“Lidar com a maldade assumida é bem mais fácil do que com a bondade simulada.”
(Pe. Fábio de Melo)
* Verônica Cristina Côco dos Santos
Desejos. Frustações. Inveja. Maldade. Mediocridade. Hipocrisia. Sentimentos que são inerentes à condição humana, contudo cada um decide como eles irão manifestar-se. A forma como lidamos com nossas emoções, nossos desejos individuais, influencia, mesmo que indiretamente, o coletivo. Destarte, precisamos ficar alerta e não permitir que o outro seja atingido por nossas decisões. Na verdade, convivemos com um inimigo cruel que está presente entre os homens desde a criação: a maldade humana! Essa, que se apresenta em faces múltiplas, revela o que o homem tem de pior em si e o que nutre pelo outro.
Há séculos estudiosos tentam definir a maldade humana em sua essência. Em seu texto “A estupidez e a Maldade Humana”, José Saramago declarou que: “se a olharmos de perto, a humanidade (tu, ele, nós, vós, eles, eu) é, com perdão da grosseira palavra, uma merda.”. Enquanto Thomas Hobbes configura a natureza humana como perversa. Já Nicolau Maquiavel declarou que “o homem é mal por natureza, a menos que precise ser bom”. Entretanto, Santo Agostinho afirmou que, “sendo o homem imagem e semelhança do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar”. Assim como o filósofo Jean-Jacques Rousseau, “que acredita ser o homem bom por natureza”.
Nessa perspectiva, no conto “O homem, a serpente e a pedra”, há um relato metaforizado através das relações estabelecidas pelas personagens mostrando-nos que a maldade humana não tem limites e que, ao lado dela, caminhando de mãos dadas, está outra mácula do ser humano: a inveja! Esse sentimento perverso, um dos mais renegados dos sete pecados capitais, é capaz de escurecer o coração do homem e impulsioná-lo a cometer o que há de mais impuro e sórdido.
A inveja não é um sentimento que surgiu na contemporaneidade. O primeiro caso foi relatado na Bíblia, entre Caim e Abel. Nele, fica explícito que tal sentimento é um misto de ódio e desgosto provocados pela alegria do outro, pelo desejo de ter ou destruir o que é de outrem. A inveja é amarga e contamina tudo que dela se aproxima. A mediocridade da vida de quem inveja, faz aflorar nele o que há de pior, imundo, insano!
Maldade, inveja e a decepção fazem parte da vida. Aprendemos com nossos erros, mas, nem sempre é possível identificar tais situações. Somos submetidos a provações constantemente e, por isso, devemos decidir a melhor maneira de nos relacionarmos com elas. Cabe a nós a decisão de exprimirmos nossas fraquezas ou potencializarmos nossa pró-atividade, nossa coragem de lutar e emergir.
E vamos aprendendo, pois a vida nos ensina a reconhecer as várias faces da maldade humana, da forma mais cruel: na pele. O mal pode se personificar de um anjo demoníaco e manipulador, um vampiro invejoso que vive da fraqueza e sofrimento do outro. Sendo assim, com dor, aprendemos as lições que a vida insiste em ensinar. Percebemos o momento certo de falar, calar, agir, atacar, recuar. Entendemos também que nem todos são dignos de confiança.
Com o tempo, compreendemos que nossos sonhos e pensamentos devem ser apenas nossos, porque a boca tem o dom da profecia, mas também da desgraça, quando desperta a inveja daqueles que não sabem buscar para si a felicidade, pois somente se iludem que são felizes em querer o que é do outro. Por isso, é preciso aprender que os sonhos devem ser desejos ocultos, aprender que não devem ser compartilhados, não por egoísmo, mas por segurança.
É preciso blindar-se, pois o parvo não se revela, porque: “A gente confessa ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação.”, como afirma Otávio de Carvalho, em seu relato na “Dialética da inveja”.
Nessas múltiplas possibilidades de contextos, diante de tantos cenários, é possível até entender que Brás Cubas comemore ao finalizar suas memórias, afirmando que “Ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”…
Todavia, não devemos nos anular pelo outro, mas sim descobrir-se, mesmo a duras penas, que a vida ensina e que aprendemos com as nossas experiências. É preciso viver. Viver e aprender a essência humana. É preciso amar sem medo, apaixonar-se todos os dias pela mesma pessoa, entregar-se, arriscar-se, enfrentar as vicissitudes, superá-las e seguir em frente, com a certeza de que se tudo fosse perfeito, não passaria de apenas mais um momento. Mesmo com todas as discordâncias quanto à verdadeira essência humana, não devemos endurecer nossos olhos e corações.
Nunca desanime! Viva, aprenda, pois mesmo com todos os obstáculos e feridas, acredite que é possível vencer! Lute, chore, escureça-se! Não se amedronte, porque, ao final, estaremos de pé, mais forte do que ontem e com a esperança de um novo amanhã.
* VERÔNICA CRISTINA CÔCO DOS SANTOS, Graduada em Letras pela FAI-PA. Pós-graduada em Língua Portuguesa pela Universidade Castelo Branco – RJ, Especialista em Revisão Textual pela Faculdade Unyleya-DF. Trabalha, atualmente, como professora de Redação e Língua Portuguesa da Escola “Professor Jairo Grossi”, docente do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário.