Padre Gleidson Forte Martins fala sobre sua missão, seu jeito espontâneo e dá detalhes de um evento que está organizando, “Sambas para cantar com a alma”
O DIÁRIO DE CARATINGA traz em sua primeira edição de domingo do ano de 2016, uma entrevista com padre Gleidson Forte Martins. Nascido em Fortaleza, no Ceará, padre Gleidson foi ordenado no dia 16 de março de 2013, na primeira comunidade em que atuou ainda na sua terra natal.
Em seguida, foi morar em Belo Horizonte para continuar o serviço que já desempenhava como diretor de um Centro de Teologia Eucarística Pastoral e desde este episódio se considera “mineirense”. Ele explica: “Carrego um pouco da agitação do mar cearense e da elevação contemplativa das montanhas mineiras”.
Logo, padre Gleidson foi convidado a ser pároco de uma paróquia sacramentina na cidade de Rosário – Argentina, onde permaneceu por um ano e sete meses. Foi quando recebeu um chamado que considera um divisor de águas. “Fui transferido para a minha atual paixão: Caratinga City”.
Nesta entrevista, padre Gleidson fala sobre sua missão, o seu jeito espontâneo e dá detalhes de um evento que está promovendo em Caratinga e que já chama a atenção, “Sambas para dançar com a alma”, que será realizado nos dias 29 e 30 de janeiro, no ginásio do Centro Universitário de Caratinga. Além do show com padre Gleidson, o evento ainda conta com participação especial da Banda Via Vox.
Hoje o mundo oferece um leque de opções, mas por que o senhor escolheu ser padre?
A primeira escolha de ser padre não foi minha. Na verdade eu queria ser jornalista ou produtor de eventos. Deus me surpreendeu e me chamou para servi-lo como um padre, um sacerdote, um pastor e pai do Seu povo. Eu não queria brigar com Deus e acabei aceitando o seu chamado. Depois do primeiro sim, me entreguei ao sonho de Deus para minha vida e a cada dia tento escolher o que for da Sua vontade.
Como o senhor define sua missão dentro da Igreja Católica?
A missão não é somente minha. A missão é nossa! De todo cristão. Da comunidade. Da Igreja. O que eu procuro fazer é ajudar a criar maior consciência e compromisso com a vida que vem de Deus, através da espiritualidade e dos diversos encontros com a família, a comunidade de fé e a sociedade. Todos podem participar desta missão. O padre é apenas um motivador e orientador para que a missão seja assumida em conjunto.
O senhor tem um jeito extrovertido, espontâneo. Acredita que muitos fiéis ainda se ‘assustam’ com o seu jeito?
O jeito de cada pessoa revela muito sobre a sua formação familiar, cultural e religiosa. Se eu sou extrovertido e espontâneo é porque foi assim que eu me desenvolvi no aprendizado da vida. Quando temos maturidade e espírito cristão nós não nos assustamos com o jeito de ser do outro, mas exercitamos a aceitação e o respeito. Só podemos crescer de verdade quando unirmos as personalidades e as ideias, num mesmo objetivo, oferecendo espaços para todos. Se alguém se assustar com a minha pessoa, que seja por algum motivo em que eu deixei de amar e não pelo meu jeito de ser.
Como surgiu a ideia desse show e como está o processo de escolha do repertório?
Eu tinha um grande desejo de realizar o Réveillon de Luz em Caratinga. Uma festa para agradecer o ano que passou, apesar de tantos fatos desagradáveis e acolher com alegria e fé mais um ano para torná-lo novo de esperança. Por falta de tempo eu não consegui fazer a produção deste evento. Ouvindo várias críticas em relação ao som do Santuário eu pensei em seguir adiante o projeto de realizar um evento e daí surgiu a ideia de um show para ajudar na melhoria da acústica da nossa Igreja. Eu gosto de muitos estilos musicais, mas quero começar o ano com o samba, um ritmo que traduz a alegria do povo brasileiro, mesmo no meio das dificuldades do dia a dia. O repertório deste show é fruto de uma pesquisa que eu fiz durante o período natalino. Enquanto todos dormiam de noite, eu descansava aos sons de belíssimos poemas que fizeram e fazem parte da nossa história cultural brasileira. As canções que mais tocaram minha alma de emoção, de saudade, de entusiasmo e de alegria foram as escolhidas para o repertório.
Chama atenção o nome do show: Sambas para dançar com a alma. Geralmente é um estilo musical ligado ao carnaval. Como é trazer este estilo para dentro da igreja?
Criei este tema porque quero transmitir uma mensagem que vai além do pré-conceito ou da visão superficial que muitos têm deste universo musical. O samba tem poesia, história, sentimentos. A concepção deste show é para que o público ouça o que está sendo informado e transmitido musicalmente. Os sambas que apresentaremos são para deixar dançar dentro de nós as memórias, os afetos e os sonhos. É claro que no último bloco do show cantaremos sambas para dançar com a alma e com o corpo também. O samba pode ser relacionado ao carnaval, mas quem for neste show sairá com outra visão e, certamente, aprenderá que o samba é muito mais do que uma festa passageira. A Igreja não vive apenas para dentro, fechada em si mesma. Somos formados pela religião, mas não podemos esquecer que somos parte de uma cultura. Infelizmente a produção cultural do nosso país nem sempre ajuda a reforçar os valores cristãos ou não são acessíveis a todo o povo. Eu não quero trazer o samba para dentro da Igreja, mas quero levar a Igreja a reconhecer que é possível selecionar e desfrutar de uma boa e agradável música, mesmo não sendo religiosa.
Uma grande carência e necessidade atualmente é chamar os jovens para a igreja, o que não é um processo fácil. Como tornar a igreja atrativa para a juventude?
O ideal seria a própria juventude se aproximar da Igreja por constatar que Deus os ama e os ensina e ajuda a amar. A Igreja será atrativa para a juventude quando ela também amar o jovem deixando-o ele ser verdadeiramente jovem. Ser jovem é ser um portador da força e da ousadia de Deus. Se a Igreja limita e não dá espaço para o jovem entender e desenvolver esta força, é possível que ele não crie motivações para perseverar na religião.
Após este período em Caratinga, qual sua avaliação da cidade?
Quase 10 meses como um cidadão caratinguense e eu só posso agradecer pela acolhida e apoio que eu tenho recebido de 99,9 por cento das pessoas. Como dizem por aí: nem Jesus agradou a todos. Quem sou eu então para fazer diferente? Gosto da simplicidade da região, das manifestações de fé e da fartura deliciosa que saem do calor generoso dos fogões mineiros. Se hoje estou morando em Caratinga, digo que, com muita dignidade e respeito, quando me perguntam de onde sou, respondo: É claro que eu sou de Caratinga, uai!
OLHO
“Se eu sou extrovertido e espontâneo é porque foi assim que eu me desenvolvi no aprendizado da vida. Quando temos maturidade e espírito cristão, não nos assustamos com o jeito de ser do outro, mas exercitamos a aceitação e o respeito”.
“Eu não quero trazer o samba para dentro da Igreja, mas quero levar a Igreja a reconhecer que é possível selecionar e desfrutar de uma boa e agradável música, mesmo não sendo religiosa”.