Camilo Lucas lança na noite de hoje a nova edição de sua revista, onde faz a cobertura de tudo o que aconteceu na área cultural de Caratinga desde que o mundo “parou”
CARATINGA – A frase de Nathan Vieira, “Se profissionalizar estraga, deixa de ser a Jararaca Alegre…”, resume o espírito da revista criada por Camilo Lucas há 40 anos. E a nova edição da Jararaca Alegre será lançada às 20h de hoje, no Casarão das Artes. Conforme Camilo, esta é a primeira edição pós-pandemia, e, “diferentemente das edições anteriores – que sempre trouxeram uma coletânea de charges, cartuns, crônicas, poesias e fotografias de vários autores, desta vez a revista é uma cobertura de tudo o que aconteceu na área cultural de Caratinga desde que o mundo “parou””.
E Camilo Lucas faz um convite. “Tem Jararaca nova na praça. Como sempre, tem festa de lançamento! Tudo 0-800: entrada e revista vão ser gratuitos! Terá serviço de bar mas aí cada um paga o seu! O Casarão das Artes será o cenário para nosso encontro ao som de Tando Soulei e Sérgio Mogga! Vamos nos encontrar pra uma noite de sexta agradável com música boa e amigos legais? Te espero lá meus amigos!”
Camilo Lucas concedeu uma entrevista, onde falou da nova edição e também sobre a longevidade da Jararaca Alegre. Ele ainda comentou sobre a questão do ‘politicamente correto’ e fez ponderações sobre o cenário cultural de Caratinga.
Como é voltar com a Jararaca Alegre depois que o mundo ‘parou’?
– Na verdade a Jararaca só não saiu com revista, mas nesse meio tempo lançamos livros, CDs, DVD, filmes e realizamos lives e eventos culturais… (tá tudo lá, contado na nova edição). A Jararaca Alegre na verdade é um núcleo cultural que tem a revista como berço. Mas ficar sem publicar a revista é muito ruim, por isto voltar a ter uma edição nova pra folhear é o melhor que tá tendo!
Para essa edição você escolheu um tema específico. Como foi catalogar esse material? Ficou algo de fora?
– Ficou sim, infelizmente, tivemos que priorizar o que era mais relevante, mas o que ficou de fora vai ser mostrado na próxima edição. Catalogar este material foi uma doce surpresa, pois fiquei perplexo ao ver que fizemos tanta coisa desde a pandemia. Mesmo “tirando leite de pedra”, que é a vida de quem trabalha com cultura na cidade de Caratinga!
São quatro décadas de Jararaca Alegre. A revista sempre tem o lado voltado para cultura e humor. O que mudou nesses quesitos ao longo desses quarenta anos?
– Nada! Só evoluiu (risos). O espírito é o mesmo. A Jararaca Alegre é um fanzine. Outro dia, reclamando com meu amigo Nathan Vieira sobre as dificuldades que eu tenho por causa da forma como trabalhamos a revista – de forma “amadora”, no melhor sentido da palavra – ele me lembrou de que, “se profissionalizar estraga, deixa de ser a Jararaca Alegre…”
Hoje temos a questão do politicamente correto. Qual sua avaliação desse conceito? Sua forma de fazer humor mudou nesses 40 anos?
– Olha, tudo o que é radical, em vez de consertar, piora. Infelizmente, o politicamente correto nasceu como uma forma de corrigir distorções comportamentais históricas, como preconceitos, piadas ofensivas, termos humilhantes para determinadas camadas sociais etc. – o que é extremamente louvável. Mas muitas vezes isto é usado não como forma de aperfeiçoamento social, mas sim como vingança, retaliação de determinadas camadas contra outras. O que se vê muitas vezes é censura, falta de senso de humor, discurso de “ódio do bem”. As pessoas já estão percebendo isto, então acho que pode ocorrer uma depuração e o “politicamente correto” voltar a servir ao objetivo para o qual foi criado.
Existe uma linha a seguida para uma publicação alcançar essa longevidade?
