- Eugênio Maria Gomes
Estava muito frio naquela terça-feira de junho, quando tive que tomar banho mais cedo que o de costume. O motivo, porém, era mais do que justo: atender ao convite da amiga Liginha, presidente da Academia Caratinguense de Letras, para participar de uma de suas aulas de Português, em Ubaporanga, no Seminário Propedêutico São José, para falar de gêneros textuais, particularmente sobre a Crônica.
Ao sair debaixo de dois edredons que me cobriram à noite, percebi logo que o frio estava mais intenso que nos outros dias. Acho até que foi o ápice das baixas temperaturas, provocadas por uma massa de ar frio polar, que chegou ao Sudeste do Brasil, em meados do mês.
Sem coragem de tirar o moletom, liguei o chuveiro e esperei a água ficar quente o suficiente, esquecendo-me nesse dia do necessário controle do consumo de água e de energia, tão importantes nos cuidados com o nosso planeta. Assim que o espelho foi tomado pelo vapor, tirei a roupa e me dirigi ao box do banheiro. Coloquei a ponta dos dedos na água e percebi que podia girar a torneira mais um pouquinho, diminuindo a saída da água…
O chuveiro fez aquele barulho característico de maior aquecimento e, enquanto isso não acontecia, decidi escovar os dentes primeiro. Terminada a tarefa, coloquei a mão, mais uma vez, na água e percebi que ainda não era o momento adequado de entrar debaixo da ducha. Assim, resolvi girar a torneira mais um pouquinho…
Enquanto a água ainda esquentava lentamente, decidi lavar a cueca. Terminada essa tarefa, percebi logo que ainda não era o momento de entrar debaixo da ducha. Molhei os cabelos, apenas com as mãos, e passei o xampu. Não dava para esperar mais e, então, entrei debaixo da ducha. Lavei a cabeça e, enquanto a água escorria pelo corpo, percebi que a temperatura ainda não era a ideal e resolvi girar a torneira mais um pouquinho…
Aquele foi “o pouquinho” mais desastrado que eu já vi: o chuveiro desligou e a água, numa rapidez impressionante, caiu fria sobre o meu corpo. De fria a gelada, foram questões de segundos. Acabei tomando banho na temperatura da água utilizada para escovar os dentes, ou seja, morna, sem falar que o meio ambiente poderia ter sido poupado do grande desperdício de água e de energia.
Chegando ao seminário, depois de muito bem recebido pelo reitor – Padre Raniel -, e pelos alunos, dei início ao nosso encontro, já com essa crônica na cabeça, certo de que, aquele “só mais um pouquinho” do banho, coroou essa eterna insatisfação do ser humano, que extrapola as suas necessidades naturais, porquanto é fruto dessas exigências criadas pelo mundo do consumo. Na vida, a decisão de se aplicar o “mais um pouquinho”, nem sempre é a melhor escolha.
- Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.