Esta semana, a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA entrevistou a secretária de Saúde, Raquel Carvalho Ferreira. Ela é casada com o professor universitário Arthur Carvalho Ferreira, e mãe de Sara, 11 anos e Laura, 10. Raquel é também professora no Centro Universitário de Caratinga (UNEC).
No dia 16 de fevereiro assumiu o grande desafio de gerir pasta de Saúde. Uma mulher de muita garra e competência, não é política, mas sim técnica. Tem revolucionado o setor em Caratinga com o Mutirão da Saúde em Movimento, onde cada bairro recebe vários profissionais com objetivo de reprimir a demanda de consultas e exames. Com muita tranquilidade e grande conhecimento, Raquel esclareceu muitos pontos sobre a saúde no município, tratou de assuntos polêmicos como a situação do PAM e do hospital, além de falar das frustrações e realizações que já teve à frente da Secretaria.
Como surgiu o convite para ser secretária de Saúde? Foi feito por quem? Quando assumiu?
Através do prefeito Marco Antônio e também do professor Antônio Fonseca, do UNEC, que na verdade foi quem me indicou e assumi o cargo em 16 de fevereiro desse ano.
Como estava a Secretaria de Saúde quando assumiu?
Devido às dificuldades em relação à falta de recursos impedindo que as ações fossem efetivadas e pelo fato da prefeitura ter ficado um período em dificuldades financeiras no ano passado, isso acarretou na demora em relação à marcação de consultas e liberação de exames. Isso deu um sufoco a Secretaria, uma demanda muito grande de atendimento reprimida e o município sem condições de atender. Alguns projetos foram surgindo e no início do ano as coisas foram clareando, e conseguimos, pelo menos, sanar as principais demandas reprimidas que estavam na comunidade.
A senhora ou sua família é política? A senhora é filiada a algum partido político?
Não. Sou técnica e ninguém da minha família é político, não pertenço a nenhum partido.
A senhora ficou frustrada por não conseguir realizar algo na Saúde?
Sim. Não poderia falar de um especificamente. Às vezes as demandas de áreas são tantas que deixamos de desenvolver grandes projetos que poderíamos escrever, colocar em prática e conseguir muita coisa. Mas aqueles problemas que vão acontecendo no dia a dia, ver uma necessidade numa comunidade, serviço que não está funcionando de forma adequada, de um mau atendimento em relação aos usuários, que você tem que estar à frente resolvendo, nos impede de criar mais projetos para melhorar a Saúde e isso é um pouco frustrante, acabo me esbarrando nessas coisas cotidianas.
Sentiu-se realizada com que ação?
Quando entrei na Secretaria vi aquela quantidade de demanda: mais de três mil raio-x na fila de espera, seis mil pacientes aguardando consultas com médicos especialistas, outros exames. Quando pensamos que precisávamos fazer algo para resolver, implantamos o Mutirão de Saúde em Movimento, que tem sido um projeto positivo. Ele vem crescendo a cada dia, a cada comunidade oferecemos um serviço, integramos novas ações. Ficamos felizes com esse projeto, tivemos apoio do UNEC e trouxemos uma resolutividade para população.
O que acha da estrutura do PAM?
