Conhecido como Palhaço Mexerica, artista fala sobre desafio de sair do humor e interpretar personagem complexo
CARATINGA- Renato Gomes, ou melhor, o Palhaço Mexerica, é uma figura conhecida nas ruas de Caratinga, onde suas performances vibrantes arrancam sorrisos de crianças e adultos. Agora, aos 57 anos, ele se prepara para um novo desafio: dar vida a Seu Jorge, um personagem denso e repleto de nuances no filme ‘Tudo que é Sólido’, produzido em Caratinga. Renato recebeu a reportagem do DIÁRIO em sua casa, um espaço que transborda criatividade, com fantasias, máscaras e uma vasta coleção de mais de 2 mil DVDs, fruto de uma paixão antiga pelo cinema.
“Na verdade, filme sempre esteve presente na minha vida, desde criança. Eu assistia a filmes de vampiro com Peter Cushing, Christopher Lee, e o clássico ‘King Kong’. Depois, me viciei em comprar DVDs, e hoje tenho essa coleção imensa,” conta Renato, mostrando o cantinho onde guarda suas relíquias cinematográficas.
O artista brinca com o seu alter ego, o conhecido palhaço. “Tecnicamente falando, acho que nasci palhaço. A tinta é só pra ter aquela desculpa, eu posso brincar com você. O Renato acho até meio chato, sabe? Mas o Palhaço Mexerica, dá pra brincar com ele. E com o Renato corro o risco de tomar uma pancada”.
A trajetória de Renato começou bem longe das câmeras. Carioca de nascimento e “cidadão do mundo”, como ele mesmo se define, já morou em várias cidades antes de se fixar em Caratinga. Trabalhou vendendo produtos de limpeza e, mais tarde, em uma loja de música, onde surgiu a ideia dos Doutores da Alegria. Foi nesse momento que nasceu o Palhaço Mexerica. “Ao longo do tempo tive a necessidade de criar personagens por causa de trabalho. Comecei a vender bombom, meio que copiei aqueles meninos de rua sabe. E comecei a criar outros personagens para trabalho, mas, todo personagem que crio serve também pra alegrar as pessoas. Por, exemplo, se você tiver uma festa de rua que precise de palhaço ou de personagem mas for uma festa que você não tenha fins lucrativos, pode chamar o palhaço Mexerica, vou lá, não cobro nada. Agora se for uma festa de aniversário já é outra história”, explica, com o tom divertido que é sua marca registrada.
Renato já participou de diversos curtas-metragens antes de sua estreia em um longa. “Tudo começou com o Ton Silva, porque eu precisava criar coisas para os doutores da alegria. E alguém falou, olha, tem um camarada que mexe com filme aí, já gravou até com o Wagner Moura. Conversando com ele criamos uma amizade. Passou um tempo depois, me convidaram para fazer uma participação num curta-metragem, “O Cineasta” se não me engano. Fiz uma participação no Danilo, do Ton Silva. No “Keven”, que eu era o pai do meu próprio filho, Michael Jefferson. Fiz o “Kamehameha”, que eu era um pescador e “Se foi Maria””.
Ele faz questão de destacar que a produção audiovisual sempre foi na luta. “A gente sempre trabalhou na guerrilha. Na guerrilha não tem dinheiro, entendeu? A gente ia lá, gravava, passava raiva, fazia raiva, e dependendo da situação, a gente ficava horas e horas. E um parceirão também que tenho que destacar, o Marklano, que é uma pessoa que mora no meu coração,” relembra.
Confirmado no filme ‘Tudo que é Sólido’, produzido em Caratinga, Seu Jorge é um personagem que exigiu esforço até mesmo para conquistar o papel. Renato precisou fazer testes e reclamar de uma colega fictícia que tomou seu emprego. Ele relembra com humor o momento em que conquistou o diretor: “O personagem do seu Jorge era meu desde o ano passado, mas, tive que participar do teste. Nesse roteiro eu tinha que reclamar de alguém que tomou meu emprego, que era a tal da Celina Maia. Só que de repente eu falo assim: “Quem esse tal de André Rigal, Regal, Regale? O André deu uma gargalhada tão gostosa. Dentro de mim pensei assim: passei. Ele gostou e, abençoadamente, eu passei no teste”.
A transição do humor para um papel dramático é significativa, mas, não o intimida. “O Seu Jorge está sendo um desafio, porque tenho 57 anos, o Seu Jorge tem 50. Só que, para aquelas pessoas que me conhecem, sabem que sou muito moleque. Não apenas por ser o palhaço Mexerica. O palhaço Mexerica é só uma desculpa. O seu Jorge é sério. E é um camarada que é sério, mas ao mesmo tempo tem um passado. Tenho que interpretar de uma maneira mais concisa, séria. Um cara mais novo do que eu, mas, mentalmente mais velho do que eu. Mas, tenho ajuda do Márcio e do André. É um novo desafio que estou fazendo e acredito que vai dar certo”.
Com diversos projetos pela frente, Renato continua sonhando. Ele faz parte do Cinema na Comunidade e do Artecine, iniciativas que buscam democratizar o acesso ao audiovisual em Caratinga. Ele também fala com entusiasmo sobre seu desejo de interpretar o personagem Black Sparrow, inspirado no icônico Jack Sparrow de Johnny Depp. “Ainda quero fazer o Black Sparrow, mas a dificuldade é encontrar a roupa certa. Não pode ser fantasia de Halloween, tem que ser algo próximo do original.”
Renato conclui com otimismo sobre o futuro. “Tem muita coisa vindo aí com a Lei Paulo Gustavo e outros incentivos. Quem não conseguiu entrar nesse filme, não desanima! O cinema em Caratinga está crescendo e inclusive preciso citar o Vinícius Cazuza, apesar de mais novo do que eu é um pai pra mim, não apenas financeiramente falando, mas, uma pessoa de coração imenso.”
Seja como Palhaço Mexerica ou como o intenso Seu Jorge, Renato Gomes prova que talento e paixão não têm limites. Ele é um artista que não apenas transforma, mas também inspira, seja no riso ou no drama.