*Eugênio Maria Gomes
É claro que não existe unanimidade em tudo, mas se existe algo que a maioria das pessoas concorda é que sempre é possível aprender e amadurecer em qualquer situação, ainda que diante de adversidades e de sofrimento. E com a pandemia, acreditem, não tem sido diferente. Sorrindo ou chorando, acreditando ou negando, a maioria de nós aprendeu e melhorou de alguma forma.
Outra questão que tem sido convergente no entendimento das pessoas é que a situação financeira de quem já passava alguma dificuldade, piorou, enquanto a de quem já vivia uma situação de lamuria econômica, escambou para a da miserabilidade. No Brasil, o número de desempregados ultrapassou 15 milhões de pessoas e cerca de 50 milhões de brasileiros sobrevive na tão falada “Linha da Pobreza”. Milhões de cidadãos, antes pertencentes à classe média, por conta da pandemia, estão passando aperto, passando por necessidades, por situações que, até então, não tinham vivenciado. Pessoas que estão com dificuldade para pagar a conta de luz, a conta de água, de comprar a cesta básica ou o remédio, algo que eles sempre fizeram, com seu próprio esforço. Ressalte-se, ainda, os milhares de brasileiros que passaram a compor a população de rua.
No bojo dessa triste realidade, veio também a aprendizagem. Muitos aprenderam a rezar mais e melhor, a falar menos da vida alheia, a cuidar mais de sua saúde, a higienizar devidamente os alimentos, a valorizar mais seus empregos, a conviver com a melancolia, a ver a vida passar com a sensação de que estavam parados. Outros aprenderam a levar a vida de forma mais leve, com mais propósito, com menos preconceitos e com mais respeito às diferenças. Aprenderam a viver mais devagar, a observar seus ritmos individuais, a humanizar os relacionamentos e a priorizar o que é mais importante. Sem falar nos que aprenderam a consumir menos, a ter menos coisas para cuidar e menos coisas para fazer…
De alguma forma, todos nós, aprendemos com a dor!
No entanto, há algo que parece ser unanimidade nesse tempo de pandemia: o crescimento da solidariedade. É como se descobríssemos que a bondade é capaz de nos tornar pessoas mais felizes, que a melhor recompensa está nas boas ações que realizamos nessa nossa caminhada. Indicando ou não a hidroxicloroquina, defendendo ou não a vacina, aceitando ou não a subnotificação de mortes e de infectados pela Covid-19, o brasileiro passou a olhar mais em seu entorno, enxergar o outro, antes fora do alcance de sua visão social, mesmo às vezes estando muito próximo. Sim, estamos mais solidários e, talvez, esse seja um dos muitos aprendizados que tenham chegado para ficar.
Descobrimos que, embora também tenhamos problemas nesse momento, sempre podemos ajudar um pouco aquele que precisa de algum tipo de apoio. E a maneira de ajudar pode ser desde a doação de uma cesta básica a uma simples orientação, de um remédio a uma palavra amiga. E o que temos visto, em todos os lugares, inclusive nas redes sociais, são relatos e campanhas, em prol de alguém. Além de todas as instituições sociais que já ajudavam os menos favorecidos, outras surgiram nesse período, a exemplo do “Anônimos do Bem”, cujos relatos dos que têm sido atendidos por ela são dos mais emocionantes. Vejam que coisa bonita: um grupo de pessoas, sem rostos e sem nomes expostos, do qual você ouve falar, mas não sabe quem o compõe, que dedica parte de seu tempo para socorrer quem precisa de ajuda nesses tempos tão difíceis. Bem no estilo “o que a mão esquerda faz, a direita não precisa saber”. É a solidariedade aflorando e acolhendo corações!
A pandemia não apenas fez aflorar a religiosidade, a vontade de agradecer por graças recebidas, mas também a prática da fé, através das obras. A pandemia, de certa forma, tem propiciado o entendimento de que, ninguém tem tão pouco que não possa repartir e que, ser solidário, é acima de tudo ser instrumento da mudança dos sem rumo, dos sem sonhos, dos quase sem vida.
“Permita-se rir e conhecer outros corações. Aprenda a viver, aprenda a amar as pessoas com solidariedade, aprenda a fazer coisas boas, aprenda a ajudar os outros, aprenda a viver sua própria vida”.
*Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.