– Eu acho que a longevidade da revista se deve ao fato de A) ela não ter uma periodicidade fixa e, também, B) não ter um formato específico. Então vamos por partes: A) ela era publicada quinzenalmente na época do colégio Estadual, quando era o jornalzinho estudantil oficial da cidade (entre 1975 e 1977). De 1978 em diante passou a sair em ocasiões especiais, como sempre que tinha um “Tiapo tia tiapo”, férias escolares – quando todo mundo que tinha saído pra estudar fora voltava pra cidade, ou um “Caratinguense ausente”, coisas assim: se a turma antiga ia estar reunida novamente, a gente fazia uma J. A. pra “zoar” todo mundo. Depois, virou página do jornal A Semana, página do O Jornal de Caratinga, página da Revista Night… só no Diário que não foi pois aqui eu usava meu nome mesmo na coluna, era uma pegada diferente. Ela passou a sair como livros também, tipo de 3 em 3 anos a gente publicava uma coletânea em forma de livro. Então, de um jeito ou de outro, ela nunca deixou de ser publicada desde que nasceu em 1975, porém a não obrigatoriedade de estar nas bancas todo mês ajudou pra que ela vivesse até hoje. B) Sobre os vários formatos eu comecei a falar acima: jornalzinho, revista, livro, e acrescento que ela tem saído também como DVD, site, CD, filme e, especialmente, eventos culturais, como o “Arteiros”, o “Mestres e Gafanhotos” e outros que estão por vir… tudo é uma grande “Jararaca Alegre” ao vivo e a cores!
Interessante observar que mesmo diante dos avanços do mundo digital, a Jararaca Alegre ainda mantém o impresso. Como foi a adaptação a essas novas plataformas?
– Olha, a gente tem o site que é apenas um depósito de material publicado, inclusive quem quiser conhecer as jararacas desde 1975 pode ir lá: todo o meu arquivo está digitalizado e disponível para download em PDF (www.jararacaalegre.com.br). Mas a revista é de papel mesmo, o cartunista gosta de ver seu trabalho é impresso, especialmente colorido em papel couchê e em tamanho grande. É isto que a gente faz. Não temos compromisso com lucro, que é o que fez morrerem muitas publicações com a ascensão do digital, a gente faz por prazer e quando tem patrocínio. Tanto que atualmente a J. A. é distribuída de graça. Então vamos continuar sendo um posto de resistência do cartunismo impresso! (Menos na atual edição, que é uma cobertura cultural de eventos e lançamentos, e não sobrou espaço pra nada…)
Para finalizar, algo observado por você, “mesmo tendo que tirar leite de pedra, a cultura de Caratinga pulsa firme”. Sendo assim, qual sua avaliação do cenário cultural de Caratinga?
– Tem muita gente boa realizando trabalho de qualidade, criatividade e relevância, não só produzindo, como ensinando. Formando novas gerações de criadores e também de público. Isso você poderá ver nas páginas da nova edição da Jararaca. A gente conta com muito apoio da comunidade, tanto dos cidadãos que nos prestigiam como dos empresários que nos patrocinam, mas é preciso um olhar mais carinhoso do poder público. Especialmente neste momento em que foram derrubados os vetos das leis Aldir Blanc 2 e da Paulo Gustavo, ou seja, o governo federal vai distribuir verba para estados e municípios bancarem projetos culturais. Cabe aos municípios se organizarem para cumprir a burocracia necessária para que a verba venha e seja distribuída de acordo. O momento é este, o ideal seria que tivéssemos uma secretaria de cultura, mas independente disso, Caratinga precisa se preparar para não ficar de fora deste fomento.
Gostaria de finalizar registrando que a Jararaca Alegre é realizada graças à Lei Estadual de Incentivo à Cultura de MG, com patrocínio de Viação Riodoce e Irmão Supermercados, além de apoio cultural de várias empresas e da imprensa caratinguense, especialmente os amigos do Diário de Caratinga, aos quais agradeço muito!