Famílias tiveram que desocupar as casas, que foram destruídas
INHAPIM – A esperança para os moradores do Movimento Sem-Teto de Inhapim (MSTI) acabou às 6h de ontem, quando todas as casas foram destruídas e as famílias retiradas do local. 36 pessoas, entre adultos e crianças, deixaram as terras do Patronato, situadas às margens da BR-116. A invasão das terras, consideradas improdutivas pelo Movimento dos Sem-Teto de Inhapim (MSTI), aconteceu em setembro de 2013. A direção do Patronato pediu em outras ocasiões a reintegração do terreno, mas tiveram os pedidos negados, desta vez o juiz da vara agrária de Minas Gerais, Otávio Almeida Neves, determinou a desocupação da área.
Para alguns, acabou o sonho de ter um teto onde se abrigar. Crianças, adultos e idosos choraram ao verem as máquinas destruindo o que construíram com tanto esforço. Uma senhora de idade chegou a passar mal. “O que levamos um ano para construir foi destruídos em minutos”, resignou um dos integrantes do MSTI.
A desapropriação contou com a participação de policiais da 22ª Companhia de Polícia Militar Independente, tropas de choque da PM do Vale do Aço e de um helicóptero vindo de Belo Horizonte. No total, 150 homens participaram da operação.
O major Sérgio Renato, que esteve à frente do trabalho, disse que a desocupação não teve problemas e que a PM cumpriu seu papel, que foi de apoio a reintegração de posse determinada pela justiça. “Recebemos a requisição judicial, foi feito planejamento. A PM sempre trabalha com negociação, da forma que dê menos impacto”, disse o oficial da PM.
63 casas foram derrubadas e 24 famílias tiveram que sair do assentamento. A maioria foi para casa de parentes. Quem não tinha onde ficar, a assistente social da Prefeitura de Inhapim disse “que se fossem crianças iriam para abrigos, já os idosos iriam para asilos, enquanto os adultos para os locais de onde vieram”.
Não foi preciso usar a tropa de choque. A PM fez um trabalho de conscientização com as famílias, propondo alternativas para que tudo acontecesse com tranquilidade.
Muito emocionada, Regilene de Matos, que estava no assentamento há um ano, começou as tirar as coisas de casa na noite da quarta-feira (8). Ela ressaltou que está sofrendo muito. “É muita tristeza, meu marido é doente. Mantivemos aqui bem organizado, fizemos até rede esgoto. O prefeito de Inhapim deu força no início e depois foi contra. Tenho dois filhos, de três e nove anos, que estão revoltados e sofrendo. É muita dor. O Conselho Tutelar queria levá-los, mas não quiseram ir, vamos morar com meu sogro. Somos uma família”.
Darlene Pereira Lage, representante do MSTI, explicou que o advogado Mauro Bomfim não conseguiu derrubar a liminar de reintegração de posse. Ela afirmou que a destruição das casas, acabou com a dignidade das famílias que ali estavam. “Isso aqui é política, a morte do Rondineli foi política (N.E.: Rondineli Marcelino Dias, um dos líderes do movimento, assassinado em julho deste ano). Não adianta brigar com peixe grande; não deveriam ter deixado a gente construir. Muita gente fez empréstimo e se endividou, mas nas urnas vamos mostrar nossa indignação”, protestou Darlene Lage.