A descoberta do que falta
Minha vida – hoje à beira dos 75 – sempre foi pautada por buscas. Por que não? O conselho que segui é que “quem busca, acha”. Queria animar VOCÊ a não desistir do seu sonho, não importa qual seja! Busque, e você o encontrará! Hoje, agora, e para sempre, sucesso para você em tudo!
Na Meninice – Desde minha meninice leio as Sagradas Escrituras. Não consigo esquecer especialmente duas professoras, sua forma amorosa, tanto na voz como nas expressões faciais – tudo nelas demonstrava, pintava em cores vivas do AMOR as histórias da Bíblia! Nunca jamais esqueci, e nunca esquecerei.
Dentro daquele pequeno ser, frágil, suscetível (a tudo), um desejo de conhecer mais e mais sobre aquela FONTE MAIOR da qual falavam, de AMOR, foi crescendo, dia após dia.
Na verdade, narrar uma história da Bíblia sem passar amor é algo que é muito difícil de fazer – a não ser que as ‘mãos’ do contador estiverem magicamente amarradas a um monstro, e nesse caso, o monstro, totalmente desumano, pode até ser a religiosidade.
Creio que foi isso que pegava mal toda vez que Jesus se encontrava com tais homens (e tem mulheres também, infelizmente). Pessoas doutas, desprovidas, contudo, de sabedoria para a vida. Que desconhecem o valor intrínseco de cada ser humano, que não saberiam dar uma resposta afirmativa para a pergunta “POR QUE ESTOU AQUI NESTE MUNDO”!
Tive o privilégio (sei que foi verdadeiro privilégio) de ouvir as histórias da Bíblia num contexto certo, o que despertou dentro de mim um interesse cada dia maior de conhecer e buscar essa fonte de amor.
Na Yale Divinity School – Uma lembrança que não me deixa: nós três, Rich, Bill e eu, na Praça da Escola de Divindade, acomodados na grama do jardim, compartilhando as coisas mais profundas – preciosidades de cada um, na forma que cada um é um ser único! Que saudades! YDS – Yale Divinity School (Escola de Divindade) da Universidade Yale, fundada em 1701, situada a 250 km ao norte de New York! Conclui ali meu primeiro mestrado, em 1971.
O jardim da Escola em New Haven, CT, USA, com a Capela ao fundo.
Era o tempo da Guerra do Vietnam. Estávamos em meio ao movimento negro de libertação e integração – uma fase violenta. Dr. Martin Luther King Jr. tinha sido assassinado alguns anos antes. Agora estavam em destaque novos líderes – Bobby Seale, Angela Davis e outros.
Era o início dos anos 70.
Cada um de nós três refletia a partir de sua sensibilidade e seu tipo de amor pelo mundo:
- RICH buscava o caminho da introspecção.
- BILL sempre foi um ativista estratégico.
- E eu – um estrangeiro, estudante, que buscava por todos os meios e maneiras “obedecer ao chamado ao santo ministério”. Meu caminho era a igreja…
- RICH se uniu a um grupo de meditação no deserto do Novo México (e nunca mais tive notícias dele).
- BILL foi para Washington onde se aposentou como assessor jurídico de um dos principais senadores americanos de sua época: um judeu, que uma vez foi candidato à Presidência, e que tinha a sagacidade para se locomover nos corredores do poder do país mais poderoso do mundo, – no meio da agitada Guerra Fria.
- Eu fui à Berlim, na Igreja Luterana Berlim-Brandenburgo (Evangelische Kirche Berlin-Brandenburg) – é impossível ser mais luterano! Lá fiz as provas no Konsistorium (Sede Central) e fui reconhecido como Pfarrer, isto é, pároco, ou, então, ao pé da letra, “senhor da paróquia” – o mesmo título usado na igreja católica.
Mas foi no jardim da escola em New Haven que toquei no tesouro com os olhos da alma. Foi naquele dia que me entreguei e fui conquistado. Não havia nada mais doce, mais agradável, mais desejável.
Uma simples frase fez ruir montanhas e rochedos, e fez emergir o castelo mais bem elaborado de todos os tempos. Palavras têm poder – frases, pronunciadas, escritas, têm o poder de uma potencialização sem limites:
… E ENTRE ELES NÃO HAVIA NENHUM NECESSITADO!
Pensei: – Pronto, aí está a solução, a fórmula perfeita para o caos do mundo. Como eles conseguiram, como isso foi alcançado, no início deste movimento que hoje tem “igreja” como sua continuidade? Nem parece…
É preciso neste ponto destacar alguns detalhes estratégicos dessa realização descrita em Atos que ficaram tão evidentes para mim naquele dia:
- ninguém considerava o que era seu como seu;
- quando alguém necessitava de algo, AQUELE que tinha lhe dava;
- isso era feito assim sem nenhuma pressão ou obrigação – era o Espírito (a era dEle tinha iniciado de forma cabal) que orientava, convencia, fortalecia, encorajava a cada um no seu interior!
Desta forma, também, um poder agregador cada vez maior e mais forte era gerado: famílias, comunidades, cidades inteiras foram sendo transformadas. Os que detinham o velho tipo de poder diziam que “eles estavam transtornando” o mundo, isto é, pondo-o ou virando-o (segundo as palavras originais) de cabeça para baixo.
Que frase mais perfeita: nenhum necessitado! Que profundo bem que ela traz à alma cansada de “carregar o mundo nas costas”!
Hoje, quantos pobres há no mundo? Onde foi que este movimento estagnou, movimento que poderia ter curado este mundo pandêmico? Será que ainda é possível – em nossos dias, hoje?
Foi lá naquele gramado nos meus vinte e poucos anos que eu a tive a visão em minha mente, e nunca mais pude esquecê-la. Vi uma obra-prima completa, funcionando e maravilhando a todos, até aos mais toscos, até alguém “rude” como eu.
(Extraído do nosso livro/e-book Restauração Acontecendo, Parte I – A descoberta do que falta)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]