Estresse pode inflamar e enfraquecer o coração, incidência aumenta durante a pandemia. Médico André Rausch explica o que é essa síndrome
CARATINGA – Em tempos de pandemia, o cuidado com a saúde deve ser redobrado, ainda mais quando se fala de coração. O estresse causado por diversos fatores e preocupações pode levar uma pessoa a desenvolver a “Síndrome do Coração Partido” (Síndrome de Takotsubo).
Segundo o médico André Rausch Carellos Silva, especialista em cardiologia e clínica médica, a doença é conhecida como cardiomiopatia induzida pelo estresse, caracterizada por uma perda regional transitória da força do coração que imita um infarto, porém sem evidência de qualquer obstrução na artéria do coração.
Nesta entrevista o médico André Rausch explica a síndrome, e ainda fala do período em que foi contaminado pela covid-19.
O que é Síndrome do Coração Partido (Síndrome de Takotsubo)?
É também conhecida como cardiomiopatia induzida pelo estresse. É caracterizada por uma perda regional transitória da força do coração que imita um infarto, porém sem evidência de qualquer obstrução na artéria do coração. Ocorre em aproximadamente 1 a 2% dos pacientes com suspeita de infarto agudo.
Quais pessoas são mais propensas a contrair essa síndrome? O estresse é o seu principal causador?
Sua incidência é maior em mulheres acima de 60 anos (pós- menopausa). Também está associada ao estresse físico e emocional. Acomete frequentemente os pacientes que possuem transtornos psiquiátricos como síndrome do pânico, ansiedade, depressão e pacientes com infecção grave em terapia intensiva.
Que tipo de fator pode provocar essa doença?
Pode ocorrer em situações de extremo estresse, como por exemplo, após uma perda de um ente querido, términos de relacionamentos, perda financeiras, ansiedade, medo e etc.
Quais os sintomas?
Os sintomas mais comuns dessa síndrome são dor no peito, falta de ar, perda transitória de consciência e palpitação. Em casos mais graves pode haver queda da pressão arterial e confusão mental.
Já que é uma situação facilmente confundida com síndrome coronariana, como é feito o diagnóstico de Takotsubo?
Existem critérios para fechar o diagnóstico de Takotsubo. Sendo eles o eletrocardiograma alterado, dosagem de troponina elevada, perda da força do coração evidenciada pelo ecocardiograma, ausência de obstrução no cateterismo das artérias do coração, ausência de feocromocitoma ou miocardite através da ressonância magnética.
Como é feito o tratamento?
O Takotsubo é um distúrbio transitório, seu tratamento consiste em terapia de suporte de insuficiência cardíaca (oxigênio, diuréticos beta bloqueador e vaso dilatador) e a resolução do estresse físico e emocional. O prognóstico na fase precoce tem o mesmo grau de complicação que do infarto. Pacientes que sobrevivem à fase inicial, geralmente recuperam a força do coração em um tempo médio de quatro semanas.
O estresse causado pela pandemia da covid pode provocar a Síndrome do Coração Partido?
É possível que o estresse do isolamento social, o impacto da diminuição de renda com aumento do desemprego, a perda de entes queridos vítimas da covid possam elevar o número de casos. Foi observado em um estudo internacional durante a pandemia da covid-19, um aumento de quatro vezes nos casos de Takotsubo. Essa situação da covid fez com que Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) iniciasse estudo inédito para a criação de um registro nacional sobre a síndrome do coração partido.
Como o senhor avalia essa iniciativa?
É muito importante identificar o perfil epidemiológico Brasileiro para a doença, verificar os possíveis fatores contribuintes, pois só assim poderemos diagnosticar e tratar precocemente diminuindo o índice de complicações e mortes.
Quais as recomendações que o senhor faz para que as pessoas não tenham a Síndrome do Coração Partido?
Evitar o máximo situações estressantes. Procurar estar bem fisicamente e emocionalmente. A prática de atividade física é um grande aliado, além de ajudar no controle de fatores de risco cardiovascular, é uma excelente forma para diminuir o estresse e a ansiedade. Terapia, yoga, acompanhamento psiquiátrico é fundamental.
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COVID – 19
O senhor teve covid-19, como foi que contraiu a doença?
Sabemos que a doença se propaga facilmente e está espalhado pela cidade, até pouco tempo tínhamos movimento intenso de pessoas na rua sem o uso de máscara. De fato é o local onde tomamos menos cuidados. A profissão em si também é um fator de risco, não dá pra saber exatamente onde foi a contaminação.
Quais os sintomas teve?
Febre, dor no corpo, diarreia, tosse, cansaço e falta de ar.
Quanto tempo levou para se recuperar?
Aproximadamente três semanas, destas uma foi com tratamento hospitalar.
O que o senhor diz para as pessoas que continuam ignorando a doença, mesmo diante de tantas contaminações e mortes?
Eu sou uma pessoa saudável, foi um susto pra mim a forma que a doenças se manifestou. Aconselharia a todos independente da sua idade (jovens ou idosos), portadores de doenças prévias ou não, se cuidem, usem máscara, higienize mais vezes as mãos, tomem todas as precauções, a doença em você ou em seu familiar pode ser muito mais do que uma gripezinha.