“Quanto mais você trabalha mais sorte você tem” Sábio autor desconhecido
Cem mil já estava ótimo. Eu cobria o cheque especial, pagava a dívida com o Vladimir, emprestava um dinheiro para mamãe, adiantava umas parcelas do carnê do apartamento e ainda dava pra trocar a televisão. Se bem que, se eu ganhasse 100.000 na loteria, mereceria uma comemoração. Uma roupinha nova. Um restaurante legal. Um champanhe. Vladimir não ia perder.
Cento e cinquenta, vai. Se a pessoa vai ganhar na loteria, não precisa ficar economizando. Aí eu cobria o cheque especial, comprava um vestido caro, jantava num restaurante bem chique, pagava tudo para o Vladimir, dava um dinheiro para mamãe, quitava o carnê do apartamento, trocava a televisão, comprava um DVDezinho e guardava o restinho na poupança. Mas a pessoa vai ganhar na loteria e não vai fazer nenhuma viagem?
Duzentos mil, que seja. Ficava mais folgado. Dava para comprar um vestido caríssimo e fazia uma lipo, que eu não sou besta, cobria o cheque especial, pagava o Vladimir, quitava o carnê do apartamento, trocar a televisão, comprar um bom DVD, atapetar o apartamento inteiro, jantar lagosta, fazer uma excursão pelo nordeste e ainda sobrava mais pra guardar na poupança. Quer saber de uma coisa? Se é para sonhar, então eu vou sonhar logo alto.
Trezentos mil. Aí sim. Eu comprava um carrinho econômico, em vez de lipo fazia era uma plástica, encomendava um vestido bem cortadíssimo, justíssimo, lindíssimo, lagosta pra mim, camarão pro Vladimir, televisão, som, DVD, tapetes persas, Nordeste com Fernando de Noronha num resort paradisíaco, e ainda dava até pra levar a mamãe na viagem. É melhor não levar a mamãe na viagem. Ela vai reclamar de tudo o tempo todo. “A pessoa se sacrifica a vida inteira pra criar uma filha, e é isso que ela ganha?” Eu faço a minha viagem e mando ela fazer a dela.
Quinhentos mil, então? Vestido Gaultier, plásticas generalizadas, banquete com champanhe francês, home theater, excursão pra Europa pra mim, uma pra China pra mamãe, um carro com motorista, não tem nem graça eu aprender a dirigir de vestido Gaultier, e com a renda da poupança eu vivia feliz o resto da vida. O Vladimir não ia acreditar quando eu contasse pra ele. “Lembra quando você dizia que achava uma besteira isso de gastar dinheiro com loteria?”. O Vladimir ia voltar pra mim na hora. Imagina se ele não ia querer ter uma mulher milionária. Está certo que uma mulher milionária não mora num quarto-e-sala de fundos, mas pelo menos eu ia ter minha independência financeira. Eu não vou morar num quarto-e-sala de fundos.
Eu vou ganhar 1 milhão na loteria. Guarda-roupa completo, festa de comemoração no Jockey Club, viagens na primeira classe, um carro blindado e um três-quartos com suíte perto da praia. O Vladimir ia me amar como nunca ninguém amou alguém na vida. Mas, para garantir um amor eterno mesmo daqueles pra sempre, só um apartamento em Paris. Não há homem que não ame eternamente uma mulher francesa. Fica bem mais fácil do que uma num quarto-e-sala de fundos. Dois milhões? De dólares? Será que dá? É melhor eu ligar pro Vladimir e ver se ele me empresta mais 10 reais pra eu jogar dois cartões em vez de um. (autor desconhecido)
Vocês conhecem essa história, não é mesmo? Aquela eterna insatisfação. Mas você conhece alguém realmente ganhou? Porque no lugar de planejar no âmbito da fantasia não investimos num planejamento sustentável? Faz parte da programação cerebral humana o pensamento sequencial, entretanto, a maioria de nós não está usando essa linha de pensamento a seu favor para evoluir. Ao contrário, está sendo levado por essa linha sequencial para baixo até para a depressão. É preciso usar essa mesma fórmula para planejar a ordem das atividades que você precisa se envolver para chegar aonde você gostaria. Ao atingir essa primeira etapa, celebre, vibre, comemore. Saia para curtir e se orgulhar de cada etapa conquistada. Isso cria um reforço positivo no cérebro e ajuda na motivação, além de proporcionar a percepção de que estamos engajados em nosso projeto de aperfeiçoamento pessoal. Criar essas etapas também é importante quando temos problemas em alguma etapa, pois podemos olhar para trás e ver as etapas que já foram feitas e assim não nos deixamos levar por uma derrota em meio a outras vitórias. A forma de ver as coisas determina a nossa forma de encarar os fatos que influencia no engajamento do projeto de vida, por isso importância de se monitorar constantemente a forma como estamos interpretando os fatos a nossa volta. Busquemos o positivismo na nossa vida. Porque não usamos esses 10 reais que pegamos com o Vladimir para comprar um livro que fale sobre a reprogramação de pensamento positivo?
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]