Instituto Hélio Amaral organiza mais uma edição da ‘Fogueira de São João’
CARATINGA- No dia 23 de junho, às 19h, acontece no Instituto Hélio Amaral (IHA) mais uma edição da ‘Fogueira de São João’. O evento tem por objetivo resgatar a tradição da festa junina, com muita dança e comidas típicas. As duas fogueiras que irão aquecer os participantes, já estão montadas no local.
‘VIAGEM’ PELA HISTÓRIA
Para falar sobre o evento e um pouco sobre a cultura desta festividade, o DIÁRIO conversou com Hélio Amaral, que fez uma verdadeira viagem pela história, lembrando fatos curiosos que trazem explicações para a tradição.
Ele afirma que quando fala sobre a ‘Fogueira de São João’, gosta de lembrar sobre o culto do fogo na história da humanidade. “Evidentemente dentro da evolução, desde épocas remotíssimas, que nós não sabemos nem quando. A humanidade sempre se preocupou com o fogo, por causa dos vulcões, antigamente tinha até mais do que hoje, a terra teve época que tinha vulcão para todo lado. O homo sapiens já está na terra pelo menos 100 mil anos, mas, provavelmente já encontraram vestígios de 200 mil anos. E o homem vivia em contato com o fogo, o vulcão nascia do interior da terra. O homo sapiens antigo achava que era fogo das divindades que moravam no interior da terra. E o homem sempre tentou dominar o fogo, ‘dominar’ significa usar o fogo, por exemplo, com uma fogueira na boca da caverna, para não deixar bicho perigoso entrar ou para cozinhar. E fazendo cultos religiosos para que o fogo não acabasse com a terra e fosse benéfico”.
Hélio Amaral ainda explica que historicamente o sol sempre foi ligado ao fogo. “No norte da Europa, a região é muito fria. Em dezembro chega o máximo do inverno e se fazia o novenário para que o sol não fosse embora, pois eles falavam que estava só esfriando o sol poderia desaparecer. Criou-se dentro do Cristianismo inclusive o hábito de todos os anos em dezembro fazer o culto do sol. Pouco a pouco os cristãos arranjaram explicação melhor: o sol é Jesus Cristo. O papa ligou a festa do sol, que era uma divindade, a divindade agora é Jesus. Então, Jesus nasce no dia 25. É simbólico, que a data verdadeira do nascimento de Jesus não se sabe. Quando os europeus vieram pra cá, questionaram: ‘Que dia fazer a festa? Porque 25 de dezembro aqui é calor’. Então, eles passaram a fazer a mesma festa em junho, que é São João Batista. Começaram a fazer a mesma festa do natal com outras características aqui na América”.
Sobre a tradição da Fogueira de São João, ele conta uma lenda. “Nossa Senhora e Isabel (mãe de São João Batista) estavam grávidas. Isabel falou para Nossa Senhora: ‘Prima, presta atenção. Quando o meu filho nascer vou acender uma fogueira no alto dos morros para te avisar. Você vê a fogueira acesa e vem’. Assim teria nascido esta tradição”.
O RESGATE DA CULTURA
As fogueiras começaram a ser realizadas no IHA logo quando ele foi inaugurado no ano de 2004. O motivo é especial e está diretamente ligado à vida de Hélio Amaral. “Me mudei para Caratinga no ano de 2003, inclusive foi o ano que fiz até a defesa de doutorado. Uma das coisas que eu quis restaurar foi a ‘Fogueira de São João’, porque dentre outras razões, tem a ver com a minha vida pessoal. A primeira festa que eu fui que me lembro com cinco ou seis anos de idade foi a ‘Fogueira de São João’, na casa de um fazendeiro vizinho nosso, lá em Entre Folhas”.
Ele se recorda com saudade a época em que estas festas faziam parte da cultura da população. “No meu tempo de criança tinha fogueira para todo lado, era realmente uma tradição, todo fazendeiro mais ou menos abonado fazia fogueira, com dança, quadrilha. A dança da fita ainda não era muito conhecida na região. O principal era mesmo a comida típica, broa, pé de moleque, canjicão, quentão e a dança ao som do sanfoneiro. Ficava a noite inteira dançando no terreiro, não tinha asfalto, era muita poeira, não é época de muita chuva. Essa é a grande tradição, está na cabeça de todos os antigos. Fogueira, a sanfona e a comida típica”.
Hélio Amaral ainda relembra a origem de algumas danças que são realizadas durante os festejos juninos, como a quadrilha. “É uma dança da Aristocracia, não é do povão. Veio para o Brasil imitando a corte francesa, é uma dança de corte, por isso que tem todos aqueles salamaleques. Foi adaptada à nossa situação aqui de pobreza e simplicidade. Já dancei danças de quadrilha ainda com as chamadas francesas, hoje a gente não vê. Se usa frases francesas, mas talvez o pessoal não entende. A quadrilha foi desenvolvida aqui entre nós e outras lembranças, como o caso da dança da fita, que tem mais característica cabocla, os índios é que gostavam”.
Para o diretor do IHA, a festa é uma mistura racial, envolvendo a corte, os negros e o índio. “É muito rico. É triste se pensar que teve época que Caratinga fez belíssimas festas e hoje isso não acontece mais. Caratinga faz questão de celebrar o dia da cidade na Festa de São João, mas a festa da cidade de Caratinga deveria ser em fevereiro, 7 de fevereiro foi a emancipação. Mas sempre seguiu essa ideia e acho ótima, fazer a festa no dia do padroeiro, porque quem doou as terras para fundação da cidade foram João Caetano, João Antônio de Oliveira e João José da Silva, foi uma homenagem a eles”.
A FESTA
A festa que acontece no dia 23 de junho terá ampla programação, conforme detalha. “Começamos a noite de São João com hasteamento da bandeira, tendo alguma autoridade aqui é ela que faz. A primeira vez foi o prefeito da época, ele inclusive inaugurou o museu, em 2004. Provavelmente esse ano quem vai fazer o hasteamento da bandeira é o Onair, porque ele está fazendo 90 anos. Depois disso, acontecerá a quadrilha com todos os passos tradicionais. Em seguida, tem a dança da fita. Teremos ainda três cantores para distrair o povo aqui até tarde da noite”.
Hélio Amaral enfatiza que o evento é aberto ao público e relata as dificuldades para manter o trabalho que é desenvolvido. “A entrada é franca, faço questão de deixar claro que o Instituto não recebe incentivo nenhum, para nada. Estamos zero mesmo desde o ano passado. Tem gente que acha que aqui é rico, mas aqui infelizmente é isso, sustento isso aqui com a minha aposentadoria que é muito ruim. Todo mundo sabe que a aposentadoria só está caindo, agora Michel Temer já avisou que o salário mínimo vai cair em 2019 de novo. Como não temos incentivo fazemos tudo de graça e geralmente se vende a comida típica, para ter pelo menos um retorno. Mas, é tudo preço barato, se tiver muita gente vendemos e resgatamos um pouco do dinheiro”.
Ele finaliza deixando o convite. “Pode vir, chega a hora que quiser e vai embora a hora que quiser. Vai ter muita atração”.