Eugênio Maria Gomes
Sou nascido nos anos cinquenta. Assim, minha juventude passou-se no final dos anos sessenta, início dos anos setenta. Lembro-me perfeitamente daquele período. Embora vivêssemos em plena ditadura, o futuro se mostrava cheio de possibilidades. Os estudantes em Paris, em 1968; A Revolução dos Cravos, em Portugal; O fim da guerra do Vietnã e a renúncia de Nixon, mais adiante… O Inesquecível “pra frente Brasil”, o “milagre brasileiro”… Mesmo sob a batuta dos generais, minha gera- ção acreditava no futuro. O Século XXI, ainda distante, mostrava-se cheio de possibilidades! O crescimento econômico acelerado proporcionou uma rápida mudança na estrutura do país. Finalmente deixávamos de ser um país agrário e dávamos passos largos para a industrialização.
Naquele tempo, ter o título de país industrializado significava pertencer ao primeiro mundo, e usufruir de todas as maravilhas da civilização moderna… Carro, casa, geladeira, televisão a cores, telefone… Um mundo de possibilidades. Crescemos cultuando o Ter. O Possuir. O Gastar. O Consumir. Um mundo onde a Natureza estava a serviço do Homem. Ali, ao lado. Pronta para ser usada. Pronta para ser transformada. Rochas e terra se transformando em ferro e aço. Árvores e campos, dando lugar a estradas, cidades, fazendas. Gado, muito Gado. Fábricas. Muitas Fábricas. Petróleo. Muito Petróleo. Sim, o amanhã seria próspero. Seríamos ricos. Possuiríamos muitas coisas. Não ocorreu assim. Pelo menos, não totalmente, porque não levamos em conta algo fundamental: desenvolvimento sustentável. O Brasil e o Mundo de hoje são muito diferentes daquilo que pensávamos. Minha geração e as gerações que a antecederam, esqueceram-se de que as necessidades da geração presente não podem impedir que as gerações futuras supram as suas. Embora esse conceito tenha sido paradoxalmente delineado em Estocolmo, no ano de 1972, na primeira conferência da Organização das Na- ções Unidas sobre o meio ambiente, primeira grande reunião internacional para discutir as atividades humanas em relação ao meio ambiente, só o estamos discutindo, verdadeiramente, agora, quando, talvez, seja um pouco tarde… Trata-se do conceito de Sustentabilidade. O conceito de desenvolvimento sustentável – entendido como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de atenderem às suas próprias necessidades – foi concebido de modo a conciliar as reivindicações dos defensores do desenvolvimento econômico com as preocupações de setores interessados na conservação dos ecossistemas e da biodiversidade. Uma tentativa de conciliar dois grandes interesses, aparentemente antagônicos. Esse antagonismo reside no fato de que toda atividade econômica humana impacta negativamente no sutil equilíbrio natural. Vale dizer, de qualquer maneira, seis bilhões de seres humanos produzirão um impacto planetário nunca visto. Todavia, esse inevitável impacto pode ser atenuado, se a utilização dos recursos naturais for feita de forma inteligente e eticamente comprometida com o bem estar da Humanidade como um todo, desta e das futuras gerações. Opostamente, quando a utilização dos recursos naturais estiver apenas a serviço da mais cruel lógica capitalista, da maximiza- ção do lucro e do descompromisso com o próximo, do incentivo absurdo ao consumismo, da busca pelo crescimento econômico infinito e da necessária condenação de uma enorme parcela de seres humanos ao abandono e a pobreza o futuro estará seriamente comprometido. As variáveis da Sustentabilidade são inúmeras e são complexas. Porém, de uma forma mais simples, as atividades humanas, para serem sustentáveis, devem ser ecologicamente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis. Não basta, porém, bradarmos aos quatro cantos a necessidade de preservar a natureza, os rios, os montes! Não bastam discursos românticos sobre a Ecologia, pássaros e verdes pradarias… Não basta nos indignarmos diante de tragé- dias como a de Mariana. Com os vazamentos de petróleo no Mar, com o lixo e o esgoto do Tietê… Temos que nos transformar na mudança que queremos ver! Não podemos nos esquecer de que só havia tanta lama naquela área em Mariana – e ainda existe lama em várias outras áreas de Minas – porque trocamos de carro a cada ano, porque temos duas geladeiras em casa, porque temos dois ou três celulares encostados no fundo da gaveta…Sim. Todos os aparelhos que nos cercam possuem metais em sua composição. Não podemos nos esquecer de que quando deixamos as luzes de casa acesas, mesmo sem ninguém necessitando de ilumina- ção, quando utilizamos água potável para lavagem de carros e calçadas, quando gastamos gasolina para ir à padaria, que fica na esquina de nossa rua, ou até mesmo quando comemos carne, usamos o desodorante, ou o sabonete em demais ou jogamos alimentos no lixo estamos contribuindo para a perpetuação desse ciclo destrutivo que tanto criticamos em nossas falas, em nossas conversas e nas redes sociais. Não adianta esperarmos que as empresas e, consequentemente, os governos que são controlados por aquelas, façam a diferença. Somos nós que temos que nos transformar nas mudanças que queremos ver! Não adiante falar! Temos que fazer. É necessário que todos nós desenvolvamos ações relacionadas à sustentabilidade. E isso é possível, sem termos que voltar a morar em cavernas ou a banhar-nos em rios. Mas o preço é alto, pois significa uma mudança radical nos hábitos, e isso, é sempre muito difícil. Porém, esse preço é muito menor do que aquele que as gerações futuras pagarão para sobreviver. Precisamos aprender a utilizar os recursos vegetais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio sempre que necessário. Garantir a preservação total de áreas verdes não destinadas à exploração econômica. Implementar ações que visem ao incentivo à produção e o consumo de alimentos orgânicos, pois estes não agridem a natureza, além de serem bené- ficos à saúde dos seres humanos, combatendo o agronegócio destrutivo. Precisamos desenvolver tecnologias que permitam a exploração dos recursos minerais (petróleo, carvão, minérios) de forma controlada, racionalizada e com planejamento, incentivando o reuso e a reciclagem. Precisamos iniciar, imediatamente, o uso de fontes de energia limpas e renová- veis (eólica, geotérmica e hidráulica) para diminuir o consumo de combustíveis fósseis. Esta ação, além de preservar as reservas de recursos minerais, visa diminuir a poluição do ar. Precisamos desenvolver atitudes voltadas para o consumo controlado de água, evitando, ao máximo, o desperdício. Precisamos, também, adotar medidas que visem à não polui- ção dos recursos hídricos, assim como a despoluição daqueles que se encontram poluídos ou contaminados. Tudo isso é possível. A Tecnologia necessária já existe. São medidas praticadas em muitos lugares, mas ainda em escala insuficiente para reverter o desastre que se aproxima. A questão ambiental é, hoje, o maior desafio já enfrentado pela espécie humana. Para vencermos esse desafio, será necessário primeiro vencer as maiores tenta- ções da nossa espécie: a Cobiça, a Soberba, a Inveja, a Luxúria e a Gula. Não é à toa serem estes alguns dos nossos pecados capitais! Para isso, utilizemos a Prudência e a Temperança, virtudes que podemos desenvolver. Minha geração acreditava no amanhã. Hoje, ao pensar no assunto, não consigo deixar de pensar: haverá amanhã?
· Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da UNEC – Centro Universitário de Caratinga. Presidente do MAC – Movimento Amigos de Caratinga, Secretário de Cultura do Grande Oriente do Brasil – Minas Gerais (GOB-MG), membro da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga, do Lions Clube Caratinga Itaúna e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.