Por entre meus dedos, escoam meus cabelos. A cada toque, uma mecha é retirada, e levemente se esvai pelo ralo do banheiro. Acho que é sinal de uma nova vida, talvez eu realmente tenha que deixar para trás velhas atitudes, velhos pensamentos, velhos amores, velhas opiniões. É sempre assim não é? Quando deseja-se mudar, o cabeleireiro é o primeiro a ser consultado, qual será o novo corte de cabelo? O que está em alta? Talvez nesse momento, esteja em alta renovação, esteja em alta a vida, novos ciclos. E nesse ciclo, o cabeleireiro não precisa ser consultado, pois ele não interferirá na escolha do visual, ele já está escolhido.
Cabeça lisa, ou como é conhecida, a velha careca, que no meu caso, nem tão velha é assim. Mas, até onde sabemos, a careca é sinal de experiência, não é mesmo? Ela geralmente aparece, quando os homens -na grande maioria- chegam a uma determinada idade; comigo, bem, não será assim. Não precisarei esperar tanto tempo para conhecer a sabedoria e beleza de uma careca, sou mulher e tenho 43 anos, e sim, serei careca.
Não se assuste, eu já me assustei muito, por vezes chorei e continuarei a chorar provavelmente, mas a careca, ela será o divisor de águas da minha vida, ela irá me marcar em uma nova fase da minha vida, sim da minha vida! Pois viver, eu viverei por muitos anos, viverei até ver meus cabelos, crescerem novamente.
Olha que lindo? Eu viverei o processo reverso, muitos precisam envelhecer para assumi-la e junto dela, as marcas e ensinamentos que a vida os deu, e logo após tantas vivências, irão embora. Eu não, vou assumi-la e junto dela, meus princípios de “pés de galinha”, minhas primeiras rugas e flacidez, meus primeiros “calores” da menopausa, logo após, verei a vida renascer pelos meus fios de cabelo, eles irão nascer e trazer novos horizontes, novas experiências, novos sorrisos, novos amores. E ah, a careca? Pois bem, ela será meu renascimento!
Tayrine Vaz
Estudante de jornalismo na UFMG