É inquestionável que vivemos em nossa atualidade tempos conturbados, tempos que fazem com que, mesmo as pessoas mais otimistas, reconheçam o tamanho da dificuldade que se apresenta, e que se escancara aos olhos de qualquer um, com relação às mudanças, às modificações e às transformações de nossa sociedade atual, a escassez de soluções que possam apontar para melhorias e, muito menos, que apontem para a restauração de nossa sociedade à um estado no qual a convivência social possa se dar em um âmbito no qual prevaleçam o bem estar, a segurança, o altruísmo, o equilíbrio nas relações sociais, proveniente da boa relação entre as pessoas que, querendo ou não, fazem parte do mesmo meio, formam, juntas, a estrutura da mesma comunidade que, unida à outras, formarão a estrutura geral de nossa sociedade brasileira.
Acredito que muitas pessoas, mesmo aquelas que não tenham afinidade com a sociologia, já ouviram, leram, ou tiveram algum contato, mesmo que breve, com a expressão: “O homem é um ser social por natureza”, ou variantes da mesma. Tal expressão aponta para a nossa necessidade de estabelecermos relações com as outras pessoas, de estarmos em contato com outros, de estarmos inseridos em um meio no qual possa nos propiciar o envolvimento com outros indivíduos semelhantes.
Como “ser social por natureza”, o ser humano necessita de outros semelhantes para sua sobrevivência, não só em termos de necessidades físicas, básicas, mas também com relação às suas necessidades psicológicas, emocionais/afetivas, etc, as quais podem se apresentar de várias e diferentes formas.
A família sempre se constitui a primeira estrutura na qual somos inseridos sociologicamente, sendo essa estrutura a base de toda e qualquer sociedade e, a partir da qual, são alicerçados os primeiros rudimentos para a nossa vida em sociedade, para nossa vida na sociedade fora do âmbito familiar.
É inegável que desde o princípio de nossas vidas somos impulsionados a ter diferentes níveis de relações com as outras pessoas, que somos colocados em uma situação de interdependência ante à outros indivíduos e, que, a partir dessas diferentes formas de relacionamento, que também se expressam em diferentes níveis, são formados nossos laços afetivos e sociais, tendo importante papel na formação e preservação da estrutura social. Mas, o que vemos no homem moderno, e na sociedade constituída por ele, é totalmente o contrário disso…
Vivemos em uma época em que as estruturas sociais são rompidas, e corrompidas, pela nova forma de viver do homem moderno. Mesmo vivendo inseridas em uma sociedade, e expostas a todo instante ao contato social, as pessoas de nossa sociedade moderna andam aprisionadas dentro de si mesmas, submersas dentro de si mesmas, vivendo total e completamente alheias aos acontecimentos sociais, e as outras pessoas que compõem nossa sociedade.
Vivendo somente por si e para si, o homem moderno perdeu completamente o sentido de viver em sociedade, de viver e estar em uma “comunidade”. Com cada pessoa movida por suas vontades e ambições egoístas, ninguém mais busca aquilo que seria bom para a “comum” “unidade” da sociedade. E essa falta de estarmos juntos, unidos em prol de propósitos que são compartilhados pela maioria, e que se constituem como interesse dessas pessoas, essa falta de almejarmos uma unidade em comum, almejarmos ideais e valores úteis para todos os indivíduos que compõe a sociedade na qual estamos inseridos, tem sido um dos principais motivos da degradação de nossa sociedade atual.
Diante disso, faço uso de uma frase de Tocqueville, que fala sobre a atitude do homem diante da sociedade, que se enquadra perfeitamente em nosso contexto social, e que também expressa claramente a situação na qual se encontram as pessoas que compõe a sociedade que vivemos.
