Como já foi dito em outros artigos dessa série (Guerra Pela Sobrevivência e Qual é o Papel da ONU?), as tensões entre Rússia e Ucrânia já acontecem há muitos anos, e essa escalada trouxe esses dois países até o momento atual, onde foi desencadeado o atual conflito armado, conflito esse que, para muitos especialistas, era inevitável, pois a Ucrânia era/é um ponto muito importante para a expansão russa, e para sua escalada rumo à uma nova soberania russa sobre o mundo.
Em uma entrevista dada em 2015, Aleksandr Dugin (Alexandr, Alexandre Dugin, dependendo da língua), ideólogo do governo de Vladimir Putin, disse que ele, e o governo russo, não se opunham à independência e soberania da Ucrânia, desde que ela fosse parceira ou aliada da Rússia. E que a única maneira de a Rússia voltar a ser “gloriosa” era unificando a Ucrânia a si, seja por quaisquer meios possíveis, pacíficos ou não.
A Rússia busca restabelecer o seu antigo poder e, com ele, os antigos territórios antes pertencentes à antiga União Soviética (URSS). Muitos vão ainda mais longe, e afirmam que a Rússia busca restabelecer os territórios do antigo Império russo, que foi o período de maior dominação e ocupação territorial russa. Para Dugin, a Rússia não é só a Federação Russa. A Rússia é o mundo russo, uma civilização, todos aqueles de fala e costumes russos que foram espalhados por todo o território da antiga URSS, e que se encontram hoje dentro de outros países que tiveram sua independência depois da dissolução da União Soviética. Para Dugin, Vladimir Putin, e a alta cúpula do poder russo, todos os países que conservam a cultura russa deveriam se aliar a Rússia, seja geograficamente, anexando seus territórios (Crimeia e Ucrânia como exemplos dessa “estratégia”), ou por meio de alianças entre esses países com a Rússia. Todo o arcabouço teórico e intelectual que impulsiona tais atitudes e práticas formam o cerne da teoria eurasiana. Segundo o que diz Dugin em sua entrevista: “Eurasismo é quando a Rússia une todo o espaço pós-soviético, de fato russo, imperial e civilizacional, dotando o aspecto cultural do Mundo Russo com uma dimensão geopolítica e estratégico-militar”.
Segundo Brzezinski, geopolítico, e cientista político, e estadista americano: a Rússia não retornará à soberania sem readquirir a influência sobre o espaço pós-soviético e, em primeiro lugar, sobre a Ucrânia. Tal ideia é compartilhada por Vladimir Putin que, desde que chegou ao poder, começou a recuperar o controle do espaço pós-soviético, seguindo o pensamento de Brzezinski.
Assim, depois da eleição de Putin, a batalha pela Ucrânia, com a possibilidade de um conflito armado, era só uma questão de tempo. E isso explica o atual conflito entre Rússia e Ucrânia (também tratado no artigo “Guerra Pela Sobrevivência”), situando-o em um contexto de expansão e dominação russa, onde tal conflito se mostra como um ponto importante na escalada russa rumo a soberania mundial, – rumo a construção de um novo Império Russo
Wanderson R. Monteiro
Formado em Teologia, coautor de 4 livros, e vencedor de três prémios literários.
(São Sebastião do Anta – MG)