Monir Ali Saygli
“Não penses; se pensares, lembrarás; se lembrares, arrependerás”!
Essas são sábias palavras que poucos de nós, às vezes, analisamos. Você, amigo leitor, já esteve alguma vez a pensar sobre coisas passadas? Se essas foram boas, naturalmente, você se lembrará, com saudade, e, na certa, estará arrependido de ter se lembrado de coisas a que renunciou. Entretanto, se foram más, você, hoje, com tudo mais claro, estará arrependido de ter errado tanto. E assim é a vida, e assim é a nossa história.
Com saudade, lembro-me do meu passado, na minha terra natal, uma cidadezinha do interior do leste mineiro, hoje com uma área de 1.251 km2 – onde a vida foi sempre um prazer que se repetia a cada instante.
Como “da natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, também minha querida terra foi se transformando; sua população foi se multiplicando, novas lojas foram surgindo, um lindo jardim, com suas palmeiras imperiais foi conservado, alguns jornais foram fundados, surgiram as rádios (pelo menos três), as emissoras de televisão (no total de quatro), belas igrejas edificadas, o Palácio Episcopal, as principais ruas asfaltadas, pontes modernas, o cinema voltou a funcionar, uma estação rodoviária mais moderna, voos regulares de avião, cemitério bem cuidado, uma penitenciária (em substituição à velha cadeia), ótimos clubes sociais e de serviços, várias entidades de classe, praças de esportes particulares e públicas, inúmeros estabelecimentos de crédito, um novo Fórum, eficiente Justiça do Trabalho, Juizado de Pequenas Causas, incontáveis estabelecimentos de ensino públicos e privados, destacando-se três entidades mantenedoras de cursos superiores, somando-se às escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, além de tantos cursos particulares em pleno desenvolvimento, duas Academias de Letras, algumas ONGs, fábricas e comércio em alta escala – coisas indispensáveis na comprovação do progresso experimentado ao longo dos anos, em substituição a tantas perdas sofridas.
Quem não se lembra da Cia. São Geraldo de Viação, da Petisco e Mara, do Cine Itaúna, do Colégio Nossa Senhora das Graças e da Escola Normal Nossa Senhora do Carmo? E dos tipos populares, que davam vida à cidade? O primeiro a ser lembrado é o Profeta (que morreu afogado no Rio Caratinga), o Zé Boi (funcionário do Sr. Antônio Catucá), o Geraldo Bituta (trabalhando para o Sr. Alan Coutinho), a Joaquina Goiaba (a alegria das nossas ruas), o Zé Folha Seca (dono do mundo), o Geraldinho Doido e muitos outros – que partiram sem dizer adeus e que deixaram saudade dos bons tempos em que todos eram amigos na pequena cidade.
Eram pobres e inocentes figuras que cumpriam seus destinos e não eram compreendidos pelos “gozadores” que não previam o dia de amanhã e a lei do retorno.
Por outro lado, temos as figuras notáveis de nossos antepassados e mesmo de alguns contemporâneos que merecem a nossa lembrança e os nossos aplausos. As famílias Bomfim, Polastri, Valladares, Coutinho, Etienne Arreguy, Motta, Chálabe, Sales, Salim, Leite de Mattos (o Robinson, tocando gaita e cantando a canção escoteira “Ongle, Ongle”), Theodoro, Paula Maciel, Tavares, Godinho, Moreira, Schettini, Fontoura, Pereira e tantas outras que merecem nossas homenagens (peço desculpas pelas omissões).
Caratinga, hoje, é considerada não mais aquela pequena cidade mencionada no início deste artigo, mas uma grande cidade, de tantos intelectuais – que divulgam seu nome pelo mundo das artes e da literatura.
Mas que saudade sentimos das pequenas coisas que vivemos e dos bons amigos que nos deixaram.
Como nos esquecer do nosso futebol? Nossa Cooperativa de Leite? Nosso Cine Brasil? A Típica José Belegarde? E tantas outras organizações que não voltam mais . . .?
Eu penso e me lembro; lembro-me e me arrependo de não estar vivendo hoje aqueles inesquecíveis dias – que não soubemos bem aproveitar, pois pensávamos que nunca acabariam.
Era muito saudável brincar de pique, jogar birosca, soltar papagaio, jogar precipício, peteca, as peladas no meio da rua, passar anel e até brincar de roda com as meninas do bairro.
Assim é a vida e assim é a nossa história. Muitas alegrias, muitas tristezas e decepções, mas a vida continua e muitas coisas serão transformadas.
Um comentário
Márcia Polastri
Que saudades !!! este artigo me ex voltar no tempo ,trouxe lembranças inesquecíveis ,do skini,dos bailes do clube América e Caratinga , do seu Quizin, e da Querida ,lembra dela ? 😊