
Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no rio e até no mar continuará por pelo menos mais cem anos
Biólogo do UNEC avalia impactos ambientais
BUGRE – Na fatídica tarde do dia 5 de novembro de 2015, um trágico acontecimento trouxe mudanças profundas na natureza e na vida de muitas pessoas de diversas localidades do interior de Minas. O rompimento da barragem de Fundão, localizada no distrito de Bento Rodrigues, a 35 km do município de Mariana. A catástrofe entrou para a história como o maior desastre natural que já se teve notícia no país, e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos.
A lama chegou ao Rio Doce e atingiu em cheio sua bacia hidrográfica, que abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. E nossa região, cortada pelo rio, claro, também foi bastante afetada. É o caso da localidade chamada São Lourenço, que fica a 22 km do município de Bugre, margeada pelo rio. Até os dias atuais os moradores se veem obrigados a mudar sua rotina, devido ao ocorrido. O caldeireiro Edson Alves de Oliveira, que mora no local há 15 anos, enumerou as principais dificuldades encontradas após a tragédia, que causou sérios reflexos à economia local, Inclusive aumentando o desemprego. “Trabalho com a fabricação de peças na caldeira. Antes a gente trabalhava por perto, na CENIBRA. Hoje, com a crise e o desemprego, agravados após o BC ocorrido, precisamos nos deslocar para outros estados, como Bahia, ES, RJ, SP e até o Maranhão. Temos que buscar recursos fora da localidade para sustentar os nossos lares.”
Muitos utilizam uma balsa para atravessar o rio, que segundo especialistas, chegou até a diminuir sua profundidade depois da tragédia de Mariana. “Quanto mais água tem, mais a balsa anda. Não se utiliza motor. Todos que residem em cidades vizinhas passam aqui. A balsa, inclusive, transporta quem vai para a Cachoeira Escura, Belo Oriente, Naque, Ipatinga, Região de GV. A travessia deve demorar em torno de 10 minutos. O rio ficou mais raso devido ao minério. A cor mudou. Hoje está um barro. Essa água era clara feito água de poço. Não tem mais peixe. Acabou.” Descreveu o balseiro José Carlos da Costa, de 56 anos, em tom de desabafo.
A doméstica Marinele Farinele de Souza, também residente em São Lourenço, lamenta ainda mais. “O rio tinha a água limpa. A gente até a utilizava para limpar a casa, lavar vasilha, e aguar a horta. Depois da tragédia não tem mais como usar. A água era tão clara que quando a gente atravessava a balsa, dava para ver o fundo do rio. Hoje já não dá mais. Tinha poluição, mas não era dessa forma. Muita gente aqui vivia de pesca. Hoje, com a poluição, acabou. Segundo dizem, há chumbo na água.”
Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no rio e até no mar continuará por pelo menos mais cem anos. Mas não houve um acompanhamento detalhado de todos os danos causados pelo desastre. O caso foi avaliado pelo coordenador do curso de Biologia do UNEC, Centro Universitário de Caratinga, Roni Francisco de Souza. “No que tange às espécies, são vários os impactos.
Surgiram partículas que contribuíram para a mortandade dos peixes, os levando à asfixia. Foi uma grande perda, em termos de espécies e quantidade, e precisaremos de um grande período para conseguir reverter. Mas a natureza tem o poder de se restabelecer. Recuperar a vida no rio. Houve a perda de biodiversidade e é preciso o devido acompanhamento. Não é possível estabelecer um período para a recuperação. O que pode ser feito é um monitoramento paulatino. Com os rejeitos contaminados, temos mudanças nos parâmetros da água”, concluiu.
Controladas pela Samarco Mineração S.A. (um empreendimento conjunto entre a Vale S.A. e a BHP Billiton), as barragens de Fundão e Santarém fazem parte da Mina Germano, situada no distrito de Santa Rita Durão, município de Mariana, localizado na Microrregião de Ouro Preto. Foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.
A barragem de Fundão passava por um processo de alteamento, quando ocorre a elevação do aterro de contenção, pois o reservatório já chegava a seu ponto limite, não suportando mais o despejo dos dejetos da mineração.