Nossa velha senhora mais que centenária estará sendo cortejada por inúmeros pretendentes. Promessas e juras de amor eterno, afagos, declarações emocionadas, lágrimas e sorrisos, apertos de mão, abraços, olhares, desejo e paixão. Encontros românticos, eventos ao luar, contato com a terra, e tudo o que vier. Agendas lotadas e a ânsia de um afago e muitas emoções. Vale tudo para conquistá-la, agradar seus filhos “órfãos”, beijá-los, acariciá-los, pedir um café e sentar para um dedo de prosa.
Vale até se assentar no terreiro, tomar um café em talheres simples, beber água de mina, comer uma goiaba ou chupar uma laranja, pegar o prato esmaltado e comer um feijãozinho cozido com carne de lata ou de sol. Vale também oferecer recompensa, favores, prestígio, indicação, trabalho, consulta, conta de luz, isenção de IPTU, escrituras de lotes invadidos e irregulares, patrol no campo, médico a toda hora, remédio de graça e muita bonança.
Vale também caminhar sob o sol escaldante, acenar e sorrir em demasia. Brincar com o cachorro subir e descer ladeiras inúmeras vezes sem cansar. Vale também prometer aquilo que não tem jeito e aquilo que nunca foi cumprido por descaso dos amores do passado dessa velha senhora. Quantas histórias de amor vividas e lembranças que o tempo não apaga deixando boas e más recordações. Desilusões, paixões não correspondidas, traições emoções de todo tipo.
Vale conhecer a família numerosa e tentar de alguma forma fazer um agrado. Conquistar seus filhos e com isso ter o amor da mãe. Ser bem aceito e com isso apressar o “casório” porque é preciso sacramentar a união, haja o que houver, aconteça o que acontecer, a paixão desmedida ou mesmo platônica carece de carinhos e de receptividade.
Tem também os padrinhos. De preferência pelo tamanho dessa velha senhora que seja de no mínimo quinze. Eles e seus pares estarão e se farão presentes em todos os momentos dessa prometida união feliz. Trarão presentes belos e também promessas vãs más recheadas de romantismo e na hora do sim, no altar, farão pose para as fotos em ternos bem alinhavados, comerão do bolo, beberão, se fartarão e depois aos poucos desaparecerão como que esquecidos daquela que seria a grande união.
E… depois de quatro anos, após um relacionamento conturbado, essa velha senhora de 168 anos estará em apuros porque aquele amor de outrora não existe mais. Pode até se esforçar e tentar por mais uns quatro anos tentando remendar um amor não correspondido e aquelas promessas maravilhosas de felicidade eterna se transformam em agonia e no afã de se ver livre desse tormento abre mão dessa união e recolhe-se em “luto” não acreditando mais em ninguém e não achando mais graça em nada.
Os padrinhos sumiram e não estão nem aí se vai haver divórcio ou não. Querem mais é serem convidados e “aceitos” como padrinhos de uma nova união pouco se importando com o que foi feito com essa senhora. Ela, já combalida, descrente, quando cortejada de novo fica meio ressabiada e mesmo que sem curar as feridas ainda abertas no seu coração se vê na necessidade de seguir com a vida, carente, só, vai de novo para a janela e com olhar fito no horizonte sonha com um lindo príncipe encantado que de preferência passe num lindo cavalo branco e com um olhar apaixonado a corteje de novo. E aí, como num passe de mágica mergulha num mundo de ilusão e êxtase se deixa levar por novas promessas de amor eterno e seu coração transbordando de esperança acaba por dizer sim e nas mãos do tempo coloca seu destino, seus anseios, suas últimas esperanças de um dia realmente poder voltar a ser feliz.
Álvaro Celso Mendes
Graduando em Direito pela FIC
Caratinga