como uma viagem de férias, por exemplo. Liste tudo que você deve, estabeleça regras, evite sair com cartão de crédito, e se sair escreva em um papel e coloque junto ao cartão: “Usar em prioridades”, não ande com dinheiro em espécie, use agenda para anotar e controlar seus gastos que já são fixos e mensais e os que por ventura aparecem. Não seja um gastador emocional, do tipo que paga a rodada de cerveja para os amigos porque hoje foi o dia do seu pagamento. O grande segredo é viver com o que ganha, ou melhor, não gaste todo mês mais do que você ganha, os gastos devem ser abaixo; ideal seria poupar 10% do seu salário para possíveis eventualidades e um planejamento curto ou longo prazo.
De fato, lidar com tal dificuldade não é nada agradável, mas é possível que este impacto seja amenizado através de tratamentos. Busque ajuda profissional de um psicólogo, onde a terapia indicada, devido a evidências científicas é a TCC (Terapia Cognitiva Comportamental). É preciso ter coragem e aceitar sua dificuldade, com certeza você terá dias melhores.
* Lucimar Jerônimo do Carmo Stoker, Professora da Escola Professor Jairo Grossi, Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC, Pós graduanda em Neuropsicopedagogia Clínica, Psicóloga na Biomed e Cenapsi.