Mesmo sem estrutura e estudando em espaços provisórios, estudantes venceram as dificuldades. Com a medalha de bronze garantida, eles seguem na disputa por ouro e prata
SANTA BÁRBARA DO LESTE- Uma cidade com 8.144 habitantes, no interior de Minas Gerais que competiu com outras de todo o Brasil. Santa Bárbara do Leste se destaca com dois semifinalistas da quinta edição da ‘Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro’, concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio.
Phâmella Paula da Silva, 16 anos, e Sérgio Firmo de Souza Júnior, de 17 anos são alunos da Escola Estadual Monsenhor Rocha. O prédio em que funcionava a escola foi interditado em março de 2013, após o deslizamento de um barranco. A única escola estadual do município precisou dividir seus alunos em locais diferentes, dentre eles o salão paroquial da igreja matriz. Mas, apesar das dificuldades, o esforço superou a falta de estrutura adequada.
Nos espaços improvisados, não faltou criatividade. O DIÁRIO DE CARATINGA esteve na cidade e conversou com os alunos classificados, que já garantiram a medalha de bronze. Os dois já estão com viagens marcadas e seguem para a etapa regional, onde ainda concorrem às medalhas de ouro e prata.
A etapa municipal foi encerrada no dia 9 de setembro. Em seguida, o processo de avaliação e seleção dos textos caminhou para a etapa estadual. De 26 de setembro a 11 de outubro, as 27 Unidades da Federação (UF’s) escolheram os textos semifinalistas nas Comissões Julgadoras Estaduais. Agora, os 125 estudantes semifinalistas de cada categoria e seus professores viajam para uma capital brasileira, onde participam das oficinas regionais. São três dias de intensa programação.
CRÔNICA
Phâmella é aluna do 1° ano ensino médio. Ela concorreu com a crônica “Morro escalado, amor renovado” e teve a orientação da professora Danubya Nunes. Para o seu texto, ela escolheu como cenário a ‘Igrejinha do Alto’, um dos pontos mais visitados da cidade. “Tentei escolher um lugar que fosse tipo um ponto turístico da cidade, conhecido, para falar sobre o lugar, que mexe com o sentimento da pessoa, porque é um lugar bonito que traz paz para as pessoas. Como acho que tenho facilidade para mexer com emocional, investi nisso. Narrei uma ida lá, os detalhes, como é a vegetação, tipo de pássaros. Uma verdadeira caminhada”.
Mas, para deixar o texto no padrão da competição, a aluna participou de oficinas na sala de aula. E para alcançar o resultado satisfatório, ela pesquisou bastante sobre o assunto. “Meu texto foi escolhido da escola, do município e estadual, agora está no regional. Fiquei surpresa, já sabia da Olimpíada há algum tempo e queria muito ganhar. Da outra vez o meu ficou selecionado municipal, mas no estadual não passou. Dessa vez eu quis preparar melhor, saber com antecedência o que era, porque da outra vez chegou muito de surpresa. Agora, entrei no site, pesquisei e li tudo antes”.
No salão paroquial, que virou sala de aula, Phâmella afirma que não desanimou diante dos obstáculos. “É muito gratificante, ainda mais por ser uma cidade tão pequena. Tinha várias outras cidades, o estado Minas Gerais inteiro; e a gente pensar que uma escola que tem poucos alunos, uma cidade que tem poucas pessoas, a gente poder mostrar que apesar das dificuldades a gente consegue as coisas na vida. Com esforço, tentativa. Não é porque você nasceu numa situação que não é tão boa, que não pode correr atrás do seu objetivo”.
De 8 a 10 de novembro, a adolescente estará em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, participando da etapa regional. Ela afirma que a expectativa é grande para as novas experiências e conhecer o estado. “A viagem de certa forma também é um prêmio, conhecer pessoas de outro lugar, várias regiões, estou muito animada. É uma nova cultura que terei a oportunidade de conhecer”.
ARTIGO DE OPINIÃO
A estrada de chão marca o caminho de difícil acesso. O percurso é feito diariamente por Sérgio Júnior, que mora no Córrego dos Ferreiras e cursa o 3° ano do ensino médio (noturno). Sua turma funciona no imóvel da Escola Municipal Marlon dos Reis Lopes. Com o artigo de opinião “Clima quente em Santa Bárbara. Cadê a água para refrescar?” e com a orientação da professora Silvânia Teixeira, ele conseguiu ser um dos semifinalistas da Olimpíada.
Sérgio escolheu um tema polêmico e desafiador para abordar em seu texto. Ele aproveitou o problema da falta d’água e fez um ‘confronto’ entre dois textos e suas considerações. “No começo nem tinha muita ideia do que falar. Costumava trabalhar depois da aula tomando conta do secador. A noite inteira sem fazer nada fui imaginando o que poderia colocar. Cheguei em casa e pesquisei sobre o presidente da Copasa, porque ele falou que os moradores da cidade tinham mais direito sobre a água do que os moradores do campo. Peguei um documento que tinha apresentando opinião contrária a dele, porque o artigo de opinião é basicamente isso, duas opiniões opostas, apresento a minha e defendo ela”.
Ao final, Sérgio apresentou sua opinião, que era de acordo com um dos documentos que ele analisou. “Afirmei que o pessoal do campo também tem direito à água, com uso consciente porque não é aguar uma horta que vai influenciar na falta d’água na cidade. Também falei que alguns motores foram apreendidos para que a ordem que a Copasa deu não fosse descumprida, porque alguns produtores não tem também o documento da água registrada. Então, acaba que eles também de qualquer jeito tinham que ser punidos”.
O adolescente está desde ontem em São Paulo, onde permanecerá até amanhã, participando da etapa regional. Ele afirma que se sente orgulhoso de ser um dos representantes de Santa Bárbara do Leste. “Não imaginava ir tão longe assim, pensava que chegaria à etapa regional, mas depois não ia conseguir. Sinceramente, achei que era mais difícil. Foi difícil, mas o meu texto estava no padrão de análise da Olimpíada. Minha professora Silvânia me orientou durante todo o tempo. É gratificante demais, num país tão grande, uma escola pobre em estrutura alcançar esse resultado. Muito bacana”.
PREMIAÇÃO
Como premiação, os semifinalistas e seus professores ganham medalha, livros e participação em oficinas culturais e de formação. Os finalistas e seus professores são contemplados com medalha e um tablet, além de placa de homenagem para as escolas.
Já os alunos vencedores e seus professores recebem medalha, um notebook e uma impressora. As escolas, 10 computadores, uma impressora, um projetor, um telão para projeção e livros.
Um comentário
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Muito Obg! Á equipe competente do Jornal Diário de Caratinga, pelo belíssimo trabalho,Nohemy Peixoto, Adenilson…Vocês sim são provas de amor a profissão…Parabénsss..