“Cada pessoa, mergulhada em si mesma, comporta-se como se fora estranha ao destino de todas as demais. Seus filhos e seus amigos constituem para ela a totalidade da espécie humana. Em suas transações com seus concidadãos, pode misturar-se a eles, sem no entanto vê-los; toca-os, mas não os sente; existe apenas em sim mesma e para si mesma. E se, nestas condições, um certo sentido de família ainda permanecer em sua mente, já não lhe resta sentido de sociedade.”
Infelizmente, esse estilo de vida tomou conta de toda a nossa sociedade. Cada pessoa vive a sua vida alheia a todas as outras, sem se importar, diretamente, com nenhuma pessoa que foge ao seu pequeno grupo familiar e “social” e, muito menos se importa com as consequências de suas ações e escolhas que possam vir a afetar, indiretamente, alguma outra pessoa, ou a sociedade como um todo. Nossa sociedade atual é formada em sua maioria por pessoas frias, insensíveis, indiferentes… pessoas que têm a sua atenção despertada pelo sofrimento e mazelas humanas, tão presentes e constantes no Oriente Médio, ou pela degradação do meio ambiente, mas que, muitas vezes, não sabem o nome de seus vizinhos, demonstrando, na prática, o descaso para com o próximo, que tanto tentam maquiar através de um vão discurso ideológico.
Diante de tanto descaso, tanta indiferença, diante de tanto egoísmo, falsidade e mesquinhez, hoje, mais do que nunca, cada pessoa é uma ilha e, quanto mais o tempo passa, o acesso a cada uma dessas ilhas fica cada vez mais remoto.
Muitos indivíduos de nossa sociedade, são levados pela tentação de satisfazerem seus desejos pessoais, egoístas, em detrimento de toda a comunidade. Como exemplo, cito a corrupção que ocorre em tão grande escala durante nossos períodos políticos, onde muitos vendem seu voto por coisas, muitas vezes, tão ínfimas e insignificantes, sem se importarem com o mal que podem estar causando para toda a sociedade. Infelizmente, pessoas que buscam a satisfação de seus desejos egoístas em detrimento de toda a comunidade é muito mais comum do que imaginamos, e vai muito além dos períodos políticos.
Não devemos nos acomodar nesses “novos” padrões de nossa sociedade. Precisamos nos unir, para todos, juntos, buscarmos e lutarmos pelas coisas que venham ser o melhor para a sociedade em geral. A busca da satisfação de desejos egoístas de alguns tem sido uma das maiores causas do desequilíbrio em nossa sociedade. Essa luta, baseada no “cada um por si”, onde cada um busca por conta própria conseguir aquilo que é considerado seu “direito”, tem levado a sociedade brasileira para o buraco.
Só conseguiremos fazer valer os nossos diretos como cidadãos quando nos unirmos, e juntos, como uma sociedade bem organizada e, independentemente de muitas de nossas visões particulares, lutarmos pelos valores e ideais que realmente valem a pena, nos trazendo de volta a união, o companheirismo, a interdependência entre todos os indivíduos, restaurando, e resgatando, o sentido da palavra “nação”.
Enquanto os membros de nossa “sociedade” continuarem vivendo em prol da satisfação de seus próprios desejos, continuaremos vivendo em uma sociedade desintegrada, onde não há consenso, onde não há compatibilidade, companheirismo, sentido de comunidade… se cada membro não fizer a sua parte, o corpo nunca funcionará bem. O bom funcionamento do corpo depende da boa relação entre seus membros, de sua união, sua integração, de sua cumplicidade, seu companheirismo, seu senso de responsabilidade para com o corpo em geral… o mesmo se dá com a sociedade. A sociedade só vai bem quando todos os membros que a compõe trabalham juntos em busca de um mesmo propósito, dos mesmos ideais.
Que venhamos pensar quais tem sido nossos papéis diante da sociedade na qual estamos inseridos, e analisar se não estamos simplesmente buscando satisfazer somente as nossas vontades, presos em nós mesmos, completamente indiferentes e alheios às nossas responsabilidades para com a sociedade em geral…
Wanderson Reginaldo Monteiro
(São Sebastião do Anta – MG)