* Marco Antonio Gomes
O Sistema de Saúde no Brasil foi marcado por significativas transformações nos últimos 40 anos. Motivado pela Reforma Sanitária e a Constituição Federal de 1988, o país se mobilizou para a construção de uma nova política de saúde que fosse democrática e considerasse a descentralização, a universalização e a unificação como condições necessárias à saúde coletiva da população brasileira.
A organização do Sistema de Saúde (SUS) é pautada nos princípios da descentralização, regionalização, hierarquização e participação social (BRASIL, 1990). Tal sistema visa à reordenação e à democratização das ações e serviços em saúde para todos. Sua filosofia está baseada nos princípios da integralidade, universalidade e equidade.
Apesar dos avanços na área de atenção à saúde, algumas dificuldades ainda são encontradas, entre elas: a fragmentação da metodologia de trabalho na práxis dos diferentes profissionais; a precária interação entre as equipes de saúde; o despreparo para lidar com a dimensão subjetiva (cognição e sentimentos) dos usuários; pouca participação social, baixo controle social sobre gestão do SUS e um modelo de atenção e cuidado centrado na vinculação sintoma-doença-medicação (BRASIL, 2006).
Ao contrário da Clínica Ampliada, a Clínica Tradicional, que imperou praticamente durante todo o século XX, traz ainda vestígios de sua prática em que o foco de sua atuação está na doença, na enfermidade. Tal práxis predomina a visão puramente medicamentosa. Porém, o conceito de saúde não é apenas ausência de doença, mas uma prática clínica que incorpore no fazer terapêutico, outros saberes. Nessa direção, a Clínica Ampliada surge para junto do saber biomédico, incorporar outros saberes ao processo de saúde-doença. Cabe aqui ressaltar que o ser humano vive sob influência de multifatores dos diferentes aspectos da sua história, que repercutem direta ou indiretamente no seu processo de saúde-doença.
Apesar de estar pautado em princípios doutrinários, que considera o indivíduo integral, nas combinações de fatores sociais, biológicos e biomédicos; na prática ainda encontramos nos serviços de saúde do SUS discursos puramente biomédicos, de supervalorização do diagnóstico e da terapia medicamentosa. Assim, torna-se comum reduzir o paciente a “um recorte diagnóstico”, onde se aborda mais a doença que o indivíduo.
Impactados pelos princípios doutrinários, o que se espera é um direcionamento, um olhar para as potencialidades dos diferentes profissionais para atuações em equipe que de fato privilegiam a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade dos saberes em favor do bem-estar e saúde das pessoas.
Nesse sentido, a Clínica Ampliada surgiu a partir da necessidade de considerar o indivíduo em seus aspectos (bio-psico-social), valorizando seu “protagonismo e controle social”, considerando as dimensões sociais e subjetivas do sujeito.
Diversos aspectos da vida de uma pessoa como cultura, trabalho, educação, violência e condições emocionais afetam o processo de saúde/adoecimento. Dessa forma, a Clínica Ampliada, busca proporcionar um tratamento mais abrangente, inserindo outras formas de atenção à saúde, expandindo e explorando outros recursos terapêuticos. Percebe-se ser cada vez mais necessário dialogar com o sujeito portador da enfermidade, instituindo a corresponsabilidade dos profissionais e do usuário dos serviços de saúde promovendo vínculos entre si.
No processo terapêutico, espera-se que ambos sejam protagonistas e se reconheçam como sujeitos possibilitados de expressar-se e interagir dialogicamente, levando o indivíduo (usuário dos serviços de saúde) a desenvolver, aumentar sua autonomia através de sua capacidade de entender a si mesmo e ao seu mundo.
*Mini Currículo.
Marco Antônio Gomes, é Professor Pesquisador Doutor em Psicologia pela USF. Professor do curso de Psicologia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC -Mais informações sobre o autor: http://lattes.cnpq.br/6502061887917329