Prof. Rodrigo Antonio Chaves da Silva
Contador e Administrador, ensaísta político
O grande cientista político Eric Vogelin tratou muito bem desse termo “seita política”. Inclusive, vemos fenômenos dessa natureza em todos os setores da sociedade brasileira, também em outros países. Seita se sabe que é um grupo que alimenta uma ideia viciada, impedindo a sua negação; pode ser igualmente o culto exagerado a uma pessoa, uma instituição, uma coisa que não tem poder sobrenatural. Decerto, o único passível de adoração é o Senhor Deus, fora desta condição, os cultos estranhos, idolátricos, viciados, a uma coisa, pessoa, grupo, ou organização social, não deixam de ser uma seita. E no caso da política, envolve a uma pessoa, um partido, um grupo, uma ideia específica que se tende a exaltá-la acima de todas as outras de modo fanático.
Infelizmente o fenômeno de seita política existe em países também de alto índice de desenvolvimento humano, só que não é tão grande. Nos países menos desenvolvidos é mais comum. As pessoas misturam ciência, religião, e até mesmo as práticas do dia-a-dia, exaltando aquela ideia política, aquele partido, ou aquela pessoa, independentemente de escolha conceitual, como se tudo se favorecesse exatamente aquele conjunto ideológico. Como se toda a vida fosse apenas volvida ao sentido político. O que é prejudicial não apenas ao psiquismo, mormente ao debate democrático.
No psiquismo sabemos que quando a mente força uma ideia, se cria um vício da imaginação. Autores da psicanálise como Gastão Pereira da Silva, tratavam os vícios humanos nesta rama, entendendo que as ideias que são forçadas, repetidas ao psiquismo, formavam imagens constantes e estas produziam vícios de comportamento grave como roubo, crime e violência. Não é saudável ser sectário, muito menos em política ou linha partidária, porque sempre haverá erros humanos e temporalidades nas ideias dos homens.
Foram tão graves os estudos sobre o sectarismo político que na psiquiatria chamavam-se de “Le follie dissonance” (o delírio de interpretação). Os médicos Paul Serieux e Joseph Capgras, perceberam em vários pacientes um tipo de psicose crônica que produzia imaginações terríveis a ponto de o indivíduo não conseguir raciocinar fatos simples, pensar causa e efeito, formar analogias, a fim de ter uma explicação séria sobre um determinado fenômeno, por conta de mascará-lo com a mesma ideia viciada aprendida. Conduta muito comum em seitas políticas, as quais tudo centraliza na ideia de um líder, de um partido, de uma ideologia, a ponto de subverter a ordem normal das coisas àquele sistema viciado de pensamento. Ademais, a patologia do vício ideológico político em seitas políticas, é chamada também de “loucura raciocinante” ou “raciocínio delirante”.
A democracia impede o tratamento sectário da política. A função democrática se favorece em duas condições: 1ª) a liberdade de opiniões sobre assuntos políticos os quais se queira possuir e entender; 2ª) o respeito às ideias divergentes, de modo que haja um equilíbrio no debate. Uma ideia não pode ser superior a outra no sentido da opinião, senão surge uma ditadura. Tirando a questão dialética, que uma ideia pode ser superior a outra em lógica, considerar posicionamentos opinativos sobre a sociedade, sem prova lógica, deixando a própria opção opinativa como superior a outra, sendo só mera escolha, é distorcer a realidade democrática. Numa democracia, a liberdade de escolha, e ainda, a consideração de que todos somos iguais perante a lei, faz com que a minha ideia e o meu posicionamento não sejam superiores ao de ninguém, permitindo até o direito de a pessoa pensar errado quando quiser, ou quando achar que deve, pois, este é o direito de expressão e escolha do mesmo indivíduo.
A Constituição Federal é clara no início do seu texto sobre a permissão do pluralismo político, e claro a liberdade de opinião vedado o anonimato, porque tirando os casos de defesa ao crime que são proibidos por lei, todos são passíveis de terem opinião e serem tratados iguais neste aspecto, o que impede visões que sejam canceladoras, abafadoras, ou destruidoras de outras, quando elas mesmas não podem ser tratadas de modo superior, ainda mais quando são viciadas ou ilógicas. Todos são iguais perante a lei, e mesmo as ideologias na democracia devem ser tratadas assim, fora disso é ilógica democrática ou vício de interpretação, é delírio raciocinante achar que a mera opinião sem prova lógica seja superior à outra emanada por um cidadão de direitos.