Mesmo após separação, mulher continua com a guarda provisória dos sobrinhos do ex-marido
SANTA BÁRBARA DO LESTE– Quase três anos depois, os dias de tortura em que três crianças foram submetidas, em uma residência no Córrego Barra Alegre, zona rural de Santa Bárbara do Leste, que resultou na morte de uma delas; ainda causa perplexidade.
O crime que chocou a população ocorreu no dia 27 de junho de 2014. Os denunciados Josina Concebida Moysés (mãe) e José Mateus da Silva (padrasto) foram denunciados por submeterem as crianças, com emprego de violência, a intenso sofrimento físico, como forma de aplicar castigo pessoal.
Neste período, Josina e José Mateus estavam em união estável e com eles residiam as três crianças de seis, quatro e três anos de idade; filhos dela, que foram espancados, severa e reiteradamente. De acordo com a acusação, em um desses episódios de espancamento, na manhã de 27 de junho de 2014, eles agrediram violentamente uma das crianças, a pretexto de repreendê-lo por ter urinado na cama durante a noite, ferindo-a com correia de couro para domesticar animais.
Após as agressões, deixaram a criança deitada, imóvel, sem qualquer assistência, até o dia seguinte, quando perceberam que ele havia falecido. Então, colocaram o cadáver no automóvel de José Mateus, levaram para um matagal ao lado da BR-116, distante da residência e o abandonaram. Em seguida, fizeram circular a notícia de que o menor estaria desaparecido.
Em razão do suposto desaparecimento da criança, a Polícia Militar foi à casa do casal no dia 29 de junho de 2014, onde encontraram as outras duas crianças deitadas em um quarto escuro, com feridas pelos corpos. O Conselho Tutelar foi acionado imediatamente para a retirada das crianças do local e Josina e José Mateus foram presos em flagrante.
Perícia médica realizada ainda naquele dia constatou que uma das crianças apresentava impetigo (infecção bacteriana que atinge as camadas superficiais da pele) e lesões generalizadas e graves, inclusive em área genital, estado febril e toxemia, e necessitava de internação hospitalar para tratamento de urgência, além de apresentar lesões na face (crostas de necrose) e ranhuras já cicatrizadas em várias partes do corpo.
A outra criança, na mesma avaliação médica, apresentava queimaduras de primeiro e segundo graus na face provocadas por óleo vegetal quente, que teria ocorrido há mais de 10 dias, com áreas de necrose e em processo de granulação, e, também necessitava de internação hospitalar para tratamento especializado.
No dia 30 de junho de 2014 o corpo da criança de seis anos foi encontrado no local onde havia sido abandonado, e, periciado, foram identificadas inúmeras lesões, além de queimaduras de terceiro grau em toda a parte superior esquerda do corpo.
Foi apurado que as lesões sofridas pelos menores, inclusive as que causaram a morte de um deles, foram resultado da intensa violência física provocada pelo casal, a pretexto de repreenderem pelo simples fato de abrirem a porta da geladeira. As sessões de espancamento teriam ocorrido por diversas vezes, por cerca de 30 dias.
Ainda no final de 2014, José Mateus foi condenado a pena de 26 anos, oito meses e 10 dias de reclusão. Josina foi condenada a pena de 33 anos de reclusão. Ambos foram condenados por tortura e ocultação de cadáver.
COMO AS CRIANÇAS ESTÃO?
Passados os anos, muitas pessoas se questionam: “Como as crianças estão?”. O DIÁRIO DE CARATINGA foi atrás dessa resposta. Hoje, com seis e sete anos de idade, eles continuam sob a guarda provisória de Maria Aparecida de Oliveira Moysés. Ela acompanhou os meninos desde que foram resgatados da casa onde moravam, junto com seu marido à época, José Maximiniano Moysés. José é irmão da mãe dos meninos.
Apesar da separação do casal, Maria continua cuidando dos sobrinhos do ex-marido. Ela contou como está a rotina com os sobrinhos. Quando a reportagem chegou, por volta de 14h30, os meninos estavam na escola.
Segundo Maria Aparecida, passado o período de adaptação, as crianças estão acostumadas ao novo lar. “Eles estão bem. Graças a Deus agora se acostumaram. Eles estão adorando, porque aqui eles passeiam e se divertem. Eles não perguntam pelos pais, nem tocam no assunto. Nem sobre o irmão que morreu. A gente não comenta muito com eles, esperar eles apanharem uma idade maior para falar sobre isso”.
Quanto aos demais familiares, Maria Aparecida afirma que não há muito contato. “A mãe não procura saber por meio de advogado, sem contato e nem nada. Eu também não tenho contato com ela, nem sei se está viva ou morta. Com a avó do lado do pai deles eles têm contato, do lado da mãe deles, ela não procura”.
Com a guarda provisória das crianças, ela afirma que deseja prosseguir com os trâmites judiciais para conquistar a guarda definitiva. “Me separei, mas tomei a responsabilidade de ficar com eles. Tenho a guarda provisória, não tem data de quando vai tirar eles de mim, mas nem deixo mais ninguém levar eles não. Pelo amor de Deus, já acostumei com eles. Eles é minha vida (sic). Só vejo eu e os dois. Eu quero eles definitivo”.
Maria Aparecida mora somente com os dois sobrinhos, pois seus filhos já são casados. Ela afirma que desde que começou a criar as crianças, a sua rotina mudou completamente, mas de maneira positiva. “É uma companhia. Eles é minha paixão (sic). Estudam direitinho, tem acompanhamento. Eles estavam parados por causa da greve da escola, mas, hoje, voltou tudo ao normal”.
De acordo com a tia das crianças, eles recebem acompanhamento do Conselho Tutelar e comparecem ao juízo. “Estou esperando ser intimada de novo, mas sempre que vou lá eles vê que eles está bem (sic)”.
Para sustentar os meninos, ela recebe benefício do Programa Bolsa Família. Questionada pela reportagem se gostaria de fazer algum pedido, Maria disse: “Para os meninos. O tempo passa, as roupas não vão servindo mais. Se alguém quiser doar roupas, vai ser bem vindo”.