O PAM é um Pronto Atendimento Microrregional, não apenas municipal, é a porta de entrada do SUS para o Hospital Nossa Senhora Auxiliadora. Passamos por grandes dificuldades, porque o que se recebe de receita não é suficiente, é menos de 50% do custo, mas o PAM é um escape para a população, são seis mil atendimentos por mês, recebe todos pacientes politraumatizados de acidentes, a microrregião, que são 13 municípios, utiliza o serviço, que deveria ser apenas urgência e emergência, mas acaba sendo também de atenção básica, 40% dos atendimentos é atenção primária. Determinado paciente poderia ter recebido atendimento numa unidade básica de saúde, num PSF. Hoje temos mais 40% da população no PAM que deveria estar atendida num PSF. Nos finais de semana, a demanda aumenta muito, PSF não está funcionando, mas há muitos casos que o paciente vai direto ao PAM, isso sufoca realmente, ele nem chegar procurar em seu bairro um atendimento. Já tentamos reduzir o custo, mas não foi possível, a procura é grande, as pessoas criticam muito o PAM, mas ninguém fica sem ele. Tivemos uma reunião com os prefeitos, nem todas as prefeituras arcam com custeio, sabemos da dificuldade que todas estão, a arrecadação caiu muito e para nós agora que estão caindo recursos referentes a 2014 de alguns programas. Entendemos a situação, mas é questão de prioridade. Às vezes o prefeito vai deixar de fazer uma obra ou outra ação para priorizar a saúde. Se isso acontecesse manteríamos o PAM com uma qualidade melhor. São três plantonistas, um médico específico para emergência, que fica com oito pacientes e um grande número de enfermeiros. Temos um grande suporte também, se precisar de internação desce para o hospital, tem raio-x laboratório, UTI, tomografia, então é todo suporte que o PAM oferece. É preciso refletir isso e dar credibilidade, defender isso, o PAM é muito importante para população. Quem dera se a população fosse igualitária, mas a grande maioria usa SUS, PAM e hospital. Ainda temos o PAI – (Pronto atendimento Infantil). A criança entra pelo hospital, são dois pediatras 24 horas atendendo, tem ambulatório, todo atendimento é feito ali. Fausto Pereira, secretário estadual de Saúde, disse que lugar nenhum funciona o PAI como aqui. Já teve dia de atender 200 crianças. Começamos com um pediatra, mas não teve jeito, estamos mantendo sem recurso e ninguém fala nisso.
A verba da Saúde é administrada pela secretaria?
Pelas secretarias de Saúde e de Fazenda. A Fazenda controla todas as contas. Os recursos vêm em blocos, pelo Fundo Nacional da Saúde e aí tem a distribuição, alguns recursos são carimbados e contamos com 15% de recurso próprio.
A construção da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) pode melhorar esta demanda?
Não vejo a UPA como solução para sanar o déficit financeiro, ela pode trazer sim uma maior qualidade do serviço, terá ambiente melhor e adequado. Em relação ao déficit financeiro não. Hoje o governo federal está reavaliando toda esta forma de custeio de UPA. A UPA tipo II, que é a de Caratinga, é por conta do município, não tem recurso federal. Em relação a custos, a princípio não melhora. Existem UPA’s funcionando com déficit muito grande.
Qual a sua avaliação sobre a condição do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora?
Como secretária acompanho muito, por ser gestão plena, é uma situação da mesma forma do PAM, conta com mais de 60% de déficit mês, uma hora não tem como atender, uma empresa não fica aberta com esse déficit, é o grande problema de todos os hospitais filantrópicos e santas casas do Brasil, não tem custeio. Então o que tem sido feito até agora, que foi um grande ganho, foram os credenciamentos necessários para que tivéssemos esse custeio. Hoje o hospital junto com UNEC e igreja, vai até o estado, a União com os credenciamentos, que ajuda muito. Existe uma portaria de 2012, que dava ao hospital através da maternidade um recurso para que fosse habilitada na rede cegonha e seria muito bom se viesse, que iria custear a maternidade, que só se mantém dessa forma. Ela custeia, porque tem que ter UTI neonatal e adulto, obstetra, pediatra, fisioterapeutas, escala de 18 horas nas UTIs, salas de parto e fonoaudiologia. Em dezembro de 2014, o hospital conseguiu se habilitar na rede cegonha, então isso foi um ganho muito grande, porque agora temos o direito de reivindicar. Isso porque existe toda uma articulação política, do UNEC, hospital, e dos deputados Adalclever e Mauro Lopes para avançar para que o recurso chegue mais rápido pelo governo federal. Além disso, encaminhamos na semana passada toda documentação para a Superintendência Regional de Saúde e para o Estado também, todos os relatórios em relação ao custo real e receitas, solicitando uma nova contratualização para que o teto do convênio do SUS, possa alcançar valor maior. Sem esses recursos ficamos numa situação difícil, como estamos. As emendas parlamentares são importantes, mas são para compra de equipamentos, reforma ou construção, não pode ser usada para custeio, mas é muito importante. Mas temos buscado o custeio.