Dentre as reclamações, horário do início das provas e pouco tempo para resolução das questões. 1.547 pessoas se inscreveram para o concurso no município
DA REDAÇÃO- No último domingo (8), candidatos realizaram provas concorrendo a cargos pela Secretaria de Estado de Educação. No entanto, horas depois, inúmeros foram os comentários nas redes sociais, com reclamações sobre a organização e suposto vazamento de fotos e informações diretamente das salas onde ocorriam o concurso público.
Na regional de Caratinga, também houve disputa de vagas para os cargos de Especialista da Educação Básica (EEB) e professor de Educação Básica (PEB)- para as disciplinas de Artes, Biologia/Ciências, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Estrangeira Moderna/Inglês, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia. De acordo com números fornecidos pela 6ª Superintendência Regional de Ensino (SRE), somente em Caratinga 1.547 pessoas se inscreveram para o concurso.
O Sind-UTE de Caratinga também recebeu queixas de candidatos. Em entrevista ao DIÁRIO, o coordenador André Freitas destacou como o sindicato tomou conhecimento das reclamações. “Num primeiro momento recebemos informações através de redes sociais, servidores que são concursados e participaram do processo do concurso, eles também são filiados ao sindicato, nos mandaram diversas mensagens, reclamações. Posteriormente, com as notícias correndo pela internet, começamos a ter a preocupação de olhar algumas questões específicas de Caratinga”.
O primeiro ponto levantado foi o horário das provas, que não seguiu o previsto em edital. “As provas estavam agendadas para 8h e a maioria delas começou às 9h, tendo algumas começado até 9h15 ou 9h20. Existe um vazamento de algumas imagens de provas que foram feitas nesse concurso, mas não identificamos como sendo imagens provenientes de Caratinga, parece que aqui não teve esse problema”.
Além disso, candidatos criticaram a organização das provas e o tempo de aplicação, conforme destaca André. “O nível de dificuldade da prova também foi um questionamento muito grande porque os professores alegaram que o tamanho das provas, das questões não eram adequadas para o horário que foi proposto. É prática comum nos concursos, quando se tem o horário final, você tem o mínimo de candidatos na sala. Inclusive geralmente o edital prevê que os três últimos têm que sair juntos e nesse concurso tivemos muitos locais onde o concurso foi encerrado com 20/25 candidatos ainda na sala, o que passa para nós uma sensação de que talvez realmente a prova tenha sido extensa”.
Foram inúmeros os contatos e o Sind-UTE de Caratinga não sabe precisar quantos candidatos procuraram o órgão. “A reclamação está generalizada. Como hoje em dia o WhatsApp tornou muito dinâmico os contatos, as mensagens, não temos como precisar números. Vi uma informação jornal dizendo que o Ministério Público recebeu 400 reclamações. Só que mesmo esse número é uma referência porque não sabemos se o Ministério Público de cada uma das comarcas também recebeu reclamações individualizadas. Se foi só o de Belo Horizonte são 400 reclamações pelo menos, mas temos orientado às pessoas que nesse primeiro momento a reclamação seja feita diretamente à empresa. Só posteriormente com o resultado da reclamação feita para a empresa é que devemos tomar a segunda medida, que é a via judicial ou Ministério Público”.
André reforça a orientação aos candidatos. “Como o sindicato como pessoa jurídica não é parte do processo, não pode fazer questionamentos diretos. O que a gente tem feito é orientado as pessoas a procederem o recurso tanto das questões quanto das condições de prova e depois que a Fumarc der as respostas desse período de recurso, vamos dar o apoio jurídico para as que continuarem se sentindo lesadas”.
NOTAS DE ESCLARECIMENTO
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação informou que a empresa contratada para realizar o concurso – Fundação Mariana Resende Costa (Fumarc) – relatou que houve problemas com entrega de listagens de candidatos em quatro locais de prova em Belo Horizonte. “Por causa disso, a empresa decidiu adiar em uma hora o início das provas em todos os locais nos quais elas seriam aplicadas, tanto na parte da manhã quanto na parte da tarde”.
