CARATINGA – No Brasil, o Dia dos Pais é comemorado no segundo domingo de agosto, portanto hoje. A definição de pai é a figura masculina de uma família que tenha um ou mais filhos e assume o primeiro grau de uma linha ascendente de parentesco. Porém, na vida a definição vai muito além, pois não é o sangue que faz um pai, mas sim sua capacidade de amar aquele que chama de filho.
Para comemorar esse dia tão importante, o DIÁRIO DE CARATINGA escolheu contar a história de um pai adotivo. Adotar é um ato de coragem e muito amor, sem preconceito, e com total responsabilidade por aquele novo ser que entra na família e passa a fazer parte dela para sempre. E foi exatamente assim que aconteceu com o aposentado Antônio Elvécio Marçal de 61 anos e seu filho Ângelo Pereira Marçal, 17.
A história teve início em novembro do ano 2000. O senhor Antônio, trabalhador rural, já estava com sua família praticamente constituída. Casado com Luzinete, já tinham tido três filhas, Tatiana, Adriana e Ana Paula, três moças entre 11 e 17 anos. Mas a vida sempre reserva surpresas e no caso de Antônio, foi uma bastante agradável, a chegada de um filho de coração.
A ADOÇÃO
O senhor Antônio, sentado ao lado do filho Ângelo, contou como foi a história que os uniu e a cada detalhe era possível ver nos olhares dos dois, sentimentos imprescindíveis para um bom relacionamento familiar: amor e orgulho.
O aposentado que reside no distrito de Dom Lara, zona rural de Caratinga, contou que no ano de 2000, o pai biológico de Ângelo, nome dado pela família de sangue, havia perdido a esposa e ficou muito confuso e sentiu temor em não conseguir criar o menino, por isso resolveu pedir alguém de confiança que o fizesse.
O pai biológico de Ângelo morava e ainda mora em Bom Jesus do Galho e resolver pedir ao senhor Antônio que tomasse conta de seu menino. “Ângelo estava com nove meses. Vimos que estava difícil para o pai encontrar uma pessoa que cuidasse dele, então falei com minha esposa: ‘vamos pegar ele pra criar’. Minha mulher não colocou obstáculo e vim ao Fórum, o menino era meu, não tinha planejado uma adoção, mas fiquei muito feliz”.
Para o casal estava tudo bem, mas para as três filhas, não era tão simples assim entender que mais que a família ganharia mais um membro e que seria um menino.
A ACEITAÇÃO DAS IRMÃS
Ana Paula, que hoje está com 28 anos, já é mãe de duas meninas, era a caçula da casa e no começo não foi tão fácil aceitar a novidade. Rindo muito, Ana Paula lembrou que quando Ângelo chegou era o dia de seu aniversário, 27 de novembro de 2000 e já estava acostumada a sempre ganhar um presente, mas desta vez os pais haviam esquecido, pois estavam tratando da adoção de Ângelo. “Eles tinham vindo em Caratinga, perguntei onde estava o presente, disseram que em cima da cama, quando fui olhar era o Ângelo, minha mãe disse que chorei muito. Coisa de criança, vi um bebê na cama e não um brinquedo”. Nesse momento da entrevista, Ângelo que é um jovem muito tímido, caiu na risada.
Mas o tempo foi passando e o amor crescendo. Ana Paula disse que comemoram o aniversário do irmão duas vezes. Os dias são devidos ao 27 de janeiro 2000, que é sua data de nascimento; e ao 27 de novembro, 2000, que foi quando Ângelo chegou à sua casa. “Com o tempo me acostumei e hoje morremos de ciúmes dele, pois já começou arrumar namorada, ir em festa. A gente fica querendo saber quem é e tudo que se passa com ele. Ângelo é uma alegria muito grande em nossas vidas, nem nos lembramos que é adotado”.
No final do ano passado saiu a adoção definitiva de Ângelo. “Tivemos alguns problemas financeiros e só recentemente conseguimos dar o nosso sobrenome ao Ângelo, que já é meu filho há 17 anos. Ângelo é um rapaz que todo pai queria ter, educado, estudioso e todos gostam dele. Nem lembro que é adotivo”, elogia senhor Antônio.
A irmã mais velha de Ângelo, Tatiana Marçal, que mora em Coronel Fabriciano, disse que também sentiu um pouco de ciúmes no começo, mas foi passageiro. “Lembro que fiquei com ciúmes, tinha 17 anos, achava que era provisório, que Ângelo não ficaria com a gente, mas rapidamente nos acostumamos e hoje não vemos diferença alguma e nem lembramos que é adotivo”.
ÂNGELO, O FILHO DE CORAÇÃO
Com quase 18 anos, fica difícil saber que Ângelo é adotivo quando está ao lado do pai de coração, Antônio. Com muita timidez, mas também muita alegria, o jovem contou que foi muito bem acolhido e ressaltou que sabe da adoção desde que começou a ter noções de algumas coisas. “Minha mãe sempre me contou tudo, levo numa boa, não fico comentando, mas todos em Dom Lara sabem”.
Ângelo disse que não tem mágoa do pai biológico, o cumprimenta quando vê, ele mora em Bom Jesus do Galho, mas ressaltou que quem com considera como pai é o senhor Antônio. “Todo mundo da família me respeita, mesmo não sendo filho de sangue”.
Ângelo está no terceiro ano do ensino médio e pensa em cursar Educação Física, já que gosta muito de esportes. Cruzeirense, já fez teste no time do coração e se depender do pai, ainda fará em outros clubes. Questionado o que tem a dizer para o senhor Antônio no dia de hoje, Ângelo disse: “Agradecer por tudo, sempre me apoiou em tudo que faço, principalmente quando joguei futebol”, resumiu o jovem com um belo sorriso.
Muito orgulho do filho, o senhor Antônio também não poupou elogio: “desejo que continue sendo esse menino estudioso e bondoso”.
Um forte abraço de pai e filho encerrou a entrevista de hoje em homenagem ao Dia dos Pais.