Esgotamento profissional compromete a saúde dos trabalhadores
CARATINGA – Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.
Entre as profissões mais acometidas por esta nova epidemia laboral, estão policiais, professores, jornalistas, médicos e enfermeiros, entre outros.
Pesquisas recentes demonstram que 33% dos trabalhadores brasileiros sofrem de Burnout e este número tem aumentado muito durante a pandemia, que causa mais estresse.
O psicólogo Davi Silva Braganti, em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, fala sobre a doença e o que pode ser feito para evitar e também tratar.
O que é Síndrome de Burnout?
Burnout, em inglês, significa esgotamento. É considerado um transtorno, pelo CID-10 (Classificação Estatística e Internacional de Doença e Problemas Relacionados à Saúde). Em suma, a Síndrome de Burnout é um desgaste que prejudica tanto os aspectos físicos como os emocionais de uma pessoa, levando a um esgotamento e desajuste profissional e que interfere na vida de uma maneira geral. Pode afetar homens e mulheres e se manifesta quando a relação com o trabalho acaba se transformando em estresse constante ou prolongado, ansiedade e nervosismo intensos e contínuos.
É fácil confundir essa doença com estresse e depressão? Os sintomas são relativamente parecidos?
Apesar de alguns sintomas semelhantes, as três condições devem ser tratadas e classificadas de maneira distinta. Na Síndrome de Burnout a pessoa pode se sentir estressada e sobrecarregada por um longo período, mesmo nos momentos que não é necessário estar tão ligado e ativo. Estes fatores tendem a ocorrer por causa do trabalho, gerando sentimentos de culpa e de cansaço. Nesse sentido, este se diferencia da depressão já que a infelicidade e sentimentos de culpa são relacionados à vida, de uma forma geral, e não apenas a uma pequena parte dela, como o trabalho.
Como é feito o diagnóstico? Como diferenciar se é um episódio pontual de algo que merece mais atenção e cuidado?
De acordo com o Ministério da Saúde, “o diagnóstico é feito por psiquiatras e psicólogos após análise clínica do paciente e são eles os profissionais de saúde indicados para orientar a melhor forma de tratamento, conforme o caso”. Identificar uma pessoa que tenha a síndrome é importante para ajudá-la, bem como para tornar o convívio o melhor possível. Ao observar alguns dos sintomas (irritabilidade, fadiga, pressão alta, insônia, isolamento, depressão, pessimismo e baixa autoestima, dificuldade de concentração, sentimento de apatia e desesperança, dores musculares e de cabeça, perda de prazer), o melhor a fazer é procurar uma consulta com um profissional Psicólogo, que auxiliará nessa identificação.
Como se dá o tratamento?
Através de uma avaliação e processo psicoterapêutico com um psicólogo, profissional adequado, para identificar em qual nível da síndrome a pessoa se encontra e assim auxiliar no enfrentamento ao problema. Nos casos mais graves, o tratamento acontecerá juntamente com um médico psiquiatra que poderá indicar um tratamento medicamentoso, para somar ao processo. Os efeitos e duração do tratamento, também variam de acordo com cada pessoa e a gravidade do quadro. É importante lembrar e ressaltar que ninguém precisa passar por isso sozinho.
A incidência desse transtorno tem crescido expressivamente nos últimos anos? Quais são os fatores que contribuem para elevar essa estatística?
De acordo com dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, houve um aumento de “reclamações trabalhistas e de condenações de empresas com práticas abusivas”. Atualmente, percebemos que muitos empregadores estão focados no sucesso, com ênfase apenas aos bons resultados e lucro, e esquecendo dos benefícios que funcionários motivados podem trazer à organização.
Existem profissões consideradas mais suscetíveis?
Possivelmente, as pessoas “viciadas em trabalho” e também com uma carga horária excessiva de trabalho podem sofrer desse distúrbio. E alguns profissionais, por trabalharem em empregos e funções que exigem bastante delas estão mais pré-dispostos, justamente pelas características do trabalho. Podemos pensar em algumas funções, como: profissionais da saúde em geral (sobretudo nesse tempo de pandemia), jornalistas, advogados, professores, psicólogos, policiais, atendentes de telemarketing.
O empregador tem algum tipo de responsabilidade? A forma que ele trata seu funcionário pode levá-lo a ter essa síndrome?
A cobrança exacerbada, a falta de reconhecimento, o excesso de responsabilidades pelos superiores, pode impactar, sim, de forma negativa na vida pessoal e profissional, colaborando assim para o desenvolvimento da síndrome.
Os colegas de trabalho podem ajudar?
Ao perceber que um colega de trabalho está apresentando os sintomas característicos de Burnout, a primeira coisa a fazer é conversar, buscar compreender o que está acontecendo, ouvir com atenção. Aconselhe seu colega a buscar por ajuda, apoio de um profissional de psicologia.
Há alguma pesquisa mostrando se o casos de Síndrome de Burnout aumentaram com essa pandemia de coronavírus?
Especialistas destacam que com o covid-19 houve um aumento, desse problema já existente e presente. Os profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus, profissionais que estão em dupla jornada com o home office e cuidando dos filhos e familiares em casa, 24 horas por dia, enfrentam o desgaste e a fadiga ocupacionais devido ao aumento do estresse causado pela pandemia da covid-19. Vivenciamos esse período de isolamento e distanciamento social, que também contribuem para o agravamento de alguns sintomas.
Existe uma maneira de prevenir o surgimento desse problema?
Sim, existem meios de prevenção que são práticas e estratégias simples e até mesmo prazerosas, que podem diminuir o estresse e a pressão no trabalho: o processo psicoterapêutico (o apoio psicológico é importante), exercícios físicos, alimentação adequada e saudável, momentos de lazer com familiares e amigos, fazer atividades que “fujam” à rotina diária, aproveitar os dias de férias e folgas, vínculos e relacionamentos saudáveis no trabalho.