Além disso, disse que no final da tarde de domingo tomou conhecimento de denúncias que circulavam em redes sociais quanto ao uso de celulares em ambiente de provas, além de fotos de supostas provas. “A SEE acionou imediatamente a Fumarc para apuração das denúncias, e aguarda uma posição da empresa”.
Já a Fumarc alegou um “problema de logística”, o que causou o prolongamento do horário de início das provas em 60 minutos. “O material de apoio aos fiscais, com a lista de presença dos candidatos, que seria destinado a quatro escolas de Belo Horizonte, foi embarcado em veículo da Fumarc com outra rota de distribuição. Com isso, o veículo da Fumarc teve que retornar ao ponto de origem para a destinação correta do material de apoio. Para garantir aos candidatos as mesmas condições na realização das provas, o início do concurso, em todas as regiões, ocorreu quando as quatro escolas receberam o material de apoio”.
Ainda segundo a organizadora, também com o objetivo de respeitar o intervalo entre as provas da manhã e tarde, considerando que muitos candidatos participariam dos dois concursos, o início das provas, neste segundo turno, também foi prolongado. “Importante ressaltar: a Fumarc, com 40 anos de experiência na realização de concursos públicos e privados, está apurando os fatos envolvendo este concurso”.
“Movimento para desmoralizar o concurso”
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE-MG) também se posicionou sobre o assunto e disse que a realização do concurso público para cargos da educação foi uma “importante conquista da categoria”, que realizou, em 2017, uma greve nacional. “Ao final do movimento, um dos compromissos do governo foi a realização deste concurso. Embora o edital não tenha contemplado todos os cargos e carreiras, quase 17 mil vagas foram disponibilizadas para o concurso, constituindo uma importante conquista para os cargos de Professor e Especialista da Educação Básica. O cronograma do concurso foi feito dentro do limite do calendário eleitoral para sua homologação ainda no primeiro semestre de 2018”.
No entanto, o Sindicato citou que além dos atrasos se depararam, em algumas regiões do estado, com práticas que sugerem um “movimento organizado para desmoralizar o concurso”. “Pessoas fizeram filmagens dentro das salas de prova, fotografias de gabaritos, pacotes de provas, listas de presença e questões de provas, utilização de celulares dentro das salas para posterior divulgação. Na sequência, começou a circular uma orientação de um grupo que assina ‘SISDEMG’ pedindo que as pessoas enviassem os relatos. Este grupo é contra concurso público e há muito tempo defende efetivação sem concurso e contrato de 5 (cinco) anos também sem concurso público. Identificamos que, em outros locais, a realização das provas transcorreu sem nenhum problema”.
Ressaltou que a empresa contratada tem vasta experiência nesta área. “Não é o primeiro concurso que realiza. O que nos causou ainda mais espanto diante dos relatos que recebemos ao longo do dia. Várias imagens divulgadas sugerem que foram feitas e divulgadas por pessoas que trabalharam na aplicação das provas, a serviço da empresa responsável pelo concurso. A permissão de utilização de telefones celulares e outras práticas dentro das salas e nas dependências dos locais sugerem que não houve a correta fiscalização por quem tinha o dever de fiscalizar”.
Ainda na avaliação do Sind-UTE/MG, o atraso do início da prova em uma cidade força o atraso de todas, “o que sugere que pode ter sido provocado”. “As fotos tiradas em algumas cidades (ou uma) se espalharam como se fossem em toda Minas Gerais, criando a ideia de que isso aconteceu em todo o Estado. O padrão das fotos que estão se espalhando deixa o registro de que são todas iguais”.
Por fim, o Sindicato garantiu que solicitará que o Governo do Estado preste explicações e investigue as práticas relatadas. “Que os responsáveis sejam responsabilizados pelos atos criminosos e que as pessoas que fizeram inscrição para o concurso não fiquem prejudicadas. O Sindicato reitera que as práticas identificadas sugerem a existência um movimento organizado contra o concurso”.