População pede e município já admite intervir neste trecho
CARATINGA – Números apresentados durante a reunião que aconteceu na Câmara na última sexta-feira, 11, confirmaram a situação de vulnerabilidade em pontos de travessia ao longo da rodovia. Foi um debate franco sobre a realidade de acidentes no trecho do perímetro urbano da BR-116 em Caratinga. De acordo com um relatório compartilhado pela vereadora Dona Eva (PSDB), mais de 400 acidentes foram registrados entre os anos de 2012 e 2014 no trecho do perímetro urbano, com destaque para o temível ponto de travessia que ficou conhecido como “antiga Itapemirim”, na saída da Rua da Piedade, altura do Bairro Esplanada.
“São mais de treze acidentes por mês neste período e mais de três por semana no trecho. São números que precisam de providências urgentes”, chamou a atenção.
Parentes de vítimas e as próprias vítimas que escaparam da morte e vão carregar lesões graves para o resto da vida ficaram lado a lado na Câmara Municipal com representantes de bairros, vereadores, motoristas e membros do Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários e Taxistas Autônomos de Caratinga, com apoio do UNEC, para debater soluções que possam contribuir para a redução do número de acidentes ao longo da rodovia em seu trecho que corta a cidade.
E as vítimas são as que melhor podem confirmar a realidade perigosa da BR-116, em Caratinga. Henrique Barcelos Alves, que precisou se aposentar por invalidez ainda muito jovem, com apenas 26 anos de idade, vitimado por um grave acidente que lhe causou uma séria lesão na perna direita, ocorrido em 02 de outubro de 2013 exatamente no trecho “da antiga Itapemirim”, relata sua situação: “Estava indo para o trabalho quando um caminhão atravessou a pista e me atingiu. Eu tinha uma vida ativa, estudava, sonhava me formar, namorava, saia com meus amigos, viajava e a partir daquele dia minha vida mudou por completo. Hoje fico mais em casa, sinto dores e tento seguir adiante precisando de muletas para caminhar“.
Ele defende que “o município precisa tomar medidas práticas e próprias para intervir junto ao trecho da BR-116 para que outros acidentes sejam evitados”.
“Só ficar dizendo que o Dnit não deixa agir, não serve. Quem vai se ferindo e morrendo no meio da estrada são os moradores de Caratinga e o Dnit parece nem se dar conta disso”, reclama.
O presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Caratinga, Genadir João de Oliveira, desabafou em Plenário: “É um absurdo o que vem acontecendo e a gente só ouvir que o município não pode intervir com ações próprias na faixa de competência do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes). As ações precisam sair do papel e do âmbito das desculpas”.
O psicólogo do UNEC Caio César Gomes – especialista em comportamento no trânsito e coordenador do curso de Graduação Tecnológica em Segurança no Trânsito -, mostrou os riscos, do ponto de vista do comportamento humano, para os estímulos de desatenção iminentes nos trechos de travessia mais perigosos da BR-116.
“Só no trecho da “antiga Itapemirim” são dez pontos de desatenção, o que é uma carga muito grande para a atividade cerebral se pensarmos que três pontos já comprometem a atenção do indivíduo, sendo assim, naquele trecho o risco de acidente é praticamente inevitável”, alerta.
Pela primeira vez em vários anos o município admite a possibilidade de intervir sobre a faixa de competência do Dnit, que vem se recusando a atender as solicitações do município para ajudar a reduzir o número de acidentes. “Nem que para isso precisemos reduzir o fluxo de veículos naquele trecho colocando cones temporários, com a finalidade de chamar a atenção, de fato, para o problema. Alguma coisa nós precisamos fazer, e urgente. Quem sabe se interrompermos o trânsito quinze minutos num dia, meia hora no outro e assim por diante a Globo vem aqui e alguém decide fazer o Dnit agir, porque ali o diálogo é bem complicado”, declarou o secretário de Obras, José do Carmo Fontes.
Os representantes do município apostam na saída da Regional do Dnit em Caratinga como um facilitador para intervenções que partam do município. A saída do órgão foi anunciada durante a reunião e está prevista para acontecer até dezembro. “A partir daí Caratinga ficará subordinada à Regional de Rio Casca, sob responsabilidade do gerente Agnaldo, com quem o município já tem mantido contato”, afirmou o secretário municipal de Defesa Social, Isaías Borges.
Convidado para participar dos debates, o engenheiro de tráfego, Wagner de Paula Santos, que trabalha para a Prefeitura de Contagem, acredita que “a partir da municipalização do trânsito em Caratinga o município terá maior autonomia para decidir sobre as intervenções pretendidas para o trecho da BR-116 dentro do perímetro urbano”.
Um projeto sobre o desvio do fluxo de veículos no trecho da “antiga Itapemirim” foi apresentado durante a reunião, como forma de reduzir a velocidade no local. Mesmo convidado, ninguém do Dnit compareceu à